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Protesto no Recife e em outras 14 cidades pede o fim do abate dos jumentos no Brasil

Maria Carolina Santos / 30/07/2023

Crédito: Maria Carolina Santos/MZ Conteúdo

Quinze estados se uniram, neste domingo (30), em protestos contra o abate de jumentos no Brasil. No Recife, a manifestação ocorreu na frente do Cais do Sertão, no Recife Antigo. Os ativistas da causa animal denunciam que o abate em grande escala que vem ocorrendo no Brasil desde 2016 , principalmente no estado da Bahia, pode levar o jumento para a extinção no Nordeste.

“Nosso objetivo é chamar a atenção da sociedade para a situação que os jumentos estão passando hoje no Brasil, de muito sofrimento e até de uma possível extinção”, afirma a ativista Iolanda Silva, do Fórum de Bem Estar Animal (Febema), entidade responsável pela organização do ato no Recife.

Em 2018, a Frente Nacional de Defesa dos Jumentos, movimento que desde 2016 luta contra o abate de jumentos no Brasil, ajuizou ação civil pública na Justiça Federal de Salvador e conseguiu a suspensão liminar dos abates. Em 2019, a liminar foi suspensa. Após vários recursos, no ano passado a Frente Nacional de Defesa dos Jumentos conseguiu restabelecer a liminar, que, contudo, segundo os ativistas, está sendo descumprida pelos abatedouros.

Segundo a entidade, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) está baseando a continuidade dos abates em uma decisão anterior do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), também do ano passado. Porém, a decisão liminar contra o abate é mais recente e deveria ser implementada e fiscalizada, até que a ação civil pública seja julgada, diz a entidade.

“A liminar contra o abate segue em vigor e o nosso objetivo é que mais pessoas assinem a petição nacional para pressionar o Ministério da Agricultura e Pecuária a cumprir e fiscalizar essa legislação. Os jumentos estão sendo abatidos de forma cruel. Há crueldade desde a forma que são capturados até o local onde ficam esperando ser abatidos, muitas vezes até sem água, morrendo de sede É um abate de forma cruel e que também é um grave problema de saúde pública”, diz a ativista Goretti Queiroz.

No site https://salveosjumentos.org.br, é possível enviar e-mails para pressionar os magistrados que estão julgando a causa e fazer doação para a entidade.

China usa couro do jumento para remédios sem comprovação científica

Alexandre Moraes, da coordenação da Febema, afirma que os jumentos são vendidos para o abate muitas vezes por valores bem baixos, por até R$ 20, R$ 30. “Há uma exploração inclusive da sociedade menos favorecida, que por vezes vende seu animal por um preço insignificante. Queremos que não ocorra mais o abate e que haja um plano de como fazer o manejo dessa espécie. Temos situações diferentes: animais soltos que são levados ao abates, animais que são vendidos e até animais que estavam em santuários e foram roubados”, diz.

Os ativistas denunciam que o comércio é lucrativo somente para a China, e não para o Brasil. O interesse da China nos jumentos é pelo couro: dele é retirada uma substância, uma espécie de colágeno, que é usada para fazer o ejiao. Na medicina tradicional chinesa, o eijao é usado para uma miríade de problemas, desde a anemia e insônia até impotência sexual. Não há comprovação científica da eficiência do eijao.

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“Como só interessa para a China o couro do jumento, pouco importa para os abatedouros a condição que o animal chega. Enquanto o abatedouro de gado bovino preza pela manutenção da quantidade de carne, para esses de jumento pouca importa, só querem a pele, que é mais valiosa. Então, o animal pode chegar magro, com sede, mutilado, morto. É uma atividade que é lucrativa para um ou dois empresários – e mesmo que fosse para muitos, estaríamos contra”, afirma Alexandre. A carne, que virou subproduto, é geralmente vendida para o Vietnã.

A Frente Nacional em Defesa dos Jumentos argumenta que a extinção da espécie no Brasil pode ocorrer porque não existe uma cadeia produtiva para abate – como acontece, por exemplo, com o gado. “É um risco sério. No Sertão, é muito difícil encontrar os jumentos pelas ruas, como era comum há dez anos. Uma jumenta leva cerca de 12 meses em uma gestação e a previsão é de até 64 mil abatimentos de jumentos por ano. É uma conta que não fecha e que revela o perigo desse abate”, afirma Iolanda Silva.A população atual de jumentos no Nordeste é estimada em 600.000 animais.

Dados da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos apontam que cerca de 90 mil jumentos morrem por ano no Brasil porque, além do abate, há muitas mortes entre a captura, as fazendas e os abatedouros.

Apesar do cenário crítico, Alexandre Moura acredita que os direitos dos animais devem avançar nos próximos anos. “O Governo Federal criou um departamento de Direitos dos Animais no Ministério do Meio Ambiente. E teve também o PPA (Plano Plurianual) Participativo,em que a proposta mais votada, no segmente meio ambiente, foi a política nacional de castração para cães e gatos. Há um olhar mais atento da população para os animais”, acredita.

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AUTOR
Foto Maria Carolina Santos
Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Contato: carolsantos@marcozero.org