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Reformado em 2013, Jardim Botânico volta a sofrer com manutenção precária e atrações interditadas

Maria Carolina Santos / 18/05/2022

Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

Foram anos e anos de completo abandono. Até que em 2013, teve início uma reforma milionária que deixou o Jardim Botânico do Recife com ares de nova atração turística. Na época, foram investidos R$ 2 milhões na abertura de seis novos espaços. A exuberante Mata Atlântica emoldurava novos jardins, estufas e áreas de convivência. Não durou dez anos. Com manutenção precária, o Jardim Botânico está novamente em estado de abandono.

Jardim sensorial? Interditado. Lanchonete? Deck? Anfiteatro? Interditado, interditado, interditado. Com exceção dos jardins de árvores maiores, ou os espaços que precisam de pouca estrutura, como a área dos maracujás, tudo está ou interditado ou visivelmente sem manutenção. Esculturas estão com as placas ilegíveis. Até algumas trilhas, que contam com estruturas de madeira, hoje corroídas, estão sem funcionar. Dos dois banheiros perto da área de convivência, apenas um estava em funcionamento quando a Marco Zero visitou o local.

A atração central é a que não depende tanto da prefeitura do Recife: a beleza das árvores e plantas dos mais de 100 hectares do fragmento de Mata Atlântica ao redor do Jardim Botânico. Todo o resto, vai mal. Em conversas reservadas, funcionários do Jardim Botânico reclamam da falta de segurança e da falta de pessoal e de verbas para manutenção.

De acordo com uma fonte ouvida pela Marco Zero, em alguns meses as despesas com manutenção do local não passa de R$ 500. A MZ solicitou, via Lei de Acesso à Informação (LAI), o orçamento mensal do Jardim Botânico. A resposta foi que “o Jardim Botânico não é independente e que os custos referentes a ele não tem dotações específicas. Logo, os dados referentes aos pagamentos passiveis de consulta serão da Secretaria e Fundo Municipal, não tendo o Jardim Botânico do Recife destinação separada dos custos da Secretaria”.

Nos custos da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade, há um decréscimo de gastos e investimentos nos últimos anos. Em 2019, a secretaria teve uma despesa de R$ 15,4 milhões. O valor caiu para R$ 11,2 milhões em 2020 e para R$ 9,9 milhões em 2021, anos marcados pela pandemia da covid-19.

Funcionários do Jardim Botânico afirmam que o descaso se tornou mais perceptível quando a Prefeitura do Recife anunciou em maio do ano passado que o equipamento iria entrar no estudo para a viabilização de parcerias públicos-privadas assinado com o Instituto Semeias. Além do Jardim Botânico, o Sítio da Trindade e o Parque da Jaqueira, entre outros parques, também estão incluídos neste estudo de viabilidade. Até agora, a única parceria público-privada com edital aberto pela gestão de João Campos (PSB) é a para a instalação de 108 relógios com monitoramento de segurança.

Quando os equipamentos estavam novos e em funcionamento, o Jardim Botânico recebia uma média de 10 mil visitantes por mês. Em 2022, de acordo com a prefeitura, o espaço recebeu apenas 11.222 visitantes, de janeiro a abril. O mês de janeiro foi o com maior número de visitas no ano: 3.850 visitantes, devido ao período de férias.

Em nota, a Prefeitura do Recife informou que está em “fase avançada de elaboração do projeto de requalificação do Jardim Botânico do Recife, que vai envolver banheiros, lago, centro de convivência, Jardim Sensorial, Arena Arbor, entre outros espaços. A expectativa é de que as obras comecem ainda em 2022”.

Apenas os espaços que não requerem estrutura estão em boas condições. Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

Auditório que deveria durar 50 anos já está interditado

Em dezembro de 2018, mais investimentos foram feitos no Jardim Botânico. Foi feita uma compra — que na época foi chamada de parceria, já que patrocinadores teriam doado o material — para que um projeto da CasaCor Pernambuco, a Arena Arbor, fosse transferida para o Jardim Botânico. A prefeitura do Recife pagou R$ 155 mil na estrutura de 64 m2 em formato de um pequeno auditório. Com teto retrátil e estrutura arrojada, inspirada na copa de uma árvore, o projeto da Selvagen Design e Arquitetura, empresa aberta em agosto daquele ano, é feito de metais, madeira certificada e MDF, com iluminação feita por 540 metros de fitas de LED.

Na época da aquisição, quando o secretário era Bruno Schwanbach, a compra da Arena Arbor foi anunciada durante o encerramento da própria Casacor de 2018 e justificada sob o argumento de que a vida útil do espaço seria de 50 anos, mesmo ficando ao ar livre. Sediaria palestras, oficinas e funcionaria como um ponto de apoio para os visitantes. Os planos não se concretizaram. A estrutura só foi aberta ao público quase dois anos depois, em setembro de 2020, quando o Jardim Botânico reabriu após ficar fechado por conta da pandemia.

A Arena Arbor era vista pelo então prefeito Geraldo Julio como algo que iria levar visitantes ao local. “O Jardim Botânico recebia só três mil pessoas por ano, na nossa gestão passou a receber 100 mil e agora com essa novidade, tenho certeza que esse número vai ser superado”, afirmou Geraldo Julio, em 2020.

Pouco mais de um ano depois, a Arena Arbor apareceu interditada. Dos 50 anos de vida útil, não chegou a durar nem dois anos aberta ininterruptamente. E, como diz a nota da prefeitura, já vai ser reformada. A estrutura de metal está corroída de ferrugem. As partes de madeira, desgastadas, quebradas e com farpas e pedaços soltos, apresentando risco para quem se aproxima. Não há sinal da iluminação de LED. O mato invadiu o lugar. O jardim de biomas, com cactos e suculentas, que também foi inaugurado na mesma época, e faz parte do projeto da Arena Arbor – que leva esse nome por conta de um patrocinador da obra na Casacor – é quase imperceptível.

Arena Arbor foi anunciada como atração que duraria meia século, mas já precisa de reforma. Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo

Funcionários denunciam violência

Localizado no bairro do Curado, às margens da BR-232, o Jardim Botânico fica em um lugar ermo. A segurança é um problema apontado por funcionários há anos, mas a gota d’água veio no ano passado quando um estagiário foi estuprado quando estava a caminho da parada de ônibus. Na mesma época, o corpo de um homem foi “desovado” na mata dentro dos limites do Jardim e encontrado por um funcionário terceirizado.

Como é uma área grande, a segurança é um desafio para o Jardim Botânico. Nas cerca de duas horas em que a reportagem esteve visitando o espaço em abril, vimos apenas uma guarda municipal, na entrada do espaço.

Em nota, a Prefeitura afirmou que a segurança do local é feita por guardas municipais e ainda conta com o apoio da Guarda Patrimonial. E que a sede da Brigada Ambiental fica dentro dos limites do parque. Já a Polícia Militar afirmou, também em nota, que o policiamento ostensivo no bairro do Curado é realizado, diuturnamente, pelo 12° BPM. “As rondas são executadas através de guarnições táticas, do Grupo de Apoio Tático Itinerante (GATI). Além das operações de Combate aos Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) e da Operação Conquista”, diz a nota.

A PM também afirmou que os Crimes Violentos Contra o Patrimônio (CVP) registraram, neste mês de maio de 2022, uma redução de 73% em relação ao mesmo período de 2021. “A PMPE orienta, ainda, a população a sempre que notar alguma movimentação estranha em suas comunidades, acionar as forças de segurança, no telefone 190, ou prestar uma queixa, posteriormente, na Delegacia de Polícia Civil”.

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AUTOR
Foto Maria Carolina Santos
Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Ávida leitora de romances, gosta de escrever sobre tecnologia, política e cultura. Contato: carolsantos@gmail.com