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Nem Lula calou vaias a Paulo Câmara e Danilo Cabral no Classic Hall

No centro da foco, emoldurada por uma mão fazendo o L desfocada, estão (na ordem da esquerda para a direita): Luciana Santos, de vestido amarelo estampado, Danilo Cabral, Geraldo Alckmin e Lula, todos de camisa branca de mangas compridas.

Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

Ambiente fechado não é sinônimo de ambiente controlado. A Frente Popular aprendeu isso da maneira mais difícil na noite desta quinta-feira, 21 de julho, no Classic Hall, durante o encerramento da passagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por Pernambuco. A batalha verbal entre a maioria do público que gritava o nome da candidata a governadora Marília Arraes (SD) e a militância dos partidos que apoiam Danilo Cabral (PSB) começou horas antes do início do evento e, ao contrário do que aconteceu em Garanhuns e Serra Talhada, não se encerrou com a chegada de Lula.

Durante a espera pelos principais oradores, lideranças locais da Frente Popular se revezaram ao microfone enquanto o Classic Hall enchia lentamente a medida que o público passava pelo raio-x e pela revista. E foram esses discursos que forneciam as deixas para o início dos gritos de “Lula lá, Marília cá”, vindos majoritariamente do fundo do enorme salão, e timidamente rebatidos pelas centenas de filiados e militantes do PSB, PT e PCdoB postados mais à frente, próximos ao palco.

Durante a fala do deputado estadual Doriel Barros, presidente do PT em Pernambuco, as manifestações de apoio à candidata adversária foram tão intensas que o dirigente partidário se confundiu e pediu votos para a “Marília, a nossa senadora”. Em outras oportunidades, quando a locutora mencionava os nomes de Danilo Cabral ou de Paulo Câmara, se escutavam vaias.

Pouco depois das 18h, subiram ao palco Lula e os demais integrantes de sua comitiva e das principais lideranças da Frente Popular. Nem mesmo a presença do candidato a presidente arrefeceu os gritos favoráveis a Marília ou os xingamentos de “golpista” direcionados a Danilo, referência aos votos do PSB que foram decisivos para o tirar Dilma Rousseff da presidência, em 2016.

PT defende o PSB

Apesar do constrangimento, o episódio serviu para os políticos PT reafirmarem a disposição de seguir ao lado do PSB no estado. Depois do deputado federal Renildo Calheiros (PCdoB) e de Sílvio Costa (Republicanos) enviarem recados indiretos aos apoiadores de Marília Arraes, o senador petista Humberto Costa foi direto à questão que tanto incomodava quem estava no palco: “Não tenho medo de vaias, quem tiver que vaiar, que vá vaiar Bolsonaro”.

Antes, Humberto já havia atacado a candidatura adversária sem citar o nome de Marília: “O que temos de fazer é botar o secundário de lado e defender o Brasil. O projeto individual não pode ser maior que o projeto político de derrotar o fascismo”. O senador fez questão de lembrar que abandonou sua própria candidatura em nome de um projeto maior de defender a democracia.

Militantes do PSB, PT e PCdoB tentaram abafar vaias e gritos de "Marília". Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

Quando Paulo Câmara e Danilo Cabral assumiram o microfone, as vaias cresceram em intensidade e volume. Então, Humberto e o vice-presidente nacional do PT, o deputado sergipano Márcio Macedo, juntaram-se imediatamente a Lula para fazer uma espécie de abraço coletivo em solidariedade ao governador e ao candidato majoritário. A vice-governadora Luciana Santos e a candidato ao Senado Teresa Leitão fizeram o mesmo.

Assim como fez Humberto Costa, enfatizar o embate de um suposto “projeto político coletivo”, ou seja, o projeto da Frente Popular, contra aquilo que seria o projeto individual da chapa da candidata do Solidariedade, diversos oradores recorreram a esse mote em seus discursos. Danilo Cabral, por exemplo, ressaltou ser filiado ao PSB há 32 anos, mesma característica de suas companheiras de chapa, Luciana Santos, no PCdoB desde os 15 anos de idade, e Teresa, petista há mais de 35 anos. “Qual é a chapa que mais reúne compromisso histórico e político?”, desafiou o candidato socialista.

Lula direto ao ponto

Ao contrário dos atos em Garanhuns e Serra Talhada, Lula não iniciou seu discurso justificando a aliança com o PSB. Preferiu ir direto ao ponto, falando sobre a necessidade de “consertar o país”. Só lá pelos 10 minutos de discurso falou que se move por relações políticas, e não pessoais – mas sem se estender.

Ignorando a hostilidade aos aliados em Pernambuco, Lula falou sobre a precarização dos empregos na era Bolsonaro e defendeu o programa Mais Médicos. Alimentação, emprego e combate à fome estão sendo os temas centrais da fala de Lula.

Lula preferiu só mencionar o pré-candidato ao governo ao final do discurso, quando os ânimos já estavam mais calmos. “Vou voltar várias vezes aqui. Mas quero que vocês saibam que, em Pernambuco, eu tenho candidato e o nome dele é Danilo Cabral. Vamos ganhar aqui e vamos ganhar no país para começar a revolução mais pacífica desse país”, disse. Dessa vez, não houve vaias.

Com a comunidade da cultura

O Teatro do Parque ficou lotado no encontro da classe artística com Lula. Como toda a agenda do ex-presidente em Pernambuco, houve muito atraso e Lula só falou por volta das 14h, quando o encontro estava marcado para a parte da manhã.

O cineasta Kléber Mendonça Filho e o músico Fred 04 foram alguns dos artistas que falaram ao microfone. Mãe Beth de Oxum, do Coco de Umbigada, criticou a proliferação de emissoras de TV evangélicas e defendeu o protagonismo do candomblé e da umbanda. Pediu também uma emissora para as religiões afro-brasileiras. Não houve reação dos políticos no palco.

O encontro não contou com a participação do governador Paulo Câmara nem do prefeito do Recife João Campos. Ambos haviam sido vaiados nos dois eventos de Lula no interior do estado na quarta-feira. Danilo Cabral compareceu ao evento, mas não falou. Geraldo Alckmin fez uma fala rápida, dizendo que não estava no roteiro que ele discursasse, mas foi instado por um poema sobre chuchu do poeta Antônio Marinho, ligado ao PSB e que apresentou parte do evento.

Lula fez uma fala longa, de aproximadamente 50 minutos, repleta de nostalgia. Lembrou da escolha de Gilberto Gil como ministro da cultura e relembrou os primeiros encontros com o cinema (em uma padaria) e o circo. Falou do cineclube do sindicato e fez uma defesa contundente da cultura e da educação como agentes de transformação, citando que foi o primeira da família a ter uma casa própria, graças ao diploma de torneiro mecânico.

O ex-presidente repetiu os grandes temas dos discursos anteriores, não falando em pautas identitárias – não houve resposta pública para os pedidos de Beth de Oxum, por exemplo -, mas tratando dos temais gerais. Citou os pontos de cultura e disse que vai privilegiar a cultura em uma nova gestão.

Classic Hall lotou para ver e ouvir Lula no evento organizado pela Frente Popular. Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

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AUTORES
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Giovanna Carneiro

Jornalista e mestranda no Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco.

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Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Ávida leitora de romances, gosta de escrever sobre tecnologia, política e cultura. Contato: carolsantos@gmail.com

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Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com

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Inácio França

Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.