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Para Joaninha Dias, “quebrar correntes é o que a educação antirracista faz.”

Helena Dias / 20/07/2020

Crédito: Malu Aquino

“Você se reconhece como mulher negra?”, questiona Joaninha Dias à repórter logo no primeiro contato. Ao escutar a resposta, a professora antirracista e ativista da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco topou conversar com a Marco Zero e iniciou uma aula em forma de entrevista que explica desde a origem do seu sobrenome até a vivência de quem se propõe diariamente a mover as estruturas da educação por uma sociedade antirracista.

Pedagoga formada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Joaninha tem 37 anos de idade e atua como professora há 17 anos. Costuma dizer que é ativista no movimento negro desde criança, quando um tio a levava para as reuniões do Movimento Negro Unificado (MNU). Desde 2017, faz parte da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, processos organizativos que segundo ela “movimentam o mundo daqui para frente”.

“O sobrenome Dias da minha família veio de uma maneira muito ancestral mesmo. O meu bisavô foi criado em um orfanato. O nome dele era Carlos José André, ele não tinha sobrenome. Quando ele casou e o meu avô nasceu, ele colocou o nome de José Roque Dias e disse que a partir do nascimento do meu avô os ‘Dias melhores viriam’. Essa é a origem da minha família Dias.”

Mulher negra, gorda, bissexual e praticante do poliamor, como gosta de ressaltar, Joaninha é nascida e criada no bairro recifense de Água Fria. Mora lá até hoje, local de onde se expressa para o mundo como educadora, poeta, escritora e autora de atividades pedagógicas afrocentradas como é o caso do Manual de Atividades com Contos Africanos que escreveu. Atualmente, dá aula para o Ensino Fundamental I das redes públicas de duas cidades de Pernambuco.

A conversa sobre educação antirracista sob a perspectiva de Joaninha Dias, você pode conferir abaixo.

Crédito: Arquivo pessoal

Como é ser professora antirracista em um país que ainda está longe de ter uma educação antirracista?

Na verdade, na verdade… É um trabalho extremamente árduo porque nós estamos trabalhando uma educação antirracista em um país racista que não reconhece que é racista, nem reconhece que é o racismo que faz com que os corpos estejam no chão todos os dias. É muito complicado vivenciar essa realidade todos os dias quando você olha ao seu redor e vê o racismo em todos os ambientes, em todas as suas etapas, em todos os locais, em todos os sistemas, em tudo. É adoecedor. E ser uma professora antirracista dentro desse contexto é exatamente a luta árdua pela mudança, sabe? Porque a primeira coisa para você ser antirracista é o reconhecimento que a educação do Brasil é uma educação racista. Tudo o que tem no currículo é racista, a organização é racista, as aulas são racistas. Tudo é racista, porque na verdade é um projeto que fez o apagamento do povo indígena e do povo preto. Isso faz com que a gente necessite colocar o raio antirracista em tudo. Em todo material didático que a gente recebe, em todo livro didático, em toda aula. Temos que colocar na aula sempre a contribuição de todos os povos não brancos dentro do contexto, sabe? O tempo inteiro trazer as imagens de pessoas negras, as conquistas, as produções. E, desde o início da aula, se rebelar e não fazer a oração inicial que é sempre o pai nosso que dizem que é universal, mas só universal para quem é cristão, para quem não é cristão, não é. E a escola é laica. Então começa aí o ato de você não fazer essa oração e dizer às crianças que elas também não façam porque a escola não tem essa função social. A escola não é religiosa, não é pra ser, pelo menos. No horário do recreio, por exemplo, as pessoas dizem “parem de correr”. Não gente, é para correr mesmo, exercitar o corpo, brincar com o sol na cara. Entendesse? É esse tipo de coisa, é vivenciar o antirracismo em todas as situações. É o tempo todo. É cansativo, mas é extremamente necessário, porque é preciso que o antirracismo esteja presente em todos os momentos da educação.

Nos processos organizativos dos movimentos negros, podemos dizer que a educação é a base?

Sim. Na organização dos movimentos negros ela sempre foi a base de tudo, mas uma educação negra, uma educação baseada em nós, para nós, por nós. Valorizando os nossos conhecimentos, um currículo feito para nós e por nós, com nossa ancestralidade, com nossos conhecimentos, com um currículo organizado e pensado, com as contribuições do povo negro dentro. Esses processos educativos sempre estiveram presentes dentro dos movimentos negros Esse empoderamento educacional dos nossos, dentro dos nossos espaços, é o que faz com que a gente se torne mais forte ainda. Então, educação negra enraizada dentro de nós, para nós e por nós é um dos processos organizativos para ter a base para uma reconstrução e reorganização dos movimentos sempre todos os dias.

Como se dão essas práticas hoje atualmente? Pergunto sobre você como professora antirracista e integrante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco. O Manual de Atividades com Contos Africanos é um exemplo disso?

Bom, falando primeiramente enquanto integrante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, nós temos vários processos educativos dentro do nosso movimento, porque a gente acredita que a educação de nós mesmas, mulheres pretas, é base para a luta. Então, temos muitas rodas de conversa, debates, palestras, oficinas em várias cidades e comunidades que atuamos. Nós temos também os trabalhos como as Jornadas Negras de Formação Política, atividade voltada para a aprendizagem de nossa história de luta e ministrada por e para mulheres negras de nosso estado. Atividade esta aberta também para movimentos e coletivos parceiros. Ainda temos as Jornadas Negras de Formação para Adolescentes, com uma pauta construída à partir dos interesses desse público e ministrada pelas mulheres dentro da faixa de juventude da Rede. Em 2019 realizamos o nosso primeiro Encontro de Crianças Negras, com atividades pensadas e organizadas para o entendimento nossa historicidade e ancestralidade, nossa luta, nossa beleza, brinquedos e brincadeiras, nossos heróis e heroínas, nossas heranças de África. E esses processos de educação se dão de maneira bem efetiva e afetiva, nessa busca por aprender e por ensinar. Porque a gente está nisso mesmo, sabe? Todas nós temos algo para ensinar e para aprender. Então existe essa troca, de uma ensinar a outra. Existem os momentos organizados para pensar sobre diversos temas. Organizar pessoas negras que falem sobre esses temas e construir conhecimento coletivo e ancestral. Essa formação garante muita coisa. Em relação à minha produção de material antirracista, eu sou uma professora e também autora de atividades pedagógicas sobre afrodescendência. Atividades antirracistas que, na verdade, buscam a ideia de popularizar materiais que tenham cunho antirracista e sejam distribuídos de maneira gratuita para que todas as crianças tenham acesso a esse material. E que o poder aquisitivo, o dinheiro, não seja um empecilho para aquele professor, aquela professora, aquela criança, aquela mãe e aquele pai que querem usar o material. Os responsáveis só precisam baixar o material e utilizar em casa.

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Em entrevista ao Instituto da Mulher Negra, Geledés, a pedagoga Clélia Rosa afirmou que a Lei 10.639/2003 não tem sido efetivada porque a educação antirracista tem acontecido por meio de projetos e não como uma mudança estrutural nas diretrizes e bases da educação nacional. Você compartilha desta análise?

Concordo total com a colega. Uma máxima que eu falo sempre é “Educação antirracista não é projeto. É currículo!”. Projetos acontecem pontualmente em determinados momentos do ano letivo. A educação antirracista ela acontece todo dia, entendeu? Em cada momento da sala de aula, em cada análise, em cada conversa, texto, em cada vídeo e debate. As pessoas confundem, e muitas vezes é o racismo que faz isso, acreditam que a Lei 10.639/2003 veio com a obrigatoriedade e que fazer projeto dá conta. Projetos são feitos em datas comemorativas, eventos. E a educação antirracista tem que ser diária. Um exemplo disso é quando você chega na sala de aula e vai trabalhar o gênero textual poema. Você abre o livro didático e os poemas que estão lá são de pessoas brancas, quem ilustra aqueles poemas são ilustradores e ilustradoras brancas. Todo livro didático é branco. E como eu coloco o antirracismo nisso? Eu trago também poetas pretos e pretas, eu trago também ilustradores pretos e pretas, eu mostro a história deles e como eles escrevem. Trago para exemplo as imagens deles, porque a criança preta precisa se ver e a criança branca precisa entender que não existe só ela no mundo, sabe? Porque ela se vê demais.

Você sente que as pessoas e os governos ainda acham que a educação antirracista é apenas para pessoas negras?

As pessoas ainda acham que racismo só tem a ver com pessoa preta, então acreditam que a educação antirracista só tem a ver com pessoa preta também. É um erro enorme, porque a educação antirracista é para todos. É para todas as pessoas, porque as pessoas brancas têm a educação delas, porque é educação que prima por elas. Elas veem nas atividades, se veem nas fotos, se veem em tudo. Mas essa é uma educação racista, entendeu? A educação racista é para todos porque é com ela que o povo preto vai se ver na sala de aula todo dia e o povo branco vai entender que ele não é o único no mundo.

“É comum algumas professoras brancas chegarem e dizerem “Joaninha, eu amo muito seu trabalho. Seu trabalho é maravilhoso! Eu gosto muito dele, acho massa o que você faz”. E eu viro para elas e digo: “Mas você tem que fazer também”

Vai reconhecer seus privilégios, privilégios de estarem em todos os lugares sem nunca terem parado pra pensar o porquê estão em todos os lugares e a pessoa preta nunca está. Só está em lugares de degradação. Então, os governos estão tentando fazer a linha da educação das relações étnico-racial, mas tentando sair do esquema de projeto. Mas, ainda longe de chegar no esquema diário e interligado com as organizações, conceitos e ideias do que se pode fazer. Isso é uma coisa que deixa a gente muito irritada mesmo, arretada, porque é mais uma pedra no caminho. Mais um problema que a gente tem que ultrapassar para fazer o trabalho, para conseguir fazer o entendimento. É comum algumas professoras brancas chegarem e dizerem “Joaninha, eu amo muito seu trabalho. Seu trabalho é maravilhoso! Eu gosto muito dele, acho massa o que você faz”. E eu viro para elas e digo: “Mas você tem que fazer também”. Porque a educação antirracista é para ser feita por todas as professoras e não somente as pretas.

De acordo com as suas experiências em sala de aula, quais são as principais questões levantadas pelas crianças em relação à temática racial? É um desafio diferenciar o bullying do racismo?

Primeiramente, a questão de diferenciar bullying de racismo é uma coisa muito recorrente em sala de aula. Existe uma naturalização do racismo como bullying, isso é mais um traço do racismo institucionalizado. Eu faço sempre a alusão de que, quando você chama um colega de macaco e você chama uma colega de baleia, a diferença é que quando se chama uma pessoa negra de macaca você está dizendo que ela não é uma pessoa, que ela não tem humanidade, que ela não merece o título de humana, sabe? Isso é o traço racista em tudo. Se eu chamo uma pessoa de baleia porque ela é gorda, é gordofobia. Entendo tudo isso! A diferença é que eu não digo que ela é uma baleia literalmente, eu só digo que ela se assemelha. Quando eu chamo uma pessoa preta de macaco, eu estou dizendo que ela é inferior a mim humanamente. E essa é a conversa que se tem em sala de aula, aí perguntamos o porquê de não chamar de outra coisa. Fazemos essas reflexões porque a escola é onde as crianças sofrem muito racismo. E esse racismo termina sendo naturalizados pelas escolas como caso de abuso, não tratam como racismo. Não se trata a ideia de que não foi um abuso, de que a criança foi desumanizada racista e estruturalmente. Essa conversa com as crianças, lógico que não nesse tipo de linguagem, é uma linguagem voltada ao entendimento de que a gente tem que levar essas questões. Dentro das salas de aula, quando eu trabalho, eu levo muitos artistas e escritores. Muitas pessoas pretas de todas as áreas do conhecimento, pessoas de perto e de longe e tudo o que você possa imaginar. Uma coisa que é recorrente, que a gente sempre tem muita conversa, é principalmente o racismo religioso. As crianças tem muito interesse em saber porque são religiões que são demonizadas na vida delas, então elas têm interesse sobre isso. E também sobre questões como, por exemplo, Pernambuco foi a capitania que deu mais lucro na época da cana-de açúcar porque o povo que veio para cá foi o povo banto, que é o povo de África que era especialista em agricultura, que criou os instrumentos como enxada e tudo mais. Essa vontade de aprender e conhecer vai surgindo e as aulas vão ficando motivadas. E a gente vai levando esses materiais e entrelaçando com os assuntos que estão dentro do currículo, porque é isso que eu chamo de raio antirracista. O currículo está lá, eu pego ele e transformo em uma educação antirracista.

Recentemente, as mortes de George Floyd nos EUA e a morte do menino Miguel aqui no Recife causaram comoção. Mas, perdemos vidas negras todos os dias desde o tempo da colonização do Brasil com pouca ou nenhuma comoção social. Houve um levante de pautar a educação antirracista como forma de mudar esta realidade. O que você pensa sobre estes levantes na perspectiva de luta? Eles se dissolvem ou representam transformações?

A morte de George Floyd teve muita cobertura da mídia mundial e isso fez com que chegasse à maioria dos lugares do mundo, sim, e vem a reflexão de que as pessoas pretas morrem todo tempo em todo lugar. Nossos jovens morrem pelas mãos da polícia o tempo todo, todo dia. Nossas mulheres pretas morrem tentando dar à luz às crianças pretas e não recebem anestesia porque dizem que nós aguentamos mais dor. Nós estamos encarceradas e encarcerados nos presídios em condições insalubres, nós vivemos abaixo da linha da pobreza.

“Casos como o de George Floyd mostram para as pessoas que é isso que acontece com a gente diariamente. Que aquilo que aconteceu com Floyd é o que acontece com a gente o tempo todo, não é um caso isolado.”

Somos os que ganhamos menos e que menos nos alimentamos direito. E isso tudo remete ao racismo estrutural que nos permeia o tempo todo. Casos como o de George Floyd mostram para as pessoas que é isso que acontece com a gente diariamente. Que aquilo que aconteceu com Floyd é o que acontece com a gente o tempo todo, não é um caso isolado. E existem sim, nesses levantes, muita comoção nas redes sociais, mas na vida real mesmo são poucos os aliados e as aliadas que se firmam nessa luta antirracista, nessa busca por uma educação antirracista que realmente coloque que a dor e a vida do povo preto são importantes. Depois da comoção geral, os aliados que ficam são poucos, sabe? Nós temos o caso do menino Miguel, desse crime hediondo, e o quanto que isso dilacera todas as pessoas pretas. As mulheres pretas. E nós, da Rede de Mulheres Negras, ficamos totalmente dilaceradas por dentro, por fora, na alma, no espírito, no corpo e na mente. Estamos na luta nas passeatas, na organização dos atos, mas o outro lado a gente está também de conversar com Mirtes, saber como ela está. Saber se ela tem alimento, do lado de ter uma conversa, de cuidar. As políticas públicas não veem para cuidar de nós e sim vem nos dilacerar mais. Falo isso emocionada porque isso me toca muito no que vivencio a vida inteira. Essas comoção e empatia são pontuais, momentâneas, e se dissolvem. Ficam alguns apoios e algumas pessoas que reconhecem seus privilégios e vêm para junto na luta antirracista, mas não representam tantas transformações. Ainda são os nossos que morrem e ainda não causam tanto espanto como se fosse uma pessoa branca morrendo. A perspectiva de luta que se tem e que se reconhece é que, no final das contas, a comoção tem que fazer mais do que comover. Tem que comover e tem que propiciar atitude de luta e apoio, parceria e junção para que o antirracismo prevaleça em todas as esferas sociais desse país.

Crédito :Arquivo pessoal

Como está a educação antirracista em tempos de pandemia?

Eu sou professora de escola pública, sempre fui. Nessa pandemia, vem a preocupação de que as crianças não conseguem ter a estrutura para estudar, não conseguem se concentrar porque não tem como fazer pela internet algo que no pessoal a gente já tem dificuldade de fazer. Há preocupação com a alimentação dessas crianças, com o ambiente que elas estão em casa. Com o acesso à internet e ao celular, ao que puder, sabe? Preocupação com o tipo de atividade que elas estão fazendo. E como se dá a educação antirracista em tempos de pandemia? A minha preocupação maior é que as crianças não estão tendo acesso ao que a escola sempre propiciou, sabe? Que era o momento de estar ali. Estou falando por mim, estou falando nesse momento enquanto professora e pessoa. E o que a sala de aula sempre representou para mim e o que eu queria que representasse para as crianças. Sempre foi um ponto de segurança, um lugar seguro. A sala de aula era o momento de interação, aprendizado e cumplicidade. De conversa, de apoio e segurança, de você falar o que fosse para a professora e saber que tinha ali uma pessoa para lhe ajudar, para lhe auxiliar em todos os sentidos e que, no outro dia, você voltaria e encontraria aquele ambiente rico de produção de conhecimento e aprendizado. Se vendo nos desenhos, a sua cor preta lá. Vendo pessoas que escreveram, que produziram, que construíram coisas no tom da sua pele também. A preocupação é grande demais. Porque, no final das contas, o que é internet e celular pra ter aula online se a dificuldade para aprender e a ler dentro da sala de aula é tanta? Imagina no celular. O que eu faço para dar uma minimizada porque eu não tenho como fazer mais já que é pandemia? As atividades vão seguindo., principalmente atividades relacionadas à música pra ter uma ludicidade com cantores e cantoras pretas para termos atividades de alfabetização neste contexto. Usando as músicas desses artistas, muitos jogos e brincadeiras dentro do contexto de caça-palavras, palavras cruzadas, jogo de sete erros, pinturas. Muita contação de história, muito aconchego e acalanto na melhor maneira que dá para fazer.

Estamos no Julho das Pretas, mas a dica vai servir para a vida. Te peço que indique um livro que você considera indispensável para as mulheres negras lerem e peço que direcione uma fala para elas. Algo que diria à todas.

Eu não posso indicar um livro, entendeu? Eu sou quem indica pessoas que escreveram os livros, porque o meu mantra é “Leia pessoas negras.”Leia homens negros, mas leia mulheres negras. O mercado editorial coloca homens brancos e mulheres brancas nas publicações. Ler homens negros e mulheres negras é revolução. Então, lê mulher preta! Lê a tua vizinha, a tua amiga, lê a tua amiga que faz um poema. A tua irmã que escreveu a receita de bolo que a tua vó passou. Lê as pessoas da tua cidade, do teu estado, as pessoas do país todo. Leia Conceição Evaristo, Elisa Lucinda, Maria Carolina de Jesus, Juliana Borges, Cidinha da Silva, Inaldete Pinheiro, Odailta Alves, Joy Thamires. Lê e vai lendo, lendo e reconhecendo essas mulheres pretas que tem muito a dizer, a escrever e muito a contar. Na verdade, o que conta esse reconhecimento é nosso. Somos nós e nós. Ler mulheres negras é se reconhecer nas linhas, se ver nas palavras. É olha para outra mulher e estar com um espelho, saber que aquela mulher te olha e se vê também e o quanto isso é ancestral e maravilhoso.

O recado que eu quero dar para você, mulher preta, é que você se olhe no espelho e se reconheça maravilhosa. Porque você descende de um povo inteligente, organizado, belíssimo, estruturado, dono de todas as belezas e riquezas de África. Você já nasceu para ser maravilhosa e lembre-se que você não está sozinha, que você não precisa ser forte o tempo todo porque o racismo nos coloca em um lugar tão desumanizador que parece que a gente não pode sofrer. Parece que a gente não pode chorar ou sentir a dor. Só precisa sentir as pancadas e ficar firme? Não. Você pode chorar, se apoiar da sua amiga, sua irmã e seu irmão e dizer: eu estou cansada. E ele ou ela vão ser apoio e cuidado para você. Aqui não estamos mandando ninguém desistir, é só poder descansar contando um com outro. Lembre-se: você não está sozinha.

Os materiais afrocentrados produzidos por Joaninha Dias e citados na matéria são: Manual de Atividades com Contos Africanos; Contos Africanos: a ancestralidade guiando nossos passos; Caderno de atividades Afrocentradas; Orin: Música Preta na Sala de Aula. Interessados em ter acesso podem enviar um e-mail para o endereço eletrônico: joaninha.dias@yahoo.com.

AUTOR
Foto Helena Dias
Helena Dias

Jornalista atenta e forte. Repórter que gosta muito de gente e de ouvir histórias. Formou-se pela Unicap em 2016, estagiou nas editorias de política do jornal impresso Folha de Pernambuco e no portal Pernambuco.com do Diario. Atua como freelancer e faz parte da reportagem da Marco Zero há quase dois anos. Contato: helenadiaas@gmail.com