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Como o conservadorismo e a desinformação levaram parte do Brasil a acreditar que a suposta “ideologia de gênero” é a grande ameaça à família brasileira e ao currículo escolar? Para entender o País de 2019 e o pânico moral que sustentou a campanha eleitoral de 2018 e vem pautando o governo Bolsonaro, é preciso levar em consideração as conexões entre mídia, igreja e política nos últimos 30 anos. O contexto atual não seria possível sem o apoio neopentecostal e católico, sem uma frente ultraconservadora no Congresso Nacional e sem um ecossistema de mídia que dá vazão às narrativas da extrema-direita.
Fruto de pesquisas, análises de redes, semântica e jornalismo de dados, o projeto O Reino Sagrado da Desinformação, coordenado pela Gênero e Número em parceria com a Marco Zero Conteúdo, narra, com dados, reportagens de fôlego e imagens, como diversos atores, em todas as regiões brasileiras, se conectam tendo ao centro a grande questão de gênero. A Marco Zero Conteúdo foi responsável pelo mapeamento e pela produção da reportagem sobre o Nordeste, em que mostra que a ascensão de mulheres líderes evangélicas no cenário político nordestino está diretamente relacionada ao discurso antifeminista e ao perfil da mulher submissa.
As palavras “mulher”, “criança” e “escola” são as mais citadas entre as que compõem o universo das palavras-chave identificadas pela Gênero e Número nos discursos que promovem a “ideologia de gênero”. A análise de discurso de perfis no Twitter mostra que a narrativa predominante no ataque às questões de gênero no Brasil passa, primeiramente, pela educação e pela tentativa de definir a mulher na sociedade – sem contemplar o feminismo, que pouco aparece no vocabulário conservador dos tuítes.
Os perfis analisados foram previamente mapeados, com apuração jornalística e metodologia de pesquisa, fora da plataforma Twitter. Foram listados 120 nomes, nas cinco regiões do Brasil, que atuam nos campos da política, da mídia e da religião e que influenciam o debate da ideologia de gênero com viés ultraconservador. Na sequência, esses nomes foram identificados no Twitter, por ser essa a plataforma central de conversação e narrativas diárias dos atores bolsonaristas e seus aliados.
Para sensibilizar as famílias brasileiras e convencê-las de que as escolas estão ideologizadas com conteúdos de gênero e sexualidade sendo apresentados de forma precoce e até pornográfica aos alunos, o movimento antigênero ocupa diferentes redutos sociais: vai das igrejas às redes sociais. É um ativismo conservador. Os perfis que se posicionam contra a “ideologia de gênero” mapeados no Reino Sagrado da Desinformação são pessoas públicas, mas nem todas com grande exposição midiática (navegue pela rede e pela análise semântica).
Os gráficos do Reino da Desinformação mostram a relação entre os principais nomes da mídia, religião e política, permitindo também visualizar palavras-chave usadas no Twitter. A análise dessa complexa rede também foi utilizada para embasar as reportagens, publicadas em oito capítulos, produzidos numa convergência de jornalismo de dados, pesquisa aplicada e produção teórica acadêmica.
CAP I NO BRASIL: A PALAVRA
CAP II NO NORTE: A ORIGEM
CAP III NO NORDESTE: SUBMISSÃO
CAP IV NO CENTRO-OESTE: CONCESSÕES
CAP V NO SUDESTE: O SHOW DE JOICE
CAP VI NO SUL: O PAÍS PARANÁ
CAP VII PROSPERIDADE
CAP VIII ENTREVISTA: JUDITH BUTLER
Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com