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Após seis meses preso, André Arcanjo será julgado por um crime que assegura não ter cometido

Raíssa Ebrahim / 13/04/2022

Crédito: Instagram @andrearcanjo_

Após seis meses preso por um crime que ele assegura não ter cometido, o recifense André Arcanjo, 41 anos, finalmente terá o processo de julgamento iniciado. A partir da próxima terça-feira, dia 19 de abril, começam as audiências de instrução no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). As testemunhas serão ouvidas em sessão online às 9h.

André, homem negro, do bairro de Areias, na zona oeste, foi enviado ao Centro de Observação Criminológica e Triagem Prof. Everardo Luna (Cotel) em outubro do ano passado após ser acusado de latrocínio – mesmo sem provas consistentes, na visão dos responsáveis pela sua defesa – depois da conclusão do inquérito feito pela Polícia Civil de Pernambuco.

Auxiliar de farmácia, com emprego fixo numa Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e sem antecedentes criminais, André foi apontado como cúmplice pelo roubo seguido do assassinato de um vizinho idoso e amigo que frequentava e ajudava há mais de 20 anos. Família, amigos, companheiros de igreja e colegas de trabalho negam veementemente as acusações e estão lutando para que ele possa ao menos responder em liberdade.

A Justiça converteu sua prisão em preventiva, após acatar denúncia oferecida pelo Ministério Público, em novembro do ano passado. André teve o habeas corpus negado pelo TJPE em janeiro deste ano. A defesa dele recorreu e levou o pedido de soltura ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Um movimento em prol da justiça no caso está sendo articulado por movimentos sociais locais para acontecer um dia antes do início do julgamento, na segunda (18).

Suspeitos saíram do HB20 e se dirigiram ao portão ainda aberto. Crédito: reprodução vídeo

Relembre o caso

André Arcanjo frequentava a casa da vítima, Edvaldo Oliveira Carvalho, conhecido na comunidade como Seu Valdo, por ter uma relação de amizade com o senhor de 71 anos e ajudá-lo nas tarefas de cuidado e higiene de sua esposa, que sofre de Mal de Alzheimer. Por ser auxiliar de farmácia e trabalhar em unidades de saúde, André ajudava até mesmo a dar banho na agora viúva.

O crime aconteceu em julho de 2021. André foi convidado por Seu Valdo para tomar um café, um convite até então rotineiro. Porém, ao entrar, foi surpreendido por dois homens que saíram de um carro HB20 estacionado próximo e, já dentro do imóvel, anunciaram o assalto. Em sua versão, André relata que foi rendido e isolado num cômodo da casa junto com outros dois vizinhos que estavam prestando serviço na residência.

André conta que pediu socorro e chegou a tentar reanimar Seu Valdo quando os bandidos foram embora. Sem sucesso, o idoso faleceu no local, onde André permaneceu até a chegada do Instituto de Medicina Legal (IML). Depois, para cooperar com a polícia, foi de livre e espontânea vontade à delegacia, sem advogados, para prestar depoimento e até forneceu o próprio celular na ideia de contribuir com as investigações.

Três meses depois do ocorrido, o susto: de testemunha, André passou a réu. Ele foi preso pela Polícia Civil de Pernambuco como um dos acusados pela morte do amigo e vizinho. O inquérito ficou a cargo do delegado Vitor Meira Toscano Pereira, da 4ª Delegacia de Polícia de Homicídios do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). O mandado de prisão foi expedido pela 1ª Vara Criminal da capital.

As provas se baseiam somente em imagens captadas pela câmera de um vizinho da vítima, em que André aparece, por alguns segundos, entrando no imóvel. Logo na sequência, como se estivessem esperando a oportunidade de invadir a residência, dois homens saem do HB20 estacionado no terreno da frente e aproveitam para entrar. As imagens não têm áudio.

Outros dois suspeitos também estão presos: um deles é Rodrigo de Freitas, vizinho que teria almoçado com Seu Valdo e que já estava na casa quando André chegou. O outro é Romário Pereira, acusado pela polícia de ser um dos dois homens que saem do veículo. Rodrigo e Romário também afirmam inocência.

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AUTOR
Foto Raíssa Ebrahim
Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com