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Crédito: Marco Zero Conteúdo
por André Frej Hazineh*
A recente ação histórica e heroica da resistência palestina promoveu, mais uma vez, um movimento midiático de espetacularização do pretenso sofrimento de quem vive nas colônias sionistas nos territórios ocupados.
E, como de costume, a representação palestina no Brasil foi silenciada, como se não houvesse o outro lado da notícia.
Nesse sentido, eu poderia escrever sobre o direito internacional e inalienável de autodefesa ante projetos coloniais, sobre a limpeza étnica promovida pela entidade sionista desde a catástrofe de 1948, sobre o fato de Israel ter sido denunciado pelas contantes violações dos direitos humanos e por promover o apartheid, conforme documentos da Anistia Internacional e do Human Rights Watch.
Poderia ainda contestar a pecha que se quer imputar sobre o Hamas, movimento de resistência palestino eleito democraticamente para exercer o poder político na Faixa de Gaza, a verdadeira prisão à céu aberto, ou melhor, fechada no espaço áereo, territorial e marítimo.
Poderia, finalmente, constatar que a população eurojudia que hoje ocupa a Palestina e promove o holocausto é a mesma que foi vítima do nazismo na Segunda Guerra Mundial, por mais irônico que possa parecer, pra não dizer trágico.
Poderia, mas não pretendo fazê-lo.
Penso ser oportuno trazer a lume a experiência de ser um filho da diáspora palestina que nos meus 52 anos de vida sempre fui vítima de leituras distorcidas da realidade sobre a Questão Palestina.
Primeiramente, destaque-se, a ignorância é irmã do preconceito e da intolerância, e as pessoas escolhem se manter mal informadas sobre determinados temas, como restou comprovado nos últimos anos na arena eleitoral brasileira.
Diante de tal escolha, a vida inteira – e o tempo inteiro – me vejo coagido a ter de explicar o que se passa na Palestina ocupada militarmente pelo estado teocrático judeu, tentando desmistificar uma visão hegemônica de que Israel teria o direito de promover carnificina baseado numa narrativa, pasmem, religiosa.
Por outro lado, imiscuiu-se nas mentes dementes uma confusão intencional tentando associar a luta pela existência na Palestina às vertentes mais fundamentalistas do muçulmanismo, tentativa que logra êxito principalmente junto aos segmentos religiosos pentecostais, neopentecostais e do catolicismo carismático.
Nesse caso, de nada adianta tentar ensinar o beabá, dar leitinho para crianças numa linguagem pueril, porque, quando se trata de fé, as visões são embaçadas por uma teo-ideologia dominante que limita a capacidade de discernimento da realidade.
Essa perspectiva, por sinal, se agravou nos anos Bolsonaro, quando financiar os crimes de Israel entrou no radar do Governo, com o apoio incondicional de sua turba fanática, fato demasiadamente doloroso, por saber que seu eleitorado era (ainda é !) composto por familiares, bem como pessoas de origem árabe ou professantes da fé islâmica.
E a novidade (que não veio dar na praia porque o mundo é tão desigual) é, na condição de semita, ser acusado de antissemitismo, justamente por quem não suporta ouvir nosso grito a denunciar o projeto social genocida em curso no que restou dos territórios da Palestina histórica.
De novo no front, também, é a invenção disseminada desde a autoproclamação do Estado de Israel de que existiria um tal de sionismo de esquerda como se fosse possível normalizar o apartheid, a limpeza étnica, a violação constante e ininterrupta dos direitos humanos na Palestina, testemunhando companheiras e companheiros – supostamente de esquerda – que pregam a justiça social, a autodeterminação dos povos, a igualdade, defenderem os massacres perpetrados desde a Nakba.
Viver a palestinidade e defender a causa palestina no Brasil é assumir o risco de sofrer assédios em ambientes religiosos, profissionais, escolares etc, onde vez por outra a gente recebe alcunhas do tipo “homem bomba”; chega dá vontade de sair cantando por aí: “… eu ia explodir mas eles não vão ver os meus pedaços por aí… me deixa que hoje eu tô de bobeira…”.
Mesmo não enxergando poesia em ser sempre apelidado levianamente de “terrorista”, me socorro nas escrituras do poeta palestino Mahmoud Darwish, vítima da limpeza étnica em 1948, para terminar esse relato de alguém que insiste em ter esperança e não correr da luta.
Ocuparam minha pátria
Expulsaram meu povo
Anularam minha identidade
E me chamaram de terrorista
Confiscaram minha propriedade
Arrancaram meu pomar
Demoliram minha casa
E me chamaram de terrorista
Legislaram leis fascistas
Praticaram odiada apartheid
Destruíram, dividiram, humilharam E me chamaram de terrorista
Assassinaram minhas alegrias,
Sequestraram minhas esperanças,
Algemaram meus sonhos,
Quando recusei todas as barbáries
Eles… mataram um terrorista!
*Jornalista, analista judiciário do TRE-PE e membro do coletivo Aliança Palestina Recife
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Marco Zero Conteúdo
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