Ajude a MZ com um PIX de qualquer valor para a MZ: chave CNPJ 28.660.021/0001-52
Crédito: MST
Na manhã desta terça-feira, 25 de maio, 450 policiais militares cercaram a ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), no Engenho Bonfim, em Amaraji, Zona da Mata Sul de Pernambuco, para despejar os agricultores de acordo com a decisão judicial obtida pelos proprietários da Usina União e Indústria. A Ocupação Bondade está instalada em parte dos 1.850 hectares do engenho, que pertence à usina. Na ação, a PM atuou de forma violenta, atirando balas de borracha e lançando bombas de gás lacrimogênio contra os agricultores.
A ação concretizou uma ameaça que vinha sendo reiterada desde o dia 18 de maio, quando policiais acompanharam um representante do Ministério Público até o acampamento para avisar que as famílias deveriam desocupar o terreno imediatamente. De acordo com os agricultores, na ocasião, os policiais prometeram retornar e realizar uma desocupação forçada, caso fosse necessário.
Desde então, os agricultores que vivem no Engenho Bonfim se articularam para resistir às ameaças e manter a ocupação no local. Uma vigília foi montada e centenas de trabalhadores revezaram os postos dia e noite à espera do conflito.
Havia a expectativa de que a ação policial seria realizada na madrugada desta terça-feira, 25 de maio, mas a PM acabou chegando ao ao local pouco antes das 8h. Em motos, viaturas, ônibus e até um helicóptero, os homens do Batalhão Especializado de Policiamento do Interior (BEPI) chegaram ao engenho e investiram contra os acampados, que se esboçaram uma reação com suas enxadas e foices.
Em áudio compartilhado pelo MST, os acampados denunciam a ação violenta da polícia com tiros. “Muita bala, a gente vai resistir até onde der”, afirma um agricultor da Ocupação Bondade.
A maioria das famílias acampadas no Engenho Bonfim, são de ex-funcionários da Usina União que alegam terem sido demitidos pela empresa e sem jamais terem recebido as respectivas indenizações trabalhistas.
No local, cerca de 200 famílias cultivavam seu próprio alimento no roçado criado na área, antes inutilizada e que estava produzindo macaxeira, banana e milho. Os agricultores alimentavam esperança que o governador Paulo Câmara não autorizasse a ação da PM na desocupação em respeito à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que suspendeu despejos durante a pandemia da covid-19.
No início de maio, o advogado do MST, Tomás Melo, entrou com uma ação judicial para atacar e suspender a liminar da Usina União que prevê a reintegração de posse do Engenho Bonfim. A decisão judicial sobre o caso ainda está pendente.
No início da tarde, a codeputada estadual Kátia Cunha (PSOL), do mandato coletivo das Juntas, contou que ficou surpresa com o aparato “de guerra” enviado pelo governo estadual para o Engenho: “Vieram motociciclistas da Rocam, helicóptero e até Batalhão de Trânsito. Jogaram dezenas de bombas de gás lacrimogênio contra homens, mulheres e crianças como se fossem bandidos de alta periculosidade. Quando arrancaram a bandeira do MST, comemoraram aos berros”, contou a parlamentar. Ao fim da ação policial, 12 agricultores, incluindo uma criança de 12 anos, foram detidos.
A advogada Michelle Santos, assessora jurídica da comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, acompanhou os detidos e informou que eles começaram a ser ouvidos no meio da tarde, depois que assinaram um termo de compromisso para se reapresentarem à delegacia de Amaraji quando convocados. O menino de 12 anos só foi liberado às 14h, quando a equipe das Juntas acionou o Conselho Tutelar.
A Usina União e Indústria, sediada em Barra de Guabiraba, produz etanol e as marcas de açúcar Sublime e Primavera, pertence aos usineiros Ilvo Monteiro Soares de Meirelles e sua esposa Maria Carolina Bezerra de Meirelles.
Seja mais que um leitor da Marco Zero
A Marco Zero acredita que compartilhar informações de qualidade tem o poder de transformar a vida das pessoas. Por isso, produzimos um conteúdo jornalístico de interesse público e comprometido com a defesa dos direitos humanos. Tudo feito de forma independente.
E para manter a nossa independência editorial, não recebemos dinheiro de governos, empresas públicas ou privadas. Por isso, dependemos de você, leitor e leitora, para continuar o nosso trabalho e torná-lo sustentável.
Ao contribuir com a Marco Zero, além de nos ajudar a produzir mais reportagens de qualidade, você estará possibilitando que outras pessoas tenham acesso gratuito ao nosso conteúdo.
Em uma época de tanta desinformação e ataques aos direitos humanos, nunca foi tão importante apoiar o jornalismo independente.
É hora de assinar a Marco Zerohttps://marcozero.org/assine/
Jornalista e mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco.