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Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo
Se está morna a temperatura interna dos partidos políticos para definir os nomes que enfrentarão o favoritismo do atual prefeito do Recife, em 2024, o mesmo não pode ser dito quando o assunto é o cargo que, até o momento, parece ser o mais cobiçado nas próximas eleições municipais: a vaga de vice de João Campos (PSB). Não falta quem queira ocupar o lugar da atual vice-prefeita Isabella de Roldão (PDT).
A explicação para isso está na perspectiva de vitória de Campos em 2024, o que reforçaria – e muito – suas pretensões de vencer a atual governadora Raquel Lyra na eleição seguinte, em 2026, deixando o caminho aberto na prefeitura da capital para quem estiver na vice.
Na aliança que apoia o prefeito, a atual vice-prefeita já é considerada como fora do páreo, tanto pela fragilidade do seu partido, que não conseguiu reeleger Wolney Queiroz para sua bancada de 17 deputados federais em Brasília e naufragou nacionalmente com Ciro Gomes, quanto pela postura da própria Isabella, que declarou voto em Raquel Lyra e tem se aproximado da governadora. No primeiro escalão da gestão municipal há quem aposte que Isabella poderá ser a candidata de Raquel no próximo ano.
Procurada pela Marco Zero, a vice-prefeita informou, por meio de sua assessoria, que não comentaria o assunto.
A aliança nacional entre PT e PSB para eleger Lula e Geraldo Alckmin vice-presidente seria o bastante para justificar o direito dos petistas a indicar o companheiro ou companheira de chapa de João Campos no Recife. O diretório municipal do PT acredita nisso, tanto que, às claras e antes de todos, já indicou para a vaga o nome do médico e ex-vereador do Recife Mozart Sales, atualmente subordinado ao ministro das Relações Institucionais Alexandre Padilha na secretaria de Assuntos Parlamentares da Presidência.
A indicação pegou carona em uma declaração pública do senador Humberto Costa, que, no final de outubro, disse que o PT tinha de exercer papel de “protagonista” nas eleições municipais em 2024. Logo em seguida, o ministro Padilha confirmou em entrevista a uma rádio recifense que seu assessor estava no páreo.
A indicação pegou de surpresa boa parte do PT e está longe de ser unanimidade. Explica-se: a executiva do PT em Recife, que levantou o nome de Mozart, é dominada pela tendência Democracia Socialista (DS), que costuma bater de frente com a Construindo um Novo Brasil (CNB), liderada por Humberto Costa, nas disputas internas em Pernambuco. No entanto, Mozart era considerado um militante mais próximo do próprio Humberto e até do PSB, por meio da amizade com o ex-deputado federal socialista e ex-presidente do Imip, Antônio Figueira, do que da DS.
De acordo com Adriano Costa, da executiva estadual do PT e integrante do Grupo de Trabalho Eleitoral do Recife (instância com representantes de todas as tendências que, como o nome já diz, discute exclusivamente cenários eleitorais), a explicação para a indicação de Mozart está no fato dele ter trânsito nas esferas nacional, estadual e municipal do partido, além de boa relação com vários grupos do PSB. De um ex-secretário estadual das administrações socialistas, ouvimos o relato de que, ao descobrir que estava gravemente doente, Antônio Figueira teria pedido a Mozart Sales que se colocasse à disposição para ajudar João Campos na prefeitura, estabelecendo um vínculo com a família Campos.
Ao menos em tese, tudo isso o tornaria um nome de fácil assimilação pelo PSB, na hipótese do prefeito se afastar para ser candidato a governador em 2026. Por essas razões, outras duas tendências, incluindo a da senadora Tereza Leitão, já manifestaram apoio à indicação.
Apesar de conhecido nos bastidores da política e com boas referências técnicas em saúde pública, pesa contra Mozart a baixa densidade eleitoral e de ser um nome pouco conhecido do público, apesar de ter sido um dos criadores do programa Mais Médicos, quando foi chefe de gabinete do Ministério da Saúde no governo Dilma Rousseff, com Padilha como ministro.
Uma simples pesquisa no Google revela outro dos seus pontos fracos: em 2016, ele foi um dos alvos da Polícia Federal em uma investigação de direcionamento de licitações na estatal Hemobrás. O caso foi arquivado e Mozart foi inocentado, mas, um ex-parlamentar que integra a tendência CNB ouvido por este repórter não acredita que João Campos carregaria esse peso para sua chapa.
Por considerar a candidatura a vice-prefeito ao lado de João Campos como um espaço reservado ao PT, outros nomes de integrantes do partido circulam em uma lista informal. A movimentação da vereadora Liana Cirne não passa despercebida. Sempre na linha de frente dos eventos do partido, principalmente ao lado do senador Humberto Costa, a parlamentar também cessou as críticas à administração municipal em seus inflamados discursos na Câmara Municipal.
A seu favor, Liana conta com a visibilidade que passou a ter após ser agredida por policiais militares durante um ato “Fora Bolsonaro”, em 29 de maio de 2021, e com mais de 57 mil votos para deputada federal, em 2022, dos quais 26 mil foram obtidos no Recife, o que a fez ficar entre os 10 nomes mais votados na capital pernambucana. No entanto, o mesmo integrante da CNB citado anteriormente comenta que a mobilização de Liana é de caráter pessoal e não de uma ou mais tendências.
Oficialmente, Liana nega a postulação, afirmando que “eleição a gente só discute em ano de eleição, até lá a discussão de um nome para compor a chapa precisa passar por grande debate que envolva o Diretório Municipal, o Diretório Nacional e a coordenação do GTE do Recife, coordenada por Cirilo Mota, e do GTE Nacional, presidida pelo Senador Humberto Costa”. Apesar disso, ela adverte que o “O PT tem um legado social gigante no Recife”, e que, por isso, o melhor a fazer seria “garantir um programa de governo que reflita os anseios do povo mais pobre da nossa cidade, sustentabilidade e participação popular são prioridades”.
Com um perfil mais discreto e correndo por fora, o deputado federal Carlos Veras admite a possibilidade de vir a ser vice-prefeito do Recife. “Ter nosso nome cogitado ou especulado para ser vice no Recife e estar na majoritária é fruto do nosso trabalho, é fruto de um mandato coletivo e de nossa atuação parlamentar”.
Ele lembrou que, em 2022, foi cogitado pelo partido para ser senador. “Nossa atuação acaba sendo reconhecida e lembrada pelo partido, pelas lideranças políticas e pela população do Recife e de Pernambuco”. Dos 127 mil votos que o reelegeram para a Câmara Federal, apenas 14 mil vieram do Recife, pois sua atuação é mais intensa entre agricultores e trabalhadores rurais do agreste e do sertão pernambucano.
Há quem não acredite – ou não deseje – que a aliança entre o PT e o PSB seja inevitável em 2024. Esse parece ser o caso do ex-prefeito do Recife e deputado estadual João Paulo. “Primeiro, é preciso entender que a lógica da política não é mecânica. Se João Campos for reeleito prefeito, isso não quer dizer que, automaticamente, ele será eleito governador em 2026 como algumas pessoas estão pensando”, pondera, dizendo estranhar ter sido procurado para falar de uma possível candidatura a vice do atual prefeito. “É a primeira vez que ouço falar disso”.
Para reforçar seu ponto de vista, o petista relembra sua própria eleição para prefeito, em 2000: “Jarbas Vasconcelos tinha sido eleito governador com facilidade dois anos antes e apoiava Roberto Magalhães, que liderava todas as pesquisas”. Para o ex-prefeito, que “ressuscitou” eleitoralmente em 2022, ao ser reeleito deputado estadual com 74 mil votos, mais do que o dobro dos seus 29 mil votos quatro anos antes, a aliança municipal vai depender das tratativas nacionais, pesando inclusive o cenário em São Paulo, onde o PSB vai com Tábata Amaral e o PT tem o compromisso de apoiar Guilherme Boulos, do PSOL.
“Vou dizer uma coisa: aos 71 anos, nunca me senti tão bem e tão preparado para administrar uma cidade como o Recife”, resume João Paulo, deixando explícito que ele sonha com algo mais em 2024.
A lista de quem não aposta e não quer a reedição no Recife da união entre petistas e socialistas é engrossada pelos políticos de direita que apoiam o atual prefeito e possuem generosas cotas de cargos na gestão da prefeitura. Entre os aliados de João Campos não é novidade que, os partidos do “centrão” no Recife sonham com o presidente da Câmara Municipal do Recife, Romerinho Jatobá, como vice-prefeito a partir de 1º de janeiro de 2025.
Durante a apuração desta reportagem, a assessoria de Jatobá informou por WhatsApp que “não há nenhuma movimentação de Romerinho Jatobá nesse sentido de pleitear o cargo de vice-prefeito do Recife. Romerinho segue trabalhando em prol de sua candidatura à reeleição de vereador do Recife”.
Apesar da negativa, Jatobá segue ampliando seus espaços e seu peso na prefeitura. De acordo com dois vereadores da base de apoio ao PSB no legislativo municipal, partiu dele a indicação para que o prefeito nomeasse o ex-vereador de extrema-direita Dilson Batista (Avante), bolsonarista convicto, para um cargo de gerente-geral na Procuradoria Geral do Município, com um salário superior a R$ 9,1 mil.
Em 2020, Dílson chegou a ser eleito vereador pelo PSB com 11.500 votos. Mas, no ano seguinte, a Justiça Eleitoral em Pernambuco cassou o registro da chapa proporcional do partido Avante no Recife por conta da legenda ter descumprido a cota de gênero prevista em lei. Ele foi filiado ao PR de 2008 a 2016 e ao PROS, de 2016 a 2020. Para quem não sabe, o PR mudou de nome é hoje é o PL, de Jair Bolsonaro. O PROS esteve ao lado dos bolsonaristas em 80% das votações no Congresso Nacional.
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Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.