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Presidente do sindicato dos motoristas de ônibus recebe ameaças de morte, mas greve começa com forte adesão

Jeniffer Oliveira / 12/08/2024
A imagem mostra um grupo de cinco pessoas em pé atrás de uma faixa. A foto foi feita à noite. A faixa tem um texto importante que indica o propósito da reunião. As pessoas parecem estar participando de uma manifestação ou protesto, como sugerido pela faixa que diz “Estamos em GREVE”. Esta frase é central para entender o contexto da imagem, indicando que essas pessoas provavelmente são trabalhadores participando de uma greve trabalhista.

Crédito: Instagram @rodoviariosrecifermr

Em meio a ameaças virtuais, intimidação da Polícia Militar e precarização dos trabalho, aproximadamente 80% da categoria dos rodoviários aderiu à greve iniciada na madrugada desta segunda-feira (12). Sem previsão para acabar, o Sindicato dos Rodoviários está mobilizado em todas as garagens para que a greve seja cumprida, com a garantia da frota de emergência nos horários de pico.

Horas antes do início da greve, recebeu mensagens e comentários nas redes postais com ameaças de morte explícitas contra o presidente do sindicato, Aldo Lima, com mensagens do tipo “se ônibus parar [sic] haverá sangue no sindicato” e “Aldo Lima será baleado nas costas”. A direção da entidade divulgou as ameças feitas por perfis falsos na tarde de domingo, mantendo a paralisão conforme decidido em assembleia.

“De repente a gente se depara nas nossas redes sociais com diversas ameaças, a partir de perfis fake, para tentar desmobilizar a greve, a gente acha um absurdo. Mas eu quero dizer aqui, garantir, que nenhuma intimidação, nenhuma ameaça vai fazer os rodoviários pararem”, reforça Aldo. A Marco Zero procurou a Polícia Civil para saber a respeito se haverá investigação, mas não obteve retorno.

Por 5% de aumento real e plano de saúde

A categoria está mais uma vez reivindicando melhorias nas condições de trabalho, reajuste salarial e plano de saúde para os trabalhadores das empresas de ônibus que operam na Região Metropolitana do Recife. Até o momento, a Urbana-PE teria oferecido um aumento de 4,2%, refletindo em apenas 0,5%de ganho real acima da inflação, aumento do adicional pela dupla função dos motoristas de R$ 140 para R$ 180 e o reajuste do vale-alimentação de R$ 366,40 para R$ 400.

No entanto, o sindicato reivindica 5% de aumento real no salário, que o valor da dupla função suba para R$ 500, o vale alimentação para R$ 700 e plano de saúde para todos os trabalhadores. “Nós somos o único estado do Nordeste que não tem plano de saúde para a categoria”, afirma o presidente do sindicato.

“São empresários daquela época bem coronelistas, que acham que o trabalhador não tem que ter aumento. Quando dão a inflação eles dão porque sabem que é uma obrigação deles, senão o tribunal irá dar. Mas quando é para a gente discutir avanços nas negociações, dificilmente a gente consegue. Lamentavelmente, porque a Urbana tem esse perfil bem escravagista”, ressalta.

Uma outra pauta levantada pelos grevistas é o posicionamento do Governo do Estado em relação a garantia desses direitos, pois a gestão do transporte coletivo de Pernambuco é tripartite, envolvendo estado, empresários e trabalhadores. Contudo, até o momento o governo ainda não atendeu a categoria.

“Não cabe ao governo estadual simplesmente se esquivar, achar que não tem responsabilidade com os trabalhadores e só se sentar com o empresário para aumentar o subsídio. E quando a gente vai ver nas discussões de campanha salarial, esses aumentos que são repassados em forma de subsídio, que é dinheiro público, não refletem nas melhorias das condições de trabalho, na valorização de salário e trabalhadores”, reitera Aldo.

PM faz pressão na porta das garagens

Enquanto o governo do estado não dialoga com os trabalhadores nas negociações para a melhoria dos direitos trabalhistas, a polícia militar atuou, no início da manhã, para que os ônibus saíssem das garagens.

O Sindicato dos Rodoviários publicou em suas redes sociais a ação da polícia militar em frente a garagem da empresa Itamaracá, em Abreu e Lima. No vídeo, enquanto os policiais afastam os grevistas, o advogado do sindicato, Sérgio Gonçalves, afirmava que “a polícia está obrigando os carros a saírem, estão empurrando a gente, usando truculência, não estão cumprindo o acordo da frota de emergência”.

No estado em que, no primeiro semestre, houve ao menos um roubo por ônibus por dia e 38 investidas contra transportes coletivos por mês, segundo dados da Secretaria de Defesa Social (SDS), os trabalhadores que estão expostos à falta de segurança pública, lidam com a presença da PM quando reivindicam o direito de greve.

“Isso acontece para reprimir o trabalhador lutando por direito. Agora, quando é para reprimir a criminalidade, a violência, infelizmente, não tem essa mesma disposição do governo em garantir o efetivo policial”, lamenta Aldo Lima.

Tribunal atende empresários e faz determinações

O Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT-6) determinou que 60% da frota de ônibus opere no Grande Recife em horários de pico, das 6h às 9h e das 17h às 20h, e 40% no restante do dia. O desembargador Fábio André de Farias, responsável pela decisão, também proibiu que os rodoviários realizem bloqueios em frente às garagens de ônibus e determinou uma multa diária de R$ 30 mil, caso o Sindicato dos Rodoviários não cumpra a decisão judicial.

Esta decisão foi tomada após os empresários protocolarem um pedido de julgamento do dissídio coletivo dos rodoviários no Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT-6), aceito parcialmente pelo magistrado.

A continuidade das negociações, acontecerá em uma audiência de conciliação entre o Sindicato dos Rodoviários e o Sindicato das Empresas de Ônibus (Urbana), prevista para a tarde desta terça-feira (13), a partir das 14h, na sede do TRT-6, localizada no bairro do Recife, área central da capital.

O que diz o Grande Recife:

O Grande Recife Consórcio de Transporte (CTM) informa que oficializou o Sindicato dos Operadores de Transporte e o Sindicato dos Rodoviários sobre a necessidade da continuidade parcial dos serviços durante o período de greve. Foi definido que seja mantida 60% da operação programada para o mês de agosto, durante os horários de pico, e 40% da operação para fora dos horários de pico, garantido o direito constitucional de greve, como também a continuidade do serviço essencial de transporte público. Todo serviço é realizado por empresas remuneradas pelo sistema, seja por meio de permissão ou por concessão de operação. Cabe a tais empresas a manutenção de vínculos com fornecedores de bens e serviços essenciais à operação programada. Desta forma, cabe ao órgão gestor acompanhar o cumprimento do serviço determinado de modo que se garanta sua disponibilidade à população, ainda que diante da greve que se estabeleceu nos operadores. O Governo do Estado aportou no ano de 2023 aproximadamente R$270 milhões em subsídio tarifário à população e R$ 56,7milhões em infraestrutura de terminais e estações de BRT.

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Jeniffer Oliveira

Jornalista formada pelo Centro Universitário Aeso Barros Melo – UNIAESO. Contato: jeniffer@marcozero.org.