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Parte da população da IV etapa de Rio Doce, em Olinda, onde vivem cinco mil pessoas, enfrenta o abandono de uma policlínica há sete anos. Em vez de atendimento médico, o que se vê no terreno é mato alto, lixo, entulho e grades e janelas furtadas. Na frente, uma placa escancara o atraso: com recurso de cerca de R$ 1 milhão assegurada pelo Governo Federal, a mais recente promessa de reforma deveria ter começado em agosto de 2023 e terminado em janeiro deste ano.
Enquanto isso, as famílias que precisam de atendimento têm que se deslocar para outras unidades de saúde e enfrentar filas de espera. Em um dos redutos eleitorais do prefeito Professor Lupércio (PSD), há quase oito anos à frente da gestão municipal, a saúde na VI etapa de Rio Doce é o tema da segunda reportagem da série A Olinda que a prefeitura esqueceu. Ao final, conheça as propostas dos candidatos à prefeitura este ano.
“Para eu pegar a ficha para o médico é difícil. Porque eu não posso andar, eu tenho a perna amputada. Para eu andar, eu tenho que depender de uma cadeira, de um carro, de dinheiro, de gente. Quando a policlínica era aqui pertinho, era mais fácil”, diz a aposentada Rosilene Maria Dias, 65 anos, moradora da rua Esperança, ao lado da policlínica, há 18 anos. O local atendia, segundo a prefeitura, entre 150 e 200 pessoas por dia quando estava em funcionamento. Quase cega por conta da diabetes, ela perdeu parte de uma perna para a doença em 2020 e precisa constantemente de consultas e exames.
A cuidadora de Rosilene, Maria Luciene da Silva, 56 anos, conta que aguarda há três anos por uma colonoscopia. “Fiz a cirurgia de retirada de um tumor em 2019, tenho a requisição para o exame, mas o pessoal só manda aguardar”, relata, relatando que “todo telefone que toca eu tenho a esperança de que seja do posto de saúde”.
O caso da policlínica abandonada foi parar no Ministério Público de Pernambuco (MPPE). Em novembro de 2022, foi tema de uma audiência pública em que foi debatida a necessidade de reabertura dos serviços. A audiência aconteceu também para “incentivar a participação efetiva da comunidade diretamente afetada pela ausência da prestação de serviço à saúde no entorno”, como destacou, na época, a promotora Maisa Silva Melo de Oliveira, no texto da convocação.
Em frente à unidade, localizada na rua Trinta e Oito, fica o conjunto habitacional Júlia Beatriz, do Minha Casa Minha Vida, inaugurado pelo então governador Paulo Câmara, em dezembro de 2019, e onde vivem 224 famílias.
Em nota enviada à Marco Zero esta semana, o MPPE informou que a 2ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania de Olinda acompanha, por meio do procedimento administrativo, as obras da policlínica da IV etapa de Rio Doce. Como último andamento, dentro desse procedimento, a promotoria oficiou a Prefeitura de Olinda, no dia 3 de setembro, cobrando informações atualizadas da reforma. A gestão municipal tem um prazo de 30 dias para responder.
A dona de casa Francinete Maria Pimentel, 43 anos, tem cinco filhos, mora desde 1998 na comunidade CSU (Centro Social Urbano), como é conhecida essa localidade da IV etapa. Ela denuncia que cupins da policlínica abandonada já invadiram casas e que a quantidade de muriçocas aumentou bastante por causa do mato. De acordo com Francinete, para marcar médico em outro posto é preciso se arriscar saindo de casa de madrugada. Por orientação municipal, a policlínica da II etapa, a dois quilômetros, e outra policlínica da IV etapa, a um quilômetro de distância, estão acumulando os pacientes da comunidade CSU.
Segundo os indicadores de saúde (2017 a 2020), somente 50% dos olindenses tinham cobertura de agentes de saúde e 39% de saúde bucal. “A população aqui precisa muito, sobretudo as crianças e os idosos. Aqui perto, só temos a policlínica”, acrescenta a dona de casa. Além disso, ela reclama que não há dentista. Recentemente precisou se apertar para pagar por um procedimento dentário. “Mas a gente não tem condições muitas vezes de pagar R$ 100 a um dentista. Somos pessoas que vivem de Bolsa Família, de faxina”, explica.
À reportagem, a Prefeitura de Olinda informou que a primeira empresa licitada para reformar a policlínica da IV etapa de Rio Doce, a BSR Construtora e Incorporadora, descumpriu o contrato e foi punida. O reinício das obras está agora a cargo da Projetar Construções e Projetos. Diferente do que a MZ constatou na semana passada e do que os moradores da área relatam, a prefeitura afirma que a Projetar reiniciou os serviços em julho. No dia em que visitamos o local, havia somente um vigilante.
Segundo o plano de ação pactuado com a Caixa Econômica Federal, acrescentou a prefeitura, as obras se estenderão até 26 de dezembro de 2024.Entre a saída de uma e a entrada da outra, “a edificação passou por processo de vandalismo e depreciação, levando a necessidade de retrabalho alguns destes detectados por ocasião dos serviços ora executados”, diz a nota.
Assim, segundo a gestão, “os valores inicialmente pactuados para reforma da unidade sofreram ajustes necessários para garantia da funcionalidade da unidade custeados como contrapartida do município, através do Tesouro Municipal” e o valor da reforma está agora em R$ 946.752,86.
A prefeitura também acrescentou que há um esforço em reabrir 10 unidades de saúde que estavam fechadas quando Lupércio assumiu. A policlínica da IV etapa de Rio Doce é a única ainda sem entrega.
Mirella (PSD)
– Instituir um modelo de implantação de regiões sanitárias
– Ampliar a cobertura da Estratégia de Saúde da Família
– Transformar o perfil da Policlínica João de Barros Barreto em uma UPA-E
– Firmar parceria com o governo estadual para instalação de uma UPAe
– Reabertura da Maternidade Brites de Albuquerque
– Instituir uma Política Municipal de Atenção à Saúde Bucal
– Implementar duas Policlínicas da Mulher
– Investir na qualificação do atendimento em saúde para os casos de violência doméstica e sexual
– Instituir uma Política Municipal de Regulação em Saúde
– Implementar o Serviço de Atendimento Domiciliar (SAD)
– Ampliar as ações de promoção, prevenção e assistência da saúde mental
– Implantar um centro municipal de atenção às pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA)
– Ampliar o acesso aos medicamentos da atenção básica e a entrega em casa de kit de medicamentos de uso contínuo
– Disponibilizar meios de transporte para atendimento de emergência
– Aprimorar a atenção à saúde para atendimento da população descoberta e de áreas de difícil acesso
– Criar área dentro da gestão para apoiar a formação continuada dos profissionais de saúde
– Aprimorar a informatização de todas as unidades de assistência à saúde
– Otimizar os canais de comunicação e interação com os usuários
– Qualificar a gestão das unidades de saúde
– Fortalecer e ampliar o atendimento nos CAPS
– Modernizar a Vigilância Sanitária
– Fortalecer as ações desenvolvidas pelos agentes comunitários de saúde e pelos agentes comunitários de endemias
– Realizar eventos municipais de saúde, com vista à educação da comunidade
– Criação do Programa Nova Visão, com exames oftalmológicos e aquisição de óculos
– Aumentar a quantidade de Academias da Saúde
Vinícius Castello (PT)
– Requalificar, reformar e ampliar o serviço público de saúde municipal, melhorando as Unidades de Saúde, os Pronto-Socorros e reestruturando os hospitais, ampliando o número de leitos para pronto-atendimento
– Garantir acesso ao atendimento ginecológico de qualidade e ampliar o número de leitos da obstetrícia, com incentivo aos programas de parto humanizado
– Expandir o Ambulatório Rafaella Cicarelli, de atenção às pessoas LGBTQIAPN+
– Apoiar e ampliar o Programa Brasil Sorridente
– Implementar Práticas Integrativas e Complementares de Saúde (PICS)
– Fortalecer as Políticas Municipais de Vigilância em Saúde – sanitária, epidemiológica, ambiental e de trabalhadoras e trabalhadores
– Criação de centro técnico especializado de referência em saúde e atenção psicossocial às pessoas atípicas e com deficiência.
Izabel Urquiza (PL)
– Investir em políticas de saúde da pessoa com deficiência
– Investir em políticas de atenção básica, ampliando a cobertura da estratégia saúde da família e instituindo horários estendidos
– Priorizar a saúde bucal, contratando unidades odontológicas móveis
– Promover o controle de doenças crônicas não transmissíveis
– Fomentar programas de saúde ocular e de atenção à saúde da mulher
– Retomar a maternidade municipal
– Implantar um aplicativo que conecte a população aos serviços de saúde do município
– Implantar um núcleo de telemedicina
– Ampliar o número de equipes e equipamentos de diagnóstico por imagem
– Investir na assistência farmacêutica criando um comitê de farmacoterapia
– Promover políticas e rede de urgência e emergência, fortalecendo o SAMU
– Viabilizar programas para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA)
– Promover a regulação operacional da saúde
– Promover e garantir cuidados abrangentes e de qualidade para a população idosa
– Fortalecer a equipe médica através da contratação de profissionais por processos seletivos ou concursos públicos
– Fazer parcerias com faculdades para recrutar internos e aprimorar a formação da equipe
– Melhorar o atendimento nas policlínicas e centros de especialidades
– Ampliar a oferta de serviços especializados
– Oferecer diagnósticos precoces e tratamentos especializados mais acessíveis
– Implantar alternativas de contratação e fixação de profissionais médicos especialistas
– Implantar telemedicina para consultas de especialistas de difícil fixação local
– Implantar prontuário eletrônico na rede especializada integrado à atenção básica
– Aumentar a adesão e o acesso aos serviços de saúde da família rural
– Ampliar e qualificar os serviços de pré-natal e pós-natal
– Desenvolver campanhas educativas sobre cuidados durante a gravidez e planejamento familiar
– Implementar programas de educação sexual em escolas e comunidades
– Disponibilizar métodos contraceptivos gratuitos (DIU hormonal) e serviços de orientação sobre planejamento familiar
– Promover campanhas de conscientização sobre a prevenção e controle de ISTs
– Disponibilizar testes rápidos e gratuitos para ISTs
– Oferecer suporte contínuo para pessoas vivendo com HIV/AIDS
– Expandir os programas de rastreamento e diagnóstico precoce de câncer de colo de útero e mama
– Reduzir as taxas de morbidade e mortalidade feminina associadas a doenças evitáveis e condições graves
– Aprimorar a atenção clínico-ginecológica
Antônio Campos (PRTB)
– Médicos nos bairros
– Reestruturação dos postos de saúde
– Rotatividade mamamóvel
– Aumento de equipes PSF
– Aplicativo Saúde Agora
– Hospital da Mulher
– Centro de saúde mental
– Banco de leite
Márcio Botelho (PP)
– Promover a informatização do sistema de saúde para eliminar filas e resolver problemas de marcação e atendimento
– Desenvolver app municipal para agendar consultas e exames e acompanhar entrega de medicamentos, resultados de exames e marcações de consultas
– Expandir a Estratégia Saúde da Família (ESF)
– Incentivar mutirões de saúde para reduzir filas
– Implementar o sistema HÓRUS, do Ministério da Saúde
– Estabelecer laboratório de prótese dentária
– Estabelecer Centro de Imagem Municipal, com raio-X, ultrassonografia, mamografia, ecocardiograma e eletrocardiograma
– Reestruturar unidades de saúde
– Reabrir, investir e expandir laboratório de coletas de exames
– Implantar casa de parto
Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com