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Nível crítico das barragens faz Compesa decretar racionamento na RMR

Raíssa Ebrahim / 22/01/2021

Algumas localidades de Jaboatão terá um dia de água para 20 dias sem. Crédito: Compesa

O aviso de racionamento foi anunciado oficialmente nesta sexta-feira (22) em coletiva de imprensa. Mas, na prática, ele já começou desde meados do Natal para muitos bairros da Região Metropolitana do Recife (RMR). A diferença é que a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) só agora oficializou o que chamou em apresentação de “ajustes no calendário de abastecimento”.

O aperto nas torneiras, em meio à maior crise sanitária do século com a pandemia de covid-19, é, segundo a Compesa, consequência do nível crítico de algumas barragens da RMR, como a Marco Zero Conteúdo antecipou nesta quinta (21). São 10 municípios com alteração: Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Igarassu, Abreu e Lima, Paulista, Camaragibe, São Lourenço da Mata, Moreno e Cabo de Santo Agostinho.

Ao todo, mais de 100 localidades serão afetadas com os ajustes a partir desta segunda (25). Em geral, assim como acontece historicamente, as mais prejudicadas são as periferias. Diversas localidades de Jaboatão passarão a ter um dia com água para 20 sem. Confira aqui o todos o esquema de racionamento e o calendário do seu bairro.

A pescadora Eliane Maria da Silva (55) mora numa casa com o filho em Socorro, Jaboatão. Eles recebem água um dia e ficam 15 sem, agora passarão a ficar 20. Ela acha que já teve covid-19, logo no início da pandemia. Não chegou a fazer o teste, mas ficou 15 dias doente, sem sentir gosto nem cheiro. “É muito difícil uma situação dessa na pandemia, porque pedem para a gente lavar a mão toda hora”, observa. 

“Estou para me mudar, mas não estou conseguindo porque as casas que posso pagar não têm água”, conta. Atualmente Eliane está apenas com uma renda de R$ 41 do Bolsa Família. A pescadora vai solicitar o cancelamento do abastecimento na Compesa.  

“A conta vem dando muito alta. Não tenho condições. Por sorte, na casa do meu irmão, que é vizinho, tem uma cacimba e a gente puxa água de lá para a caixa de casa. Vou ficar só com essa mesmo. Se fosse esperar só por água da Compesa, ia ser difícil”, explica. 

Quando a reportagem conversou com Eliane por telefone nesta sexta (22), ela estava na casa de uma tia em Moreno, zona da mata sul. Com 65 anos, Severina Josefa Gabriel, dona de casa que também vive do Bolsa Família, depende da vizinha para ter água em casa. Ela coloca mangueiras para encher vasilhas porque na casa dela não chega o recurso. Já a conta social chega mensalmente. 

“Já acionamos a Compesa, ela diz que aqui chega água, mas não chega. Mas o problema é também que agora faz 15 dias que não entra água na casa da vizinha. Aqui hoje estamos com pratos sujos e pouca água nos baldinhos, economizando para tomar banho e um potinho para cozinhar”, descreve a pescadora.

Em Moreno, o abastecimento que era de dois dias com água para quatro sem agora ficará nove dias sem. A situação dessas duas mulheres é o reflexo da lista de problemas de abastecimento da RMR.

Chuvas abaixo da média

Segundo informações repassadas em coletiva nesta sexta (22), as chuvas foram bem abaixo do esperado em 2020 e a previsão estimada de precipitações está inferior à média histórica para a RMR no primeiro quadrimestre deste ano. Essa é a previsão da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), que também esteve na coletiva de imprensa.

A população já sabia das previsões de baixa precipitação da agência para os primeiros meses de 2021. Os dados foram divulgados na imprensa. Mas só agora a Compesa veio a público explicar o que está de fato acontecendo e quais as providências a serem tomadas.

A companhia se defende afirmando que “Desde o anúncio do balanço da situação hídrica de Pernambuco apresentado pela Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), a Compesa tem intensificado o monitoramento sistemático do volume dos seus mananciais, realizando cálculos e simulações para a definição do melhor modelo de distribuição de água para aguardar as chuvas de maio a junho (período do inverno)”.

Resolver a questão da falta de água requer o uso racional, investimentos e diminuição do desperdício no sistema e principalmente uma mudança radical no formato de consumo e produção e nos territórios urbanos. A curto e médio prazo, a Compesa anunciou alguns investimentos. 

A presidente da Compesa, Manuela Marinho, disse que, desde o ano passado, a companhia planejou investimentos a curto, médio e longo prazo para esse período e está investindo cerca de R$ 20 milhões em ações para ampliar a oferta de água e para trazer mais segurança hídrica aos sistemas. 

Entre os investimentos, estão a reativação e perfuração de mais de 30 poços na RMR. Esse trabalho começou no ano passado na área dos morros da zona norte do Recife e seguirá para outras áreas da capital e nas cidades de Goiana, Abreu e Lima, Igarassu, Olinda e Paulista. O incremento dos poços representará mais de 550 litros de água por segundo.

Para o primeiro semestre do ano, ainda está prevista a aquisição de equipamentos para melhorar a performance das captações de Castelo, Tiúma, Duas Unas, Cumbe, Arataca, Conga, Tabatinga e Monjope e para as estações elevatórias Paratibe e Monjope/Alto do Céu. Também haverá reforço de carros-pipa.

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AUTOR
Foto Raíssa Ebrahim
Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com