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Educação Física do Recife também está pronta para entrar em greve

Jeniffer Oliveira / 19/05/2025
Um grupo de profissionais de educação física em uma manifestação ao ar livre, carregando uma faixa que diz “Respeito à Educação Física”. A maioria veste camisas brancas com azul e o logotipo do programa “Academia da Cidade”.

Crédito: Divulgação/APEFPE |

Os profissionais de educação física do Recife vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS) são mais uma categoria insatisfeita com as propostas de reajuste salarial apresentados pela prefeitura da capital pernambucana. Esses profissionais, assim como os psicólogos, não costumam entrar em greve, mas o fato de terem o poder de compra sendo corroído há anos e falta de condições ideais para desenvolver suas atividades os levaram ao estado de greve.

Hoje, um profissional de Educação Física em início de carreira que atua no Programa Academia da Cidade (PAC) ou em alguma unidade de saúde, ganha pouco mais de R$ 3.500 sem gratificações e sem ticket alimentação. Na última negociação, a categoria aceitou que o reajuste de 10% fosse realizado durante o triênio 2021-2024, dividido em seis parcelas ao longo dos três anos. Hoje, a categoria reivindica 18,5% de reajuste salarial, mas segundo a Associação dos Profissionais de Educação Física de Pernambuco (APEF-PE), se estivesse considerando as perdas e a inflação, chegaria a 30%.

Segundo Ícaro Carvalho, diretor e tesoureiro da APEF-PE, até o momento as negociações nas mesas setoriais têm sido insatisfatórias, a prefeitura não abre mão da porcentagem de 1,5%, além de quase não apresentar melhorias nas condições de trabalho. “A nossa expectativa é que haja um movimento da prefeitura de ceder e nos receber para uma nova rodada de negociação, onde a gente consiga se aproximar o máximo possível da nossa pauta”, afirma o diretor.

Os educadores físicos também pedem o retorno do pagamento de gratificações, o recebimento do ticket alimentação e o auxílio-transporte pago em dinheiro. Mas, para além dessas reivindicações, as condições de trabalho preocupam os profissionais que, diariamente, trabalham com diversos alunos que buscam cuidar da saúde de forma gratuita.

Principal espaço de atuação desses profissionais, os 43 polos de academia da cidade costumam funcionar em dois turnos, demandando, idealmente, duas equipes compostas por dois profissionais e dois estagiários. Acontece que muitos desses profissionais já estão sobrecarregados com as demandas e, por isso, acabam adoecendo.

“Por vezes você vai encontrar um profissional sozinho dando conta das atividades diferentes, como aulas, avaliações físicas, protocolos específicos para hipertensos e diabéticos, além de fazer todos os registros administrativos. Enfim, um profissional só em locais onde a demanda é tão alta que a própria coordenação do programa reconhece a necessidade de um terceiro profissional”, afirma Carvalho. Em nota, a prefeitura garante que “o número de profissionais está adequado às necessidades do programa”.

Mas os problemas dos polos não se resumem aos recursos humanos. As estruturas físicas dos pontos de apoio e os equipamentos de trabalho também deixam a desejar. Algumas unidades enfrentam falta de manutenção estrutural, como é o caso da Vila Um por Todos, no Vasco da Gama e na Vila Burity, na Macaxeira, que têm problemas de infiltração e equipamentos quebrados.

No Coque, são as barras de alongamento que estão quebradas e, em Brasília Teimosa, o polo está em reforma há meses. Segundo a assessoria de comunicação da prefeitura, a obra em Brasília Teimosa deverá ser concluída no próximo semestre. O atrasou teria acontecido em razão da “troca da empresa responsável”.

Além disso, os materiais de ginástica e de avaliação física estão desgastados, ultrapassados ou quebrados, a exemplo dos colchonetes, estepes, halteres e caneleiras. Os equipamentos eletrônicos, como som e tablets, utilizados nas rotinas diárias também estão defasados.

“É esse tipo de situação que impacta no próprio dia a dia do trabalho. De fato, quando você não tem essa reposição periódica como precisa ter, não tem a manutenção do próprio espaço físico de forma adequada, vai tornando o serviço no dia a dia cada vez mais precário”, lamenta Ícaro.

O que diz a prefeitura

Procuramos a Prefeitura do Recife para entender por qual motivo os profissionais enfrentam essas condições de trabalho. Confira a resposta na íntegra:

“A Secretaria de Saúde do Recife informa que, nos últimos anos, o Programa Academia da Cidade (PAC) foi ampliado e obteve significativos ganhos em pessoal e estrutura, melhorando a prestação de serviço aos mais de 400 mil usuários distribuídos em 43 polos da capital pernambucana. Em 2024, por exemplo, dois novos polos foram inaugurados: na Praça do Mangue, em Afogados, e no Jardim do Poço, em Casa Forte. Os polos da Beira-Rio, na Torre, e o de Boa Viagem foram requalificados A unidade de Brasília Teimosa está em fase avançada de requalificação. Por questões contratuais, houve uma troca da empresa responsável pela obra, e a expectativa é fazer a entrega no início do segundo semestre. Enquanto isso, as atividades estão mantidas.

Os polos de Vila Burity, Um Por Todos e Coque apresentaram problemas em razão de depredação do patrimônio público. Praticamente, toda a rede de unidades PAC passou por melhorias, mas, em razão de vandalismo, por serem espaços abertos, demandam manutenções constantemente. Em relação a isso, o PAC pede colaboração e parceria da população na manutenção e cuidado desses equipamentos, que levam saúde, bem-estar, qualidade de vida e inclusão para todos.

Sobre os equipamentos, importante esclarecer que, em 2023, houve uma grande renovação dos aparelhos utilizados pelo programa. Um processo licitatório foi aberto em 2024, com essa finalidade, e está em fase de conclusão. Segundo levantamento, há necessidade de reposição de alguns itens, a exemplo de colchonetes e caneleiras, em determinados polos.

Na questão de Recursos Humanos, vale lembrar que 45 profissionais de Educação Física, aprovados em concurso público, foram nomeados entre 2021 e 2024. Atualmente, o número de profissionais está adequado às necessidades do programa”.

Cerca de 30 pessoas, homens e mulheres, estão reunidas em frente a um estacionamento, com expressão séria. Todos vestem camisas pretas com a frase: “Profissionais da Educação Física no SUS. Tem que valorizar!”. Algumas árvores e prédios aparecem ao fundo. O clima da imagem transmite união e reivindicação por respeito e valorização.
Créditos: Divulgação/APEFPE
AUTOR
Foto Jeniffer Oliveira
Jeniffer Oliveira

Jornalista formada pelo Centro Universitário Aeso Barros Melo – UNIAESO. Contato: jeniffer@marcozero.org.