Ajude a MZ com um PIX de qualquer valor para a MZ: chave CNPJ 28.660.021/0001-52
Crédito: Andréa Rêgo Barros/PCR
Provocados pelo grupo pernambucano de teatro Magiluth, seis vereadores do Recife destinaram, no ano passado, um total de R$ 190 mil em emendas parlamentares deste ano para editais de ocupação do Teatro do Parque, na Boa Vista, centro da cidade, com ingressos a preços populares. A verba, até agora, não foi executada pela Fundação de Cultura Cidade do Recife (FCCR).
O equipamento cultural ficou fechado por 10 anos para reformas e, desde que reabriu, em dezembro de 2020, ainda durante a pandemia de covid-19, não foi contemplado com iniciativas que ampliem o acesso do público, como acontecia no passado, com os famosos projetos Seis e Meia e Cinema por R$ 1 real.
Os vereadores foram: Chico Kiko (PP) – R$ 10 mil, Cida Pedrosa (PCdoB) – R$ 30 mil, Dani Portela (Psol) – R$ 30 mil, Fabiano Ferraz (Avante) – R$ 20 mil, Ivan Moraes (PSOL) – R$ 30 mil, Liana Cirne (PT) – R$ 10 mil, Prof. Mirinho (SD) – R$ 10 mil, Samuel Salazar (MDB) – R$ 30 mil e Romerinho Jatobá (PSB) – R$ 20 mil.
O Magiluth lotou o Parque, em maio de 2022, numa apresentação única, com ingressos a R$ 1 real, do espetáculo Estudo n° 1: Morte e Vida, inspirado no clássico da literatura Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. Na peça, alguns dos temas abordados são as questões trabalhistas e de precarização.
O valor foi estabelecido em comemoração ao Dia do Trabalhador na ideia de protestar pela necessidade de opções de lazer a preços populares, sobretudo num cenário de abandono do centro da cidade. Nesta terça-feira, 9 de maio, um ano depois, o Magiluth estreou no Recife o Miró: Estudo nº 2 e, ao final do espetáculo, no Teatro Santa Isabel, cobrou a Prefeitura do Recife e pediu que a população também pressionasse pela iniciativa.
“É possível fazer com o que o Teatro do Parque volte a ser um equipamento cultural ocupado pelo povo e com preços populares, como ele sempre foi. O que o trabalhador produz, a ele deve pertencer”, defendeu o Magiluth em publicação no Instagram na ocasião do espetáculo em 2022.
Um dos integrantes do grupo, Giordano Castro lembra a importância do Parque, sua ótima localização geográfica e a responsabilidade constitucional de acesso à cultura. “É preciso aproveitar que um equipamento cultural como o Teatro do Parque, reaberto depois de 10 anos, está perto de uma das vias onde passa a maior quantidade de ônibus da cidade, a avenida Conde da Boa Vista. Seria fundamental que a prefeitura pensasse em um projeto popular de ocupação, sabendo que isso faria com que a área ao redor ganhasse vida novamente”, defende.
Giordano lembra que, após a elogiada reforma, o teatro acabou sendo destinado a produções com valores altos, o que termina afastando o público de menor poder aquisitivo.
A ideia da proposta é que, com o pagamento de um cachê semanal para grupos de teatro e dança da cidade de várias linguagens, possibilitar que o público pague apenas R$ 1 real para assistir às apresentações, fazendo disso um calendário fixo.
“Pensar um dia da semana para que o trabalhador aproveite a saída do trabalho e já emende numa atividade cultural. Isso sem colocar em risco a própria manutenção e a vida do teatro, deixando o final de semana para as produções que vêm de fora ou para eventuais shows”, detalha o ator.
Na avaliação do vereador Ivan Moraes, “O Teatro do Parque, que voltou a funcionar depois de muita luta, tem vocação para a democratização da cultura. Essa iniciativa inédita, que contou com a participação de diversos mandatos, garante os recursos para que grupos de artes cênicas possam ser incentivados financeiramente ao mesmo tempo em que possibilitam o acesso à arte para a população, independente de poder ou não pagar por isso”.
Foi ele quem, no ano passado, tomou a iniciativa das emendas parlamentares e dialogou com os demais membros da Câmara do Recife pela importância da verba e da popularidade do Teatro do Parque.
A Marco Zero procurou a Prefeitura do Recife, que enviou a seguinte nota:
É louvável a iniciativa do grupo de parlamentares municipais, que se articulou para propor emenda voltada ao Teatro do Parque. A ação vem ao encontro de princípios adotados pela gestão municipal de cultura, que trabalha para que novos projetos cheguem, sempre, ao maior número possível de pessoas, movimentando a cadeia produtiva e democratizando o acesso a bens culturais. Os editais do SIC são exemplos concretos. Com relação a futuro edital que viabilize uma ocupação do Parque com ingressos a preços populares, sugestão apontada em emenda coletiva, informamos que o recurso proposto, quando disponível por remanejamento interno, será utilizado para este fim, uma vez que não é remetido diretamente pela Câmara Municipal. A previsão de lançamento é o início do segundo semestre, quando já estarão “rodando” projetos do SIC – em fase de análise – e em andamento a Lei Paulo Gustavo.
Uma questão importante!
Colocar em prática um projeto jornalístico ousado custa caro. Precisamos do apoio das nossas leitoras e leitores para realizar tudo que planejamos com um mínimo de tranquilidade. Doe para a Marco Zero. É muito fácil. Você pode acessar nossapágina de doaçãoou, se preferir, usar nossoPIX (CNPJ: 28.660.021/0001-52).
Apoie o jornalismo que está do seu lado
Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com