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Pernambuco impede que sucata de porta-aviões com resíduos tóxicos atraque em Suape

Inácio França / 05/10/2022

Crédito: Marinha do Brasil

Barrado na Turquia, impedido de passar pelo estreito de Gibraltar pelo governo britânico, O casco do porta-aviões São Paulo, recusado pelas autoridades do Rio de Janeiro, o casco do porta-aviões São Paulo está sendo trazido para o porto de Suape, mas também não poderá atracar em Pernambuco. A Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH) emitiu parecer no final da tarde desta quarta-feira, 5 de outubro, recomendando que a administração portuária de Suape não permita a atracação por risco ao meio ambiente.

O casco do navio, que vem sendo rebocado há meses pelo rebocador holandês Alp Centre, estaria levando 9,6 toneladas de amianto. O problema é que, em seu interior, há outras substâncias tóxicas e indícios de materiais considerados contaminantes radioativos, porém a Marinha do Brasil, que desativou o navio em 2018, nem a empresa turca Sok Denizcilikve Tic, que o comprou em 2021 para desmontá-lo, fizeram um inventário dessas substâncias.

No parecer, a CPRH informou ter considerado “que a embarcação em questão já teve sua licença de exportação cancelada pelo Ibama e, inclusive, já foi impedida de navegar e atracar em outras regiões”. Diretores do porto de Suape acreditam que, no porto pernambucano, a empresa pretendia realizar testes para identificar quais seriam os materiais perigosos que ele carrega e, assim, elaborar o inventário cobrado pelos governos da Turquia e do Reino Unido.

O que restou do porta-aviões está navegando pelos oceanos desde maio deste ano, quando deixou as instalações da Marinha na Baía de Guanabara em direção ao porto de Instambul. Antes de chegar lá, a organização ambiental turca İzmir Yaşam Alanları, alertou o governo do país sobre os riscos de receber a embarcação: “Este navio carregado de morte, destruição, dor e problemas está chegando”, dizia um dos alertas. A pressão surtiu efeitos e a empresa tentou encontrar outro destino para o casco.

No caminho, mais um problema: o Reino Unido, que controla o estreito de Gibraltar, por onde passam 50 mil navios anualmente, impediu que o São Paulo passasse por lá por causa dos riscos ambientais. O rebocador, então, voltou para o Rio de Janeiro, mas, segundo o site Airway, especializado em aviação militar, quando estava na altura do Espírito Santo, deu meia volta e tomou o rumo de Suape, onde deveria aportar na quarta-feira. Pelo site da ONG Greenpeace é possível acompanhar sua rota.

Navio problemático

O São Paulo nem sempre teve esse nome. Construído na França entre 1957 e 1960 e batizado como Foch, tinha 266 metros de comprimento e 32,8 mil toneladas de peso. Nos anos 1960 e 1970, foi utilizado em testes nucleares nos territórios franceses do oceano Pacífico. Em 2000, o porta-aviões foi adquirido pelo governo brasileiro, a um custo de 12 milhões de dólares, e serviu à Marinha até 2014. Neste período, foi palco de vários incidentes, inclusive incêndios a bordo. No total, ele ficou apenas 206 dias no mar, até finalmente ser desativado em 2018.

Navio estava perto do Rio de Janeiro, quando tomou o rumo do porto de Suape. Crédito: Greenpeace

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AUTOR
Foto Inácio França
Inácio França

Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.