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Alexandre Urêa // Quando a tradição cruza com a ousadia de experimentar

Marco Zero Conteúdo / 21/11/2025

Crédito; Dandara França

Por Beatriz Santana*

No passado, escutar um clássico do forró em ritmo de frevo, uma bossa-nova agitada pelo gênero e até um rock reinventado pelo passo, poderia ser considerado ousado. Hoje, há quem diga: o que dá a nova cara para o frevo é a experimentação. Com ousadia ou anseio por inovar, artistas iniciantes e grupos já consolidados criam um som completamente novo a partir da tradição. 

Em uma entrevista exclusiva, o músico, ex-integrante da banda Eddie e atual vocalista do grupo Academia da Berlinda, Alexandre Urêa, comenta os efeitos do diálogo entre diferentes gêneros que dá origem a novos frevos. De forma positiva, Urêa destaca: “tinha uma galera que era muito raiz, mas os maestros estão abrindo a mente”.

Chico Science e Nação Zumbi, Banda Eddie, Academia da Berlinda, Borso Samba Clube, Orquestra Contemporânea, a multiartista Flaira Ferro, o maestro Forró, que de forró não tem quase nada, e o maestro Spok, são algumas das bandas e nomes lembrados por Urêa como responsáveis por não deixar que as melodias dos diferentes carnavais sejam iguais. Mais que isso, por perdurar a folia para além de fevereiro, fazê-la embalar nas ladeiras de Olinda e alçar voos mais distantes.

Sem contar nomes como Alceu Valença, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, por exemplo, que contribuem para o frevo ser enaltecido como é hoje e que dão o repertório e a inspiração para o contemporâneo reinventar. A partir disso, “a gente sai da raiz, né? Aquela coisa do som raiz, a gente fica mais com um som universal”, afirma.

Urêa faz questão de relembrar que a base do frevo nunca foi estática: “[o frevo] ainda é um ritmo clássico, a dança é clássica, mas é uma coisa que, pra época, sempre foi moderna, um balé misturado com capoeira, por ter os saltos, os pulos, o ficar de ponta de pé”.

Da mesma forma que as primeiras pessoas contagiadas pelo frevo se encantaram pelos diversos elementos, cada vez mais jovens desta geração se aproximam pelas novas musicalidades. Gostem ou não das letras, o “tum, tum, tum” ou a marcação “1, 2, 1, 2” tão característica permanecem no ritmo e transformam tanta gente em novos fanáticos pelo frevo.

“Eu mesmo termino conhecendo essas músicas que, assim, uma letra que para mim não é legal, mas tem um ritmo divertido, aí termino escutando, conhecendo mais, sem nem saber quem é o artista”.

Para Urêa, “o frevo também é uma coisa eterna. Tem mais de 100 anos, já é Patrimônio da Humanidade”. Logo, recriar com este gênero nunca vai ser ultrapassado, mas um resgate ao próprio início tão diversificado.

* Beatriz Santana é estudante de Jornalismo da UFPE.

As reportagens publicadas aqui fazem parte da parceria entre a Marco Zero Conteúdo e o projeto de extensão “Cartografias do Frevo”, desenvolvido por professores e alunos do Departamento de Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A iniciativa busca mapear a contemporaneidade do frevo a partir de entrevistas com mestres, músicos, passistas e artistas que reinventam o ritmo.

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