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Mais tiroteios e mais mortes provocadas pela polícia no Grande Recife em 2023

Jeniffer Oliveira / 02/02/2024
Buraco em vidraça feito por disparo de arma de fogo.

Crédito: Freepik/Vecstock

O relatório anual do Instituto Fogo Cruzado, divulgado nesta semana, aponta que o ano de 2023 teve o maior número de tiroteios registrados nos últimos cinco anos no Grande Recife, com aumento de 8% em relação ao ano anterior. Desde que a organização começou a monitorar a violência armada na região metropolitana, em 2019, a violência atingiu seu auge ano passado, com 1.827 trocas de tiros contabilizadas, o que dá uma média de exatamente cinco tiroteios por dia, durante todo o ano.Em contraste, 2019 foi o ano de menor volume de tiroteios (1.287).

Nos tiroteios, 2.076 pessoas foram baleadas, resultando em 1.497 mortos e 579 feridos. Ainda em comparação com a série histórica, o número de vítimas fatais indica que as mortes ocorreram em 97% dos tiroteios. Isso quer dizer que 2023 foi o ano mais letal, com uma média de seis baleados por dia na região metropolitana do Recife.

Se comparado apenas a 2022, houve aumento de 14% na quantidade de mortos e queda de 9% na quantidade de feridos, o ano anterior acumulou 1.945 baleados, com 1.308 mortos e 637 feridos.

Relatório anual 2023/Instituto Fogo Cruzado

Em números absolutos, as cinco cidades mais atingidas pela violência armada foram Recife, com 673 tiroteios (521 mortos e 241 feridos); Jaboatão dos Guararapes, com 347 tiroteios (296 mortos e 103 feridos); Olinda com 214 tiroteios (173 mortos e 58 feridos); Cabo de Santo Agostinho com 143 tiroteios (123 mortos e 39 feridos); e Paulista com 91 tiroteios (75 mortos e 18 feridos).

Jaboatão dos Guararapes concentrou o maior número de bairros com mais tiroteios. Dos cinco bairros da RMR mais afetados, quatro estão localizados na cidade: Muribeca, Barra de Jangada, Prazeres e Cajueiro Seco. Da capital, apenas a Iputinga apareceu no ranking dos 10 mais violentos.

O relatório também traz o perfil dessas vítimas. A maioria dos baleados foram homens adultos, representando 90% dos atingidos. Considerando as profissões, entre os trabalhadores informais, foram 11 entregadores/motoboys, 14 mototaxistas, 12 motoristas de aplicativo e 12 vendedores ambulantes. Já na segurança pública, 21 agentes policiais foram baleados no Grande Recife.

Relatório anual 2023/Instituto Fogo Cruzado

Polícia mata mais no 1º ano de Raquel Lyra

Outro índice que chama a atenção é o maior envolvimento de policiais nas mortes violentas. No Grande Recife, 2023 teve os maiores números de toda a série histórica. Foram 99 tiroteios em ações e operações policiais, que resultaram em 113 baleados pela polícia, principalmente a militar, incluindo os 13 mortos em quatro chacinas.

O relatório ressalta que esse aumento de casos coincide com o primeiro ano de gestão da governadora Raquel Lyra (PSDB). Até outubro de 2023, os índices apontavam aumento em mortes violentas intencionais, mortes em decorrência de envolvimento policial e feminicídio, não só na região metropolitana, mas em todo o estado.

Quando analisado de janeiro a dezembro, de acordo com a base de dados abertos da Secretaria de Defesa Social (SDS), 2023 registrou um total de 3.633 de mortes violentas intencionais (MVIs), enquanto no ano anterior, foram 3.425. Diferente dos dados do Fogo Cruzado que analisam apenas violência armada, as MVIs são caracterizadas pela soma de indicadores de diferentes tipos de crimes que resultam em mortes, como homicídio, latrocínio, feminicídio, lesão corporal seguida de morte e morte decorrente de intervenção policial.

Relatório anual 2023/Instituto Fogo Cruzado

O estado passou o ano todo sem ter um plano efetivo de segurança pública. Em julho, foi anunciado o programa Juntos pela Segurança, no entanto, apenas no final de novembro o Governo do Estado apresentou à população o plano estadual de segurança pública e defesa social em detalhes. Entre as novidades, o que mais chamou atenção foi o estabelecimento da meta de redução de 30% até 2026 dos três indicadores prioritários: crimes contra a vida, violência contra a mulher e roubos.Caso seja atingida, será o menor índice desde 1985.

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Foto Jeniffer Oliveira
Jeniffer Oliveira

Jornalista formada pelo Centro Universitário Aeso Barros Melo – UNIAESO. Contato: jeniffer@marcozero.org.