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MST lança 43 candidaturas para as eleições municipais 2024 em Pernambuco

Movimento repete estratégia que elegeu a deputada estadual Rosa Amorim

Giovanna Carneiro / 12/08/2024
A imagem mostra um grupo de pessoas reunidas em um evento público ou manifestação. No centro, dois pares de mãos estão unidas, umas de pessoas que estão de costas para a câmera, à esquerda, e outras da direita, simbolizando união ou solidariedade. Ao fundo, há outros participantes e banners com símbolos do MST e textos, indicando que pode ser um encontro político ou social. Um dos banners tem a ilustração de uma pessoa usando um chapéu vermelho e segurando o que parece ser uma bandeira.

Crédito: Inês Campelo / Marco Zero

Nas eleições de 2022, que marcou a volta de Lula ao cargo de presidente do Brasil, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) pela primeira vez em seus 40 anos de existência apoio candidaturas de seus representantes à disputa política eleitoral. O movimento, que tem 40 anos de existência, lançou 15 candidatos e candidatas em 12 estados, elegendo seis representantes para os cargos de deputados federais e estaduais em Pernambuco, Ceará, Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Em Pernambuco, Rosa Amorim disputou pelo PT e foi eleita deputada estadual com 42,6 mil votos.

Para as eleições municipais deste ano, o MST colocou ainda mais força em seu projeto de ocupar as casas legislativas do país e multiplicou em quase 50 vezes o número de candidaturas lançadas. No dia 9 de julho, em um encontro que ocorreu na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema, no interior de São Paulo, o movimento anunciou mais de 700 pré-candidaturas que irão disputar as eleições de 2024 para prefeito e vereador. Destes, 250 participaram pessoalmente do evento. Em Pernambuco, serão 43 candidatos e candidatas às Câmaras de diversos municípios.

“Historicamente o MST sempre participou, de forma orgânica, das campanhas eleitorais. Mas desde 2021 nós optamos por fazer uma mudança tática e decidimos lançar nomes próprios do movimento para a disputa eleitoral. Isso aconteceu devido à conjuntura política que o Brasil passou a viver no período da pandemia, com um governo fascista e com a extrema-direita crescendo e a gente percebeu que precisava estar dentro dessa disputa também”, declarou o dirigente do MST, Paulo Mansan.

Apesar dos candidatos e candidatas estarem espalhados por diversos partidos, a maioria deles disputam o pleito pelo PT, aliado histórico do movimento, que, além da legenda, oferece apoio logístico e financeiro às candidaturas. O próprio presidente Lula tem uma relação parceira com o MST e reconhece a influência do movimento nas políticas agrárias, incluindo a presença de representantes do movimento ocupando cargos no Ministério do Desenvolvimento Agrário, no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e no grupo responsável por estabelecer os critérios para a distribuição de recursos da safra da agricultura familiar.

A disputa em Pernambuco

Militantes e agricultores assentados são a maioria entre as 43 candidaturas de integrantes diretos do movimento, que vai apoiar outras 21 pessoas aliadas que dialogam e contribuem com a articulação.

A votação expressiva de Rosa Amorim e suas articulações políticas junto a outros assentados e militantes do MST é motivo de inspiração para que surjam mais candidaturas do movimento em Pernambuco, como afirma Paulo Mansan: “Rosa teve praticamente 15 mil votos no Recife e foram votos de pessoas que simpatizam com a luta do MST, que é uma luta histórica em defesa dos empobrecidos, em defesa daqueles que mais precisam, por isso nós acreditamos que temos força para eleger alguns candidatos sim, em especial nas grandes cidades como Recife, Caruaru, Serra Talhada, Petrolândia e Trindade”.

“Mais de noventa por cento dos nossos candidatos e candidatas são do PT, mas temos também alguns do PCdoB, PSOL, PDT e Rede. Todos estes candidatos têm vínculos diretos com seus devidos partidos, mas aqueles que integram o MST nós tentaremos contribuir para que sejam eleitos. Para isso nós temos um grupo da direção do MST que reflete sobre as táticas políticas e ajudam a dar o norte às campanhas”, explicou.

As candidaturas do MST se espalham por diversos municípios do estado, entre eles: Recife, Caruaru, Serra Talhada, Petrolina, Olinda, Santa Maria da Boa Vista, Petrolândia, Moreno, Aliança, João Alfredo, Trindade, Bezerros, Nazaré da Mata e Águas Belas.

Tomás é a aposta no Recife

Uma das principais esperanças do movimento está na pleito para a Câmara de Vereadores do Recife. O nome dos sem-terra na capital é Tomás Agra, advogado e candidato a vereador pelo PT no Recife, conhecido como Tomás do MST. Ele tem uma relação direta com a deputada estadual Rosa Amorim e acredita que a campanha eleitoral realizada por ela em 2022 abriu espaço para que outros nomes do movimento possam ocupar as casas legislativas.

“O MST tem 40 anos de história e demorou muito, foi tarde a decisão da gente entrar na vida política institucional, eleitoral, para ocupar esse espaço do poder. Mas a campanha da Rosa mostrou a força do MST e mostrou também que o movimento tem um acúmulo de grandes feitos em sua história, o que pode ajudar a nossa sociedade a se transformar e a ter pautas importantes nas casas legislativas”, declarou Tomás.

A imagem mostra um grupo de pessoas participando de uma manifestação ou evento público. Caminhando à frente de duas mulheres jovens, está Tomás Agra, um homem jovem, branco, de barba curta e bem feita, usando camisa polo vermelha e um boné vermelho com o símbolo do MST. As pessoas estão segurando bandeiras vermelhas com um círculo branco e um símbolo preto no meio, que é característico do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Brasil. Algumas pessoas estão vestindo camisetas vermelhas com o texto “BRASIL POPULAR” em letras brancas e grandes, sugerindo que este é um evento relacionado a questões sociais ou políticas brasileiras. Além disso, uma pessoa está segurando um instrumento musical semelhante a um chocalho decorado com contas coloridas. Ao fundo, há árvores e prédios altos e modernos, indicando que o evento está ocorrendo em um ambiente urbano.

O advogado Tomás Agra é candidato a vereador do Recife pelo PT

Crédito: Rebeca Martins/Divulgação

“O grande número de candidaturas nas eleições municipais é um reflexo desse um ano e meio de Rosa na Alepe também porque ela está conseguindo fazer um bom trabalho, tem sido respeitada naquele espaço e tem se mostrado capaz, e poder levar essa experiência para as câmaras de vereadores é o nosso objetivo, por isso nós reunimos nomes de diversas cidades que já possuem um trabalho na militância, seja no campo ou na cidade, para lançar na disputa”, acrescentou o candidato, que iniciou sua trajetória na militância através do Levante Popular da Juventude.

Tomás passou a atuar como advogado do MST Pernambuco, estreitando ainda mais os laços com o movimento através da campanha Mãos Solidárias, que surgiu na pandemia da covid-19 para doar alimentos e refeições a população que vive em situação de vulnerabilidade.

Trindade, Serra Talhada e Caruaru

O histórico de militância, sobretudo no que diz respeito à reforma agrária e à agricultura familiar, é o fator determinante para os candidatos e candidatas do MST. E apesar da maioria dos candidatos serem homens, é possível notar que há uma diversidade de gênero nas candidaturas que irão participar das eleições municipais de 2024 pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

Entre as candidatas está Maria José da Silva, conhecida como Zezinha do MST. Agricultora no assentamento de reforma agrária Josué de Castro, esta é a primeira vez que Zezinha participa da disputa eleitoral para o cargo de vereadora da cidade de Trindade. A agricultura é uma das principais articuladoras e militantes do MST na região do Araripe e integra o movimento há 24 anos.

“Nunca tinha me candidatado, mas enquanto liderança do Movimento Sem Terra aqui na região, a gente tem acompanhado alguns amigos e companheiros, e também outras pessoas que são parceiros, que saíram pré-candidatos, tanto para prefeito, como vice-prefeito, como também para vereadores. Tem várias bandeiras do movimento que a gente pode estar defendendo, mas as principais que eu vou estar defendendo aqui no município de Trindade, em relação à política, vai ser valorizar a questão da reforma agrária popular, garantir os direitos do sujeito LGBT e também garantir os direitos das mulheres e da juventude do campo”, declarou a candidata, que é mulher lésbica e filiada ao PT.

Agricultora, educadora popular e militante do MST há mais de 20 anos, Sandra Nogueira disputa o cargo de vereadora no município de Serra Talhada com apoio do movimento.

Com uma vida dedicada à luta pela reforma agrária e pela educação no campo, e representando as mulheres negras que integram o MST, Sandra aceitou o desafio proposto pelo movimento e participará da disputa eleitoral pela primeira vez, uma decisão que, segundo ela, foi bastante desafiadora e difícil.

“Respondendo a um chamado do MST eu coloquei meu nome a disposição para a disputa eleitoral. Entendendo que nosso objetivo é também pensar e articular candidaturas populares, que ajudem a organizar a política, para que chegando lá nesse espaço nós possamos incentivar outros movimentos e outras frentes de luta a ocupar as casas legislativas, porque nós queremos furar essa bolha e aproximar o povo desse espaço”, explicou Sandra.

Foto de Rosa Amorim e Zezinha do MST. As duas são mulheres jovens, negras e estão segurando uma bandeira do arco-íris simbolizando o movimento LGBT. Rosa está à esquerda, usando uma camiseta vermelha, com o cabelo preto preso em coque no alto da cabeça. Zezinha tem cabelos curtos, ocultos pelo boné vermelho do MST e usa uma camisa branca de botões.

Rosa Amorim e Zezinha do MST

Crédito: Divulgação
Foto de Sandra Nogueira, mulher negra de idade madura, com cabelos escuros lisos e compridos por cima dos ombros. Ela usa uma blusa vermelha com brincos em forma de argolas e está olhando fixamente para a câmera.

Sandra Nogueira

Crédito: Divulgação
Foto de Edilson Sem Terra, homem idoso, branco, de cabelos curtos grisalhos. Ele está sorrindo e olhando fixamente para a câmera. Ele usa uma camisa branca de botões, calça jeans e está com o punho fechado e levantado.

Edilson Sem Terra

Crédito: Divulgação

Também com uma história antiga no MST como assentado da reforma agrária, Edilson Barbosa, conhecido como Edilson Sem Terra, concorre ao cargo de vereador no município de Caruaru. Esta é a segunda vez que o candidato disputará as eleições, também pelo Partido dos Trabalhadores. Integrante da direção do MST por dois mandatos e vice-presidente do PT em Caruaru, Edilson está confiante na vitória e se vale da forte influência que o MST tem no município junto com as lideranças da agricultura familiar que atuam no Assentamento Normandia, um dos maiores centros de formação do movimento no Nordeste.

“Apesar de ser uma cidade que tem sim um grande conservadorismo, Caruaru elegeu o presidente Lula com quase setenta por cento dos votos, então o PT tem um prestígio atualmente na cidade. Além disso, Rosa Amorim é do Assentamento de Normandia e tem uma relação direta com Caruaru e recebeu muitos votos aqui, isso com certeza vai ter um peso na nossa campanha”, disse o candidato, que também tem como uma de suas principais propostas a defesa da reforma agrária e dos direitos dos assentados, e o incentivo a agricultura familiar.

O fator Rosa

Foi em Pernambuco que o MST elegeu a representante mais jovem para ocupar o cargo de deputada estadual. Eleita pelo PT, Rosa Amorim recebeu mais de 42 mil votos e teve uma das campanhas eleitorais mais bem sucedidas do país.

Jovem, negra, lésbica, atriz e militante do MST desde criança, filha dos assentados Jaime Amorim – da direção nacional do MST – e Rubneuza Leandro – militante da educação no campo -, Rosa foi eleita aos 25 anos, tendo como mote de sua campanha as causas de luta da reforma agrária, do combate à fome, e do enfrentamento às desigualdades sociais, econômicas, raciais e de gênero, em conformidade ao que defende o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra.

Para Rosa Amorim, tanto a sua chegada até a Alepe quanto o número expressivo de candidaturas nas eleições municipais 2024 são reflexo da mobilização do movimento em suas bases de formação: “é uma avaliação coletiva do Movimento Sem Terra e o reconhecimento de que nesse momento histórico em que o Brasil vive nós precisamos endossar representações que de fato tenham inclinação a luta social para estar nos espaços de decisão política […] Então não é necessariamente só a minha candidatura que incentiva, incentiva também, mas para além disso é uma decisão do movimento sem terra de lançar candidaturas nos municípios de todo o país”.

“Nas eleições de 2022 nós perdemos no Congresso Nacional, no Senado, nas Assembleias Legislativas, nos Governos dos Estados, portanto, o voto em Lula não necessariamente se transfere para um voto em candidaturas proporcionais, principalmente para o legislativo, por isso nós precisamos mudar esse cenário se a gente quer mudar a correlação de forças na sociedade, principalmente no campo da política institucional”, concluiu Amorim.

A deputada estadual tem acompanhado de perto toda a mobilização do MST para as eleições municipais e além de participar de eventos importantes, como o Seminário Estadual Eleitoral que reuniu todos os candidatos do movimento, cumpre agendas de mobilização e planejamento por todo o estado de Pernambuco para fortalecer as candidaturas.

“O nosso trabalho é processual e estamos trabalhando pela vitória. Mesmo que não tenhamos uma vitória eleitoral teremos uma grande vitória política por ter dado esse passo importante na disputa da institucionalidade e da mobilização das nossas bases”, declarou Rosa Amorim.

AUTOR
Foto Giovanna Carneiro
Giovanna Carneiro

Jornalista e mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco.