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por Laura Guido, do site Amazônia Vox
“Precisamos mostrar que as mudanças climáticas não são um tema distante, elas já estão transformando o dia a dia dos municípios da Amazônia”, diz a secretaria de Saúde de Xinguara, cidade que decretou calamidade hídrica há menos de uma semana por falta d’água.
Em Belém, líderes do mundo inteiro discutem, desde quinta-feira, a crise climática. E, a aproximadamente 800 quilômetros dali, a cidade de Xinguara enfrenta os efeitos dessa mesma crise: uma grave falta d’água, devido à seca. A estiagem prolongada que se vive na região provocou o esvaziamento total da barragem do Córrego Caracol, que abastece a cidade de 56 mil habitantes.
O estado de calamidade hídrica foi decretado pela gestão do município no começo da semana que deu início a Cúpula dos Líderes. O decreto permite medidas emergenciais para garantir que a população tenha acesso à água. A gestão do município instalou um comitê de crise da escassez hídrica com a Defesa Civil, Secretaria de Meio Ambiente, Secretaria de Saúde, Secretaria de Assistência Social, Educação e outras pastas estruturais do município.
Para a secretária de Saúde de Xinguara, Janaína Pereira, é um momento de alerta, porque os efeitos da questão hídrica no município já estão sendo sentidos na saúde pública. “Como gestora vejo com bastante preocupação o impacto direto que a escassez dessas águas traz para as nossas unidades e para o controle também de doenças para a qualidade de vida das pessoas”, afirma. “A água é um insumo essencial no cuidado e está presente em tudo, no funcionamento de um postinho, do hospital, na higiene das equipes, na alimentação, no controle de vetores, e quando ela falta o risco de doenças aumenta, o bem-estar diminui e a vulnerabilidade das famílias crescem”, adverte.
Janaína lembra que não dá para pensar na falta de um insumo fundamental e estruturante de uma forma isolada. No caso de Xinguara, em sua visão, o esforço para solucionar a crise precisa ser coletivo. “A crise que enfrentamos hoje precisa ser encarada de forma muito integrada e colaborativa. E não é apenas uma questão ambiental, é também uma questão de saúde, de gestão pública e de cidadania”, enfatiza.
A fala de Janaína em entrevista para o Amazônia Vox vai de encontro ao que o mundo discute na conferência climática da ONU em Belém, que começa segunda-feira. “Com a chegada da COP30, que coloca a Amazônia no centro do debate mundial sobre sustentabilidade e clima, é fundamental que a nossa voz aqui de Xinguara também seja ouvida. Precisamos mostrar que as mudanças climáticas não são um tema distante, elas já estão transformando o dia a dia dos municípios da Amazônia”, alerta.
Conhecida como a “Capital do Boi Gordo”, Xinguara tem um rebanho de 558 mil bovinos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para 2024. O desmatamento e, posteriormente, as queimadas, são passos comuns para a produção do capim que dá origem à pastagem.
Segundo dados da Global Forest Watch, em 2024, pela primeira vez as queimadas tornaram-se o principal ‘motor’ de perda das florestas tropicais primárias. O Brasil, mesmo apesar de registrar queda nos índices de desmatamento nos últimos anos, seguiu liderando os números em relação aos outros países, totalizando a responsabilidade pela perda de 42% das florestas primárias tropicais em 2024.
A destruição das florestas é a maior fonte de gases com efeito estufa no Brasil. Em 2024, as emissões da mudança de uso da terra e florestas – essencialmente do desmatamento – foram responsáveis por 42% do total do país, segundo estimativa do Observatório do Clima.
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