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A Polícia Militar de Pernambuco admitiu que não afastou nem identificou o policial acusado de estuprar uma mulher de 48 anos nas dependências do posto do Batalhão de Polícia Rodoviária na rodovia PE-60, pouco depois do shopping center Costa Dourada, no Cabo de Santo Agostinho. “Assim que os policiais envolvidos forem identificados, eles serão afastados de suas funções operacionais enquanto as investigações estiverem em andamento”, anuncia a nota oficial distribuída pela assessoria da PM na manhã desta terça-feira, três dias após o caso ter sido registrado na Delegacia da Mulher.
O comando da PM admite ainda que a corporação só ficou sabendo da denúncia ontem, segunda-feira: “nesta segunda-feira (13), a PMPE tomou conhecimento de uma denúncia registrada na 14ª Delegacia da Mulher do Cabo de Santo Agostinho. O caso, ocorrido em 10 de outubro de 2025, envolve um policial militar do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv)”.
A Secretaria de Defesa Social também emitiu uma nota de conteúdo genérico, repudiando condutas que desrespeitem os direitos humanos e informando que o caso está investigado tanto pela Corregedoria quanto pela Polícia Civil: “a Corregedoria Geral da SDS instaurou Investigação Preliminar (IP) para apurar a conduta sob o ponto de vista ético-disciplinar, de forma paralela à investigação criminal conduzida pela Polícia Civil. Todas as medidas cabíveis serão adotadas com o devido rigor, assegurando a responsabilização, caso as denúncias sejam confirmadas”.
Até o final da manhã desta terça-feira, a governadora Raquel Lyra ainda não tinha comentando a denúncia. Seus perfis oficiais nas redes sociais preferiram destacar a assinatura de um empréstimo junto ao Banco do Brasil e a presença da “carreta da mulher” diante do Palácio do Campo das Princesas.
Os posicionamentos oficiais da PM e da SDS-PE provocaram uma reação indignada na advogada da vítima, Maju Leonel: ‘”É inadmissível a SDS dizer que só tomou conhecimento dos fatos na segunda feira, porque no sábado, dia seguinte ao crime, a vítima foi à delegacia e informou o ocorrido. Inclusive, disseram que ela deveria fazer a denúncia na corregedoria, a conduziram até Recife, mas antes de chegar ao destino, mandaram voltar para o Cabo, informando que todo o procedimento seria feito lá. Os comissários entram em contato com a corregedoria, então o comandante de plantão, cujo nome desconhecemos, enviou fotos para que ela reconhecesse o acusado, ela o reconheceu, mas nada disso foiformalizado”.
Na Ordem dos Advogados do Brasil, as notas oficiais também repercutiram mal. Nara Santa Cruz Oliveira, presidente da comissão de Direitos Humanos da entidade, foi enfática: “não adianta só lamentar e ficar lamentando, é preciso tomar providências concretas”. Para ela, “há intencionalidade em tentar omitir o fato de que o caso era de conhecimento das autoridades desde o sábado e que providências não foram tomadas, não realizaram o exame de corpo delito, não a encaminharam a um serviço de saúde”.
O Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), entidade que acompanha e monitora políticas de segurança pública e a violência policial, subiu o tom na manhã desta terça-feira e fez uma cobrança direta a Raquel Lyra: “posicionamento público da governadora de Pernambuco, reconhecendo a gravidade do ocorrido e assumindo compromisso político e institucional com a apuração rigorosa do caso. O silêncio ou a demora em se manifestar diante de um crime dessa natureza apenas reforçará a sensação de impunidade e enfraquecerá a confiança da sociedade nas instituições de
segurança pública”.
A Marco Zero também solicitou à assessoria do Governo do Estado um pronunciamento da governadora. Com viagem marcada para Dinamarca e China, ela concedeu entrevista à Rádio Folha, mas não tocou no assunto, limitando-se aos autoelogios e autopropaganda da gestão.
Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornais de bairro do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com
Jornalista e escritor. É o diretor de conteúdo da MZ.