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Ocupa Política defende mais diversidade nos espaços institucionais de poder

Marco Zero Conteúdo / 30/08/2019

Crédito: Beto Figueiroa

Por Helena Dias e Mariama Correia

selo ocupa políticaAtivistas políticos da América Latina e da Europa abriram o primeiro dia de debates do Ocupa Política no Recife, na manhã desta sexta-feira (28). A sala de exibição do cinema São Luiz, no Centro da cidade, recebeu o evento, que se apresenta como uma articulação nacional para estimular candidaturas de coletivos e ativistas e ampliar a participação da sociedade na política institucional.

Mas, se a política muitas vezes se apresenta como uma fonte de decepções, sobretudo no Brasil atual, por que ocupá-la? Esta foi a pergunta fundamental direcionada às mesas de debates. A primeira foi composta por Beatriz Sanchez, do Chile; Marcelo Expósito, da Espanha; Márcia Santacruz, da Colômbia e Carmen Silva, de Pernambuco. A mediação foi feita pela deputada federal Áurea Carolina (Psol), da Gabinetona, de Minas, que ocupa, além do mandato em Brasília, espaços na Câmara de Belo Horizonte e na Assembleia do estado.

Já a segunda mesa foi composta pela candidata a deputada federal pelo PCB de Pernambuco nas eleições de 2018, Amanda Palha; o vereador do Recife Ivan Moraes (PSOL); a deputada estadual de São Paulo, Marina Helou (Rede); a secretária nacional da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Selma Deodina; Elaine Mineiro, dos movimentos da periferia e da cultura de São Paulo; e pela liderança indígena Darupü’üna, da etnia Tikuna.

Política de proximidade

Beatriz Sánchez, que foi candidata à presidência do Chile pela Frente Amplio em 2017, usou sua experiência de campanha para falar sobre a ideia de “política de proximidade” como forma de enfrentar a onda conservadora mundial. “Não vamos falar para nós mesmos. A política precisa ser feita para fora, para a rua onde as pessoas vivem”, considerou.

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O cinema São Luiz recebeu centenas de ativistas para o primeiro dia de debates do Ocupa Política. Crédito: Beto Figueiroa

As novas direitas radicais que estão ganhando força no cenário global não são apenas um movimento de retrocesso, na avaliação do ativista e político espanhol, Marcelo Expósito. “São a tentativa de fazer renascer um passado de escravidão, de ditaduras e de falta de direitos”, disse. Ele acredita que as frentes de direita são uma resposta aos governos populares que surgiram nos últimos anos, sobretudo na América Latina, e que é preciso assumir uma postura mais ativa, não apenas de defesa, diante do avanço dessas forças. “Não devemos menosprezar a capacidade das direitas radicais de oferecer falsas soluções para os problemas da população”, lembrou.

Afrofeminista e presidente do Amigos da UNESCO, a colombiana Márcia Santacruz usou o cenário político no seu país como exemplo de como é importante fortalecer movimentos que se opõem ao radicalismo na política. “Precisamos recuperar vozes diversas. A política precisa reconhecer a luta de classes como um caminho para a diversidade”.

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Márcia Santacruz, da Colômbia, a pernambucana Carmen Silva, a deputada federal por Minas Áurea Carolina, a ex-candidata a presidente do Chile Beatriz Sanchez e o ativista Marcelo Expósito, da Espanha, formaram a primeira mesa de debate no São Luiz. Crédito: Divulgação Ocupa Política

Essa diversidade é comprometida pela agenda ultraneoliberal dos governos de extrema direita, muito relacionada aos radicalismos religiosos, que não dialoga com as tradições culturais, avaliou Carmen Silva, pernambucana e representante da Articulação Feminista Marco Sul e do grupo SOS Corpo.

O “fascismo” que caracterizaria governos de políticos como o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PSL) não tem mais características nacionalistas como no passado, e sim o predomínio dos interesses das corporações mundiais, na opinião de Carmen. Esses interesses se sobrepõem a conquistas sociais e trabalhistas, que estão sendo esvaziadas no Brasil. “A gente quer construir um mundo melhor para nós e para as futuras gerações. Por isso que a gente se envolve na política”, considerou.

Diferente da primeira mesa de discussão, em que o intercâmbio internacional se fez presente, o segundo debate foi feito entre vozes brasileiras de diversos estados. A pergunta seguiu sendo “Por que ocupar a política?” e foi dirigida aos integrantes da mesa, que trouxeram reflexões de lugares bem distintos politicamente.

Subversão da ordem

Ao falar do combate à onda conservadora que toma conta do mundo, Amanda Palha classificou como uma “furada” a segmentação do campo político da esquerda entre “pautas identitárias e pautas de classe”. Para ela, o país vive uma retomada do colonialismo que é “primeiramente, racista e machista” e que deve ser combatido com a “subversão total da ordem”.

O cenário político e social ao qual Amanda se refere começou a ser desenhado mais concretamente e internacionalmente a partir da crise econômica de 2008 e, nos anos mais recentes, sustenta o quadro de recessão e estagnação da economia nacional que tem causado impactos profundos nas políticas voltadas para a área social. Na opinião da ex-candidata, o governo Jair Bolsonaro (PSL) legitima esse processo. “Enquanto o governo dá certo e facilita a gerência internacional no país, o conservadorismo avança”.

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Amanda Palha defendeu a “subversão total da ordem” para enfrentar o conservadorismo que avança no Brasil sob o governo Bolsonaro. Crédito: Divulgação Ocupa Política

Em uma linha mais voltada para as experiências do fazer política no formato dos mandatos coletivos e de todas as forças que compõem o Ocupa Política, o vereador do Recife, Ivan Moraes (PSOL), afirmou a necessidade das pessoas se fazerem presentes dentro da vida partidária e institucional. “Não estou dizendo que a via institucional é que vai salvar a gente, mas não podemos ignorar. Começamos a entender que nós podemos ocupar esses lugares, nos filiamos a partidos e começamos a disputar as eleições. Depois foi aprender a fazer o mandato e fazer as coisas acontecerem. Tudo o que nos é proposto pelos movimentos e a gente pode dizer abertamente nas ruas, a gente faz”.

A política feita a partir do território

Foi justamente sobre a rua e as movimentações políticas que são feitas nela, que a integrante dos movimentos de periferia e cultura da cidade de São Paulo, Elaine Mineiro, trouxe reflexões. Ela defende que as novas formas de fazer política passam pelas conquistas já alcançadas e que as periferias são essenciais no fortalecimento e na construção de novos quadros, já que “o território nosso constrói a gente como político”.

Como uma das conquistas já alcançadas, ela destacou a lei de fomento à periferia, aprovada em São Paulo sob forte pressão popular. “A gente tem vocação para fazer uma política limpa que irradia, mas temos dificuldades em transferir isso para a representação política”.

A deputada estadual de São Paulo pela Rede, Marina Helou, também trouxe suas experiências como parlamentar progressista em meio à onda conservadora. Comparando uma fotografia que ela havia visto, em que um barco aparecia sozinho em mar aberto diante da nuvem de fumaça formada pelas queimadas na Amazônia, Marina disse que muitas vezes se sente solitária no legislativo paulista. Mas ela lembrou que é importante não fazer dessa onda algo maior do que ela realmente é.

“Esse bolsonarismo racista, armamentista, preconceituoso não é desse tamanho todo. Ele se apropriou do ressentimento das pessoas, do quanto é difícil hoje ter uma boa vida”. Para ela, a necessidade de entender como o bolsonarismo funciona é importante na ocupação da política e na construção de soluções para quando a onda conservadora passar.

A secretária nacional da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Selma Deodina, começou sua fala com dados. O Brasil possui 6 mil quilombos e Pernambuco é o quinto estado com mais comunidades quilombolas do país. Selma iniciou sua declaração falando sobre resistência em um cenário de enfraquecimento dos conselhos populares que dão vozes à sociedade na formulação das políticas públicas.

Atualmente, de acordo com ela, comunidades quilombolas têm passado por mais dificuldades para serem reconhecidas como tal. Selma lembra do desmonte do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e da Fundação Cultural Palmares que tem sido intensificado pelo atual governo. “Ele (o governo) não fecha, ele faz pior… Ele tira o dinheiro”. Assim como Amanda Palha, ela defendeu uma convergência no campo da esquerda, mas direcionou o pedido para as questões raciais. “Esquerda racista conosco não vai ter vez”.

No mesmo tom de resistência, a liderança indígena Darupü’üna, da etnia Tikuna, foi enfática ao se referir às queimadas que tomaram conta da região amazônica. “A Amazônia está sendo enterrada viva e os indígenas também”. Ela, que participa das lutas ativistas pelos direitos do seu povo desde os cinco anos, quando acompanhava o pai nos processos de demarcação de terra, acredita que a sua presença no Ocupa Política serve para a construção de um “novo caminho com a população e os parlamentares para descolonizar e desvincular a política do padrão”.

Ao fim do evento, Darupü’üna convidou todos a dançarem e baterem palmas acompanhando o seu canto aos ancestrais em sua língua raiz. O momento marcou o fim da primeira manhã de debates do Ocupa Política. Na tarde dessa sexta-feira, a programação segue com oficinas nas comunidades do Bode, Coque, Ilha de Deus e Xambá.

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Marco Zero Conteúdo

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