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Pão, circo e barbárie no Mix Mateus

Marco Zero Conteúdo / 19/10/2023
No centro da foto, uma mulher caída em meio a uma multidão, empurrando carrinhos de supermercado.

Crédito: Reprodução vídeo de WhatsApp

por Fabio Atanásio Morais*

Passados quase dois milênios e cinco séculos, constatamos que a política do “pão e circo”, estabelecida à época do Império Romano, segue tão atual como outrora. Não à toa verificamos espetáculos dantescos em que, por um lado, a população exterioriza avidez diante de supostas vantagens oferecidas ao custo de alguns solavancos morais e físicos, a exemplo do que assistimos hoje na inauguração das lojas da rede “Mix Mateus”, em Olinda.

Ao mesmo tempo, alguns políticos acreditam que todo e qualquer acontecimento que mobilize “massas humanas” se constitui em boa oportunidade que devem ser apropriadas para promoção pessoal. Foi o caso governadora Raquel Lyra e do prefeito de Olinda, Professor Lupércio, ambos buscando angariar simpatias cortando a fita inaugural dos tais supermercados, imaginando que isso redundaria em prestígio, sobretudo quando se arrogam ao protagonismo de terem sido responsáveis pela atração de tais empreendimentos.

Tenho a convicção de que tanto ela, a governadora, quanto ele, o prefeito, estão enganados em acreditar que suas respectivas notoriedades se adensam em meio a esses espetáculos. Afinal, cenas lastimáveis marcaram os eventos.

Pessoas comuns, atraídas pela possibilidade da aquisição de alimentos e bens materiais a preços bem abaixo do praticado pelo mercado, se submetem a condições aviltantes onde, ao fim e ao cabo, prevalece a lei do mais forte. Em alguns vídeos, me pareceu estar assistindo não a uma prévia tupiniquim da Black Friday, mas sim do Halloween, celebrado com fantasias no 31 de outubro nos Estados Unidos e nos cursos de inglês, mas, nas lojas do Mix, como um festival de horror verdadeiro, em que cada consumidor ávido via no outro a personagem popular que se coaduna com o imaginário da expressão “bruxa”.

Pessoalmente, da mesma forma que não acredito nos ganhos de imagem para os políticos, me custa crer que essa estratégia de marketing repercuta em vantagem para imagem do grupo empresarial. Talvez por equívoco, ou mesmo por limitação intelectual, seus estrategistas não consigam enxergar o real impacto de tamanho desacerto.

Sem nenhuma intenção de justificar o injustificável, observo que talvez exista uma relação entre a opção de marketing adotada pelo supermercado para vender sua imagem e seus produtos e os caminhos trilhados por determinada escola política, isto na sua conotação mais vil e de menor estatura, na qual se vilipendia a inteligência popular, inclusive por acreditar que essa inexiste, oferecendo “ouro de tolo”, certos que será aceito e consumido pelos que fazem prosperar o status quo, ou seja, aqueles que entregam “pão e circo” para garantir a manutenção do poder, que lhes é dado como que por merecimento.

Profundamente lamentável!

*Servidor público do município de Olinda, ex-coordenador do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), no Nordeste e na Amazônia; ex-presidente da Fundação de Cultura do Município de Belém (Fumbel)

AUTOR
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Marco Zero Conteúdo

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