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Sem mobilização social, tragédia causada pela chuva seria maior em Pernambuco

Giovanna Carneiro / 06/02/2025

Baldo do Rio, no município de Goiana, Pernambuco

Crédito: Reprodução/ Internet

“Diante do contexto que a gente ‘tá’, eu acho que vocês já devem começar a se organizar, o pico da maré tá agora de nove e meia da manhã, ela vai começar a avançar e depois só vai subir a noite. […] Então, por favor, fiquem atentos, quem ainda não preparou sua bolsa de sobrevivência, por favor, preparem sua bolsa de sobrevivência, é importante que a gente esteja o máximo possível preparado. É aquele negócio de se preparar para o pior, mas esperando que não aconteça”.

Por volta das 9h da manhã da última quarta-feira, 5 de fevereiro, a líder do projeto Gris Solidário, Joice Paixão, já alertava os moradores de áreas próximas ao Rio Capibaribe, no bairro da Várzea, a estarem preparados para deixar suas moradias em caso de enchentes. O alerta de estágio de risco máximo feito pela Prefeitura do Recife foi emitido poucas horas depois, junto com a indicação de abrigos disponíveis para receber as famílias em situação de vulnerabilidade.

Em outro ponto crítico da cidade, suscetível a enfrentar graves consequências em períodos de grandes chuvas, com registros de deslizamentos de barreira, a advogada Lídia Lins, responsável pela iniciativa Ibura Mais Cultura também se mobilizou para mitigar os desastres. Em um vídeo gravado no bairro do Ibura, a advogada aconselhou os moradores de áreas de risco a prepararem uma “bolsa de emergência”.

“Nessa bolsa, tu coloca teus documentos, documentos de toda a sua família, das pessoas que moram com você, coloca receita médica e medicamentos, se possível, anota num papelzinho o número de familiares, de vizinhos, de pessoas que possam ser sua rede de apoio e também os contatos dos órgãos responsáveis pelas situações de emergência como SAMU e Defesa Civil. É importante também, dentro dessa bolsa, colocar tudo o que for considerado essencial para você”, recomendou Lins.

Já no bairro de Coqueiral, próximo a Bacia do Rio Tejipió, o pastor José Marcos Silva, da Igreja Batista de Coqueiral, acionava a brigada dos bombeiros e uma equipe de voluntários para realizar o resgate de pessoas que estavam ilhadas, entre elas idosos com dificuldades de locomoção.

“É uma pena que a gente tenha que passar por tudo isso, quando a gente sabe que tudo isso tem solução. Não era para estar assim, tem solução política para tudo isso. Então peço orações e eu espero que essa chuva pare, para a gente não ter muitos transtornos, além dos que a gente já tem”, declarou o pastor em um vídeo postado nas redes sociais.

Todas as iniciativas e projetos sociais citados acima atuam de forma constante na mitigação dos impactos que as cheias, enchentes e deslizamentos de barreiras trazem para a população do Recife e da Região Metropolitana e já estão preparados para lidar com todo o transtorno do período chuvoso. No entanto, desta vez, os fortes volumes de chuva chegaram bem antes do esperado.

E mais uma vez organizações da sociedade civil se mobilizam para auxiliar famílias que perderam seus pertences e estão desabrigadas. Seja através da comunicação mais direta e rápida com a população, que chega como forma de prevenção às tragédias, ou através de doações de donativos para mitigar os transtornos causados pela falta de planejamento e assistência do poder público.

A seguir, listamos as organizações que estão recolhendo doações para as famílias em situação de vulnerabilidade e atingidas pelas chuvas:

Seis mortes confirmadas

As fortes chuvas que atingiram o Recife e a Região Metropolitana desde a quarta-feira, 5 de fevereiro, resultaram em seis mortes, além de 205 pessoas desalojadas e 26 desabrigadas, segundo balanço divulgado pela Defesa Civil de Pernambuco na manhã desta quinta-feira (06).

No Recife, duas mortes foram confirmadas na quarta-feira (05). A primeira ocorreu pela manhã, no bairro da Boa Vista, área central da cidade. Um homem foi encontrado sem vida na Rua Dom Bosco, com suspeita de ter sofrido um choque elétrico. A segunda vítima foi registrada no bairro da Estância, na Zona Oeste, onde um homem teria sido arrastado pela correnteza. Na Vila da Fábrica, em Camaragibe, Região Metropolitana, outro homem perdeu a vida nas mesmas condições.

Em Paulista, uma mulher morreu na noite de quarta-feira (05), também vítima de choque elétrico. A Polícia Civil investiga o caso.

Já na madrugada desta quinta-feira (06), uma tragédia foi registrada no Córrego da Bica, na Zona Norte do Recife. Um deslizamento de barreira destruiu uma residência, resultando na morte de Maria da Conceição Braz de Melo, de 51 anos, e sua filha, Nicole Melo de Souza, de 23 anos. Mãe e filha estavam dormindo no momento do incidente.

Chuvas intensas ultrapassam 200 mm

Três cidades de Pernambuco registraram volumes de chuva superiores a 200 milímetros nas 24 horas encerradas às 6h desta quinta-feira (6), de acordo com o balanço divulgado pela Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac).

Goiana, na Zona da Mata Norte, foi o município mais afetado, acumulando 234 mm de precipitação. Esse volume equivale a quase o dobro da média mensal de fevereiro, que é de 118,1 mm. Com as fortes chuvas, o Rio Capibaribe Mirim atingiu sua cota de inundação e provocou uma enchente no município. Nesta quinta-feira (06), famílias ribeirinhas de Goiana, residentes do Baldo do Rio, foram realocadas para um abrigo disponibilizado pela prefeitura da cidade.

Em Igarassu, na Região Metropolitana do Recife, o índice pluviométrico atingiu 217,6 mm, um aumento de 132,2% em relação à média mensal de 93,1 mm.

Abreu e Lima, também na RMR, registrou um acumulado de 201,7 mm, representando um volume 133,2% acima da média de 86,5 mm prevista para todo o mês de fevereiro.

O Recife ficou em quarto lugar no ranking estadual de chuvas, com 193,2 mm acumulados no período. Esse volume representa a maior precipitação já registrada na capital pernambucana no mês de fevereiro, de acordo com a Apac.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) atualizou o alerta de chuvas para as áreas litorâneas de Pernambuco. O alerta passou de “Grande Perigo” para “Perigo” e prevê chuvas entre 30 e 60 milímetros por hora ou 50 e 100 milímetros por dia. A nova previsão é válida até às 10h da próxima sexta-feira, 07 de fevereiro.

AUTOR
Foto Giovanna Carneiro
Giovanna Carneiro

Jornalista e mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco.