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Crédito: Arnaldo Sete/Marco Zero Conteúdo
O Relatório Anual do Desmatamento (RAD), divulgado pelo MapBiomas, revelou que, em 2022, mais de 4 mil hectares da caatinga foram desmatados devido às atividades das usinas de energia eólica e solar, incluindo as linhas de transmissão. Essa foi a primeira vez que o levantamento da organização considerou a expansão da infraestrutura das energias renováveis como um vetor de desmatamento.
De acordo com o relatório, pelo menos 69 alertas de desmatamento foram registrados em áreas de empreendimentos eólicos, totalizando 1.087,8 hectares. Já nas áreas de usinas fotovoltaicas, foram registrados 23 alertas, que atingiram 3.203,48 hectares.Somados, os empreendimentos de energia renovável apresentaram alertas de desmatamento em uma área de 4.291,28 hectares.
Os dados da pesquisa atestam que as denúncias apresentadas por organizações não-governamentais, – como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Cáritas Brasil -, agricultores, pescadores e moradores de regiões próximas aos parques de energia eólica têm fundamento, uma vez que os desmatamentos causados por esses empreendimentos implicam em um forte impacto ambiental.
A pesquisa revelou ainda que a Caatinga foi o terceiro bioma mais destruído no ano passado e apresentou um aumento de 22,2% no número de desmatamento, em relação a 2021, com uma área total desmatada de 140.637 hectares.
A Caatinga é o único bioma de florestas exclusivamente brasileira, que possui a maior parte de sua vegetação no Semiárido e abriga mais de 11 mil espécies de vegetais e mais de 1.307 espécies animais. O bioma está ameaçado por um um forte processo de desertificação. De acordo com o Instituto Nacional do Semiárido (Insa), 85% do Semiárido brasileiro está em processo de desertificação moderado e 9% está efetivamente desertificado, tornando o processo de reversão quase impossível.
A fim de denunciar os danos causados pelos parques eólicos e usinas fotovoltaicas na região do Semiárido, a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) entregou uma carta ao presidente Lula contestando a implantação dos empreendimentos.
“Quando olhamos para a história recente do Semiárido, nos deparamos com a contradição de políticas de convivência ora pautadas no saber local e nas tecnologias sociais; ora pautadas nas grandes obras, levando lucro para alguns, em detrimento da manutenção de direitos e modos de vida dos povos que vivem na região. […] Os parques eólicos e as fazendas solares chegaram ao Semiárido com uma promessa de energia limpa, com retornos ambientais e financeiros para as comunidades, o que não é verdadeiro. As terras onde as turbinas estão instaladas tornam-se improdutivas”, declarou a ASA no documento.
De acordo com o Relatório Anual do Desmatamento (RAD), de 2019 até 2022, o total da área desmatada no Brasil foi de 6.606.499 hectares, o que corresponde a 1,5 vezes o tamanho do estado do Rio de Janeiro. Em 2022, foram registrados 76.193 alertas de desmatamento no país e foram desmatados 2.057.251 hectares, o que corresponde a 90% da área do estado de Sergipe, um aumento de 22,3% da área desmatada, se comparado a 2021.
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Jornalista e mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco.