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Variante delta cresce em Pernambuco e já é predominante no Brasil

Maria Carolina Santos / 10/09/2021

Foto: Miva Filho/SES-PE

A Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) divulgou hoje mais uma rodada de sequenciamento genético de amostras de pacientes confirmados para a Covid-19 feito pelo Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz PE). Das 22 amostras sequenciadas, 15 (68,1%) foram de pacientes infectados com a linhagem Delta. Isso quer dizer que a delta já é predominante no estado? Ainda não.

É preciso avaliar com clareza os dados. Essa pequena amostra, de apenas 22 pacientes, não foi escolhida aleatoriamente, como os sequenciamentos de rotina. “Essa rodada foi focada em amostra inusitadas, ou seja, sobre as quais já havia uma suspeita prévia do Lacen-PE e/ou SES-PE de que poderiam estar infectadas pela variante delta. Dessa forma, essa amostragem provavelmente não representa a frequência real da delta no estado”, explica o pesquisador da Fiocruz-PE Gabriel Wallau, que trabalha na vigilância genômica.

No total, Pernambuco já identificou 29 casos da variante delta. Dessas 15 novas confirmações, 14 são de pacientes das cidades pernambucanas de Araçoiaba (1), Caruaru (4), Escada (1), Jaboatão dos Guararapes (1), Jataúba (2), Quipapá (1), Recife (3) e Fernando de Noronha (1), além de um pacientes de São Paulo/Ubatuba, turista que foi testado e notificado por Fernando de Noronha.

Das últimas 15 amostras, 14 foram de pacientes leves. O único paciente grave foi a óbito no dia 23 de agosto. De acordo com a SES-PE, era um morador do Recife, de 75 anos, com comorbidades como diabetes, doença cardiovascular crônica e portador de marcapasso. A secretaria não informou se ele havia recebido as duas doses da vacina contra a covid-19.

Originária da Índia, a variante delta foi inicialmente identificada em Pernambuco em meados de julho, em tripulantes de um navio filipino que ancorou no Recife. Pesquisas apontam que a delta é mais transmissível e também há indícios de que cause doença mais grave. No Brasil, tem se espalhado mais lentamente que a variante gama, identificada originalmente no Amazonas.

Crescimento da delta (roxo) no Brasil. Imagem: Fiocruz

A delta já é a variante predominante no Brasil, de acordo com dados da Rede Genômica da Fiocruz. No mês de agosto, 62,4% das amostras da vigilância genômica do Sars-CoV-2 no Brasil (que inclui a Fiocruz e outras instituições) correspondiam à variante delta. No Nordeste, a gama ainda prevalece sobre a delta, de acordo com os dados de agosto: das 106 amostras, 34 eram de delta e o restante de gama. Em Pernambuco, das 60 amostras de agosto, apenas 10% foram de delta.

O pesquisador Gabriel Wallau afirma que para se ter uma ideia melhor de como está a delta em Pernambuco é preciso esperar o processamento das amostras selecionadas aleatoriamente. O resultado deve sair até o final da próxima semana e abarca cerca de 100 amostras. “Ainda assim, (pelo resultado das 22 amostras divulgado hoje) pode se concluir que o aumento expressivo da delta em outros estados brasileiros está influenciando uma maior transmissão da delta para Pernambuco e, possivelmente, outros estados do Nordeste”, alerta.

Os números da covid-19 em Pernambuco pararam de cair e agora estão estabilizados. De acordo com a SES-PE, na semana que terminou no dia 04 de setembro o estado registrou 380 casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag), sete casos a mais do que na semana anterior.

UTIs quase lotadas no Rio de Janeiro

Com uma quantidade muito maior de amostras sequenciadas, é o Sudeste que mostra um amplo predomínio da delta. No Rio de Janeiro, foram 371 amostras sequenciadas em agosto, das quais 349 eram da delta e apenas 22 das demais. Considerado o estado epicentro da variante no Brasil, houve um novo pico de casos há quatro semanas no Rio de Janeiro, mas nas duas últimas semanas houve uma redução de 26% nas internações.

O momento, porém, ainda é crítico, com a capital fluminense sendo a única com ocupação de UTI covid-19 acima dos 90% – estava com 94% de ocupação na semana de 29 de agosto a 4 de setembro, de acordo com a Fiocruz. Mesmo assim, o governo e a prefeitura do Rio de Janeiro relaxaram nas medidas de prevenção e autorizaram eventos-teste, como a liberação de público no estádio do Maracanã a partir do dia 15.

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Foto Maria Carolina Santos
Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Ávida leitora de romances, gosta de escrever sobre tecnologia, política e cultura. Contato: carolsantos@gmail.com