“Desde que a Faixa Azul foi implantada, a fluidez do tráfego dos ônibus aumentou em até 56%. Isso significa mais tempo para família, para o lazer e para o descanso.” – Geraldo Julio, em sua página oficial no Facebookno dia 20 de agosto
Uma das apostas da Prefeitura do Recife para tentar dar mais fluidez ao trânsito da cidade foi a implantação, a partir de 2013, das faixas exclusivas para ônibus (Faixa Azul) em alguns dos principais corredores de transporte público da capital. Até agora, estão funcionando sete dessas vias, somando um total de 32 quilômetros.
Para se ter ideia de quanto o problema da mobilidade urbana afeta o dia a dia dos recifenses, basta ver o levantamento feito pela empresa de tráfego TomTom, com dados coletados por aparelhos GPS em 2015, que coloca a capital pernambucana como a oitava cidade no mundo e a terceira no país onde os motoristas perdem mais tempo no trânsito. No Brasil, Recife fica atrás apenas do Rio de Janeiro e de Salvador. Em um ano, segundo oTomTom Traffic Index 2016, o motorista recifense perde 160 horas em congestionamentos.
A afirmação de Geraldo Julio sobre o aumento médio da velocidade dos ônibus na Faixa Azul foi baseada em uma reportagem da Folha de Pernambuco (na postagem do seu Facebook consta, inclusive, um link para a matéria) que, por sua vez, cita dados fornecidos pela Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano do Recife. O Truco Eleições 2016 – projeto de fact-checking da Agência Pública, no Recife feito em parceria com aMarco Zero Conteúdo – checou a declaração do candidato à reeleição e verificou que ela é exagerada e discutível. Por isso, recebe a carta “Não é bem assim”.
O primeiro ponto discutível na declaração do candidato do PSB foi ele tomar uma parte pelo todo. O aumento de 56% da velocidade, segundo os dados apresentados na reportagem citada pelo candidato do PSB e confirmados pelo Truco com a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano da Prefeitura, aconteceu apenas na Faixa Azul da avenida Recife, no horário das 6h às 9h, quando a velocidade média passou de 14,8 km/h para 23,1 km/h, e não na média de todas as faixas azuis da cidade. Na mesma faixa da avenida Recife, só que no horário das 17h às 19h, por exemplo, a velocidade aumentou 47%.
O Truco solicitou à Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano e também à Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) os dados referentes a medição de velocidade nas outras seis faixas azuis já implantadas (avenidaReal da Torre, avenida Conselheiro Aguiar, avenida Domingos Ferreira, avenida Mascarenhas de Moraes, rua Cosme Viana e avenida Herculano Bandeira). A ideia era calcular o real aumento da velocidade média dos ônibus em todas as vias exclusivas. Tanto a secretaria quanto a CTTU responderam não ter esses dados disponíveis, só tendo aqueles já divulgados à imprensa.
A exemplo do que aconteceu no caso da Faixa Azul da avenida Recife, a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano divulga, de forma esporádica, dados pontuais sobre a velocidade das vias exclusivas. O Truco analisou todos os releases divulgados sobre o assunto no site da Prefeitura desde 2013 (quando foi implantada a primeira faixa) e fez um levantamento dos números apresentados.
Mesmo com os dados incompletos, foi possível observar que nas demais faixas azuis da cidade o aumento de velocidade variou bastante, indo dos 38,8% no corredor da rua Cosme Viana, que passou de uma média de 18 km/h para 25 km/h, até os 118% da Av. Herculano Bandeira, que antes da faixa tinha uma média de 11 km/h e depois cresceu para 24 km/h.
De qualquer forma, em todas as sete faixas azuis implantadas no Recife foi registrado um aumento significativo na velocidade média. Segundo o professor da Universidade Federal de Pernambuco e especialista em transporte urbano, Maurício Pina, a opção pelas faixas exclusivas foi a melhor para o Recife, já que aumenta a fluidez do tráfego com um baixo custo. O que falta no Recife, segundo Pina, é implantar as faixas exclusivas em toda extensão de todos os corredores de transporte público da capital.
Por isso, Geraldo Julio está exagerando quando afirma que “Isso [aumento de 56% da velocidade] significa mais tempo para família, para o lazer e para o descanso”. Como a área implantada de faixas azuis ainda é proporcionalmente pequena, o ganho de tempo acaba se tornando insignificante.
Um bom exemplo disso é a própria Faixa Azul da avenida Recife. Como são apenas 3,6 quilômetrosde faixa, 1,8 quilômetroem cada sentido da via, o benefício do aumento de 56% na velocidade neste trecho significa apenas a redução de, em média, 2 minutos e 42 segundos no tempo gasto pelo passageiro dentro do ônibus. Isso no horário de pico da manhã, entre 6h e 9h. Quando a viagem é entre 17h e 19h, período que apresentou um aumento de velocidade de 47%, a economia de tempo é de 2 minutos e 13 segundos.
(Sérgio Miguel Buarque · Carol Seixas)