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Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo
As equipes técnicas dos ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima e da Ciência, Tecnologia e Inovação estão preparando dados, mapas e documentos para que as ministras Marina Silva (Rede) e Luciana Santos (PCdoB) anunciem oficialmente, ainda no mês de janeiro, que o mapa do semiárido vai mudar. A região onde chove menos de 800mm por ano e 60% a mais de risco de seca, aumentou sua área territorial dos atuais 569,4 mil Km2 para 796 mil Km2, indicando um crescimento de 75 mil Km2 a cada década, desde 1960.
O anúncio oficial ainda não tem data para acontecer, mas a página da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) intitulada “Delimitação do Semiárido” foi atualizada na manhã de quinta-feira, dia 11, e teve seu conteúdo substituído pela frase “conteúdo em atualização”.
As áreas classificadas como semiáridas se concentram na região Nordeste, com exceção do Maranhão, e norte de Minas Gerais.
Em 1960, período em que os dados das bases climatológicas começaram a ser divulgadas, a área de semiaridez era de 569 mil km², ou seja, em 60 anos e de acordo com o os ciclos de análise da pesquisa que consideram os períodos de 1960-1990, 1970-2000, 1980-2010 e 1990-2020, houve um aumento de 227 mil km².
Devido à expansão do semiárido, a área subúmida seca apresentou uma redução, passando de 365 mil km², em 1960, para 329 mil km², em 2020. Fazem parte do mesmo conjunto de efeitos das mudanças climáticas, o surgimento de uma região árida no Brasil, com pouco mais de 5,7 mil Km2 no norte da Bahia, e o crescimento do território susceptível à desertificação, que salta de 710 mil Km2 para mais de 1,08 milhão de Km2.
Todos esses dados foram obtidos na pesquisa realizada pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Esse estudo demonstrou que o déficit hídrico gerado pela insuficiência de chuvas em algumas regiões pode afetar severamente a produtividade dos solos e aumentar a incidência de queimadas, o que a longo prazo pode acarretar em uma maior incidência da desertificação.
O levantamento constatou ainda que há uma tendência de expansão da aridez em todo o país, com exceção apenas da região sul e do litoral dos estados de Rio de Janeiro e São Paulo. De acordo com os pesquisadores, as variações estão associadas ao aumento da temperatura que causa uma maior evapotranspiração atmosférica.
“O aumento da temperatura média global que vem ocorrendo, em virtude da intensificação do efeito estufa causada pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa, contribui para o aumento de áreas áridas em algumas regiões, como no semiárido nordestino. Ademais, quanto maior a aridez de um local ou região, menor é a disponibilidade de água. Outro fator que contribui para esse processo é relacionado às atividades de uso do solo, como desmatamento e queimadas que geram degradação do solo”, afirmou o coordenador-geral do INPE, Gilvan Sampaio.
O coordenador do centro de pesquisa que integra o MCTI alertou também para os riscos socioambientais causados pela incidência e expansão das áreas áridas: “os riscos estão associados a intensificação da mudança do clima, com uma região semiárida se tornando árida e isso está associado a mudanças no comportamento da atmosfera da região. Há o risco ambiental, associado à perda da biodiversidade e a disponibilidade de água, que fica cada vez menor. Há também o risco social e econômico, pois alguns cultivos agrícolas que hoje são possíveis nessa região não serão mais, em virtude da menor disponibilidade de água, e isso pode gerar, por exemplo, êxodo rural”.
Para o Governo Federal, as áreas suscetíveis à desertificação são definidas a partir de três categorias: subúmida seca, semiárida e árida. A categorização é calculada a partir de uma equação que leva em consideração o volume das precipitações de chuvas e a demanda de evaporação da atmosfera. Com isso, a aridez de uma região é caracterizada através do índice de aridez do solo, se este índice for menor do que 1, a demanda atmosférica é maior do que a precipitação, o que ocorre com mais frequência em regiões e biomas de clima mais seco como a Caatinga.
A partir dessas condições, pesquisadores do INPE e do Cemaden utilizaram uma base de dados climatológicos para analisar a variação da precipitação e a evapotranspiração do território brasileiro, no período entre 1960 e 2020.
De acordo com Alexandre Pires, diretor de combate à desertificação do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, a pesquisa do INPE e Cemaden faz parte de uma série de ações do governo federal para mitigar o aumento da desertificação e suas consequências.
“A gente espera que esses dados nos ajudem na atualização do Plano Nacional de Combate à Desertificação e com isso nós esperamos traçar estratégias um pouco mais ousadas. Nosso objetivo é pensar em um plano para ser executado em 20 anos, e que dê resultados através do processo de monitoramento contínuo, definição de metasde curto, médio e longo prazo, com prazos específicos e com previsão orçamentária”, afirmou o diretor.
O anúncio dos novos dados sobre as áreas áridas no Brasil corrobora com a pesquisa realizada pelo meteorologista e cientista fundador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Humberto Barbosa. Divulgado em novembro de 2023, o estudo demonstrou que a incidência das áreas áridas severamente degradadas já são responsáveis por provocar a redução das chuvas causando assim um aumento de secas, principalmente na região Nordeste.
A pesquisa do Lapis utilizou dados do satélite Meteosat e foi desenvolvida com uma metodologia que permitiu a comparação entre a atividade da vegetação e da atmosfera. O estudo analisou a umidade do solo e a temperatura através da resposta da vegetação em períodos de seca, entre os anos de 2004 e 2022. Com isso, as análises levaram em consideração os índices de vegetação, precipitação, umidade do solo e temperatura.
Jornalista e mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco.