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Acessibilidade: o que o Congresso Inova.aê nos ensina sobre inovação real

Marco Zero Conteúdo / 05/09/2025
Foto colorida de um grande grupo de pessoas reunidas em um espaço interno, em frente a um painel rosa com a palavra “inova aê”. A maioria sorri para a câmera, algumas sentadas no chão, outras em pé. O grupo é diverso em idades, estilos e inclui pessoas com deficiência. O clima é de alegria e celebração coletiva.

Crédito: Nina Xará

por Pâmela Melo*

Durante muito tempo, a acessibilidade foi tratada como um apêndice, um detalhe a ser considerado apenas no fim de um processo, se sobrassem tempo, orçamento ou interesse. Essa lógica excludente, que coloca as pessoas com deficiência à margem do planejamento e da inovação, ainda é uma triste realidade em muitos espaços públicos e privados.

De acordo com o IBGE (Censo 2022), mais de 14,4 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência, o que representa cerca de 7,3% da população. Entre eles, mais de 6 milhões convivem com deficiência visual, cerca de 2,3 milhões com deficiência auditiva, além de milhões de pessoas com deficiências físicas ou intelectuais.

Apesar de representarem uma parcela significativa da sociedade, essas pessoas continuam enfrentando barreiras sistemáticas para acessar informações básicas, conteúdos digitais e serviços públicos. Um relatório da ONU (2021) sobre acessibilidade na mídia global revelou que mais de 90% dos sites de órgãos públicos e veículos de imprensa no mundo não são plenamente acessíveis () .

No Brasil, a situação também é alarmante: segundo um estudo da W3C Brasil, apenas 3% dos sites governamentais seguem as diretrizes básicas de acessibilidade na web () . Isso significa que milhões de brasileiros não conseguem, por exemplo, ler uma notícia, entender um comunicado oficial ou navegar em um site institucional sem enfrentar obstáculos.

Porém, há sinais de mudança e um deles brilhou com força em Pernambuco. A 2ª edição do Congresso Inova.aê, realizada de 26 a 29 de agosto, no espaço Apólo 235, no Bairro do Recife, mostrou que é possível e urgente repensar a maneira como acessibilidade é tratada no Brasil. Idealizado e organizado pelo Instituto Eficientes, o evento se firmou como um espaço de inovação social, onde a acessibilidade não é um complemento, mas o ponto de partida.

Em vez de adaptar soluções prontas para depois “incluir” pessoas com deficiência, o congresso propôs algo revolucionário, embora óbvio: pensar desde o início com e para essas pessoas. O resultado é um processo mais humano, mais eficaz e, sobretudo, mais justo. Afinal, não se trata apenas de tecnologia ou design inclusivo, mas de reconhecer que todas as pessoas, com ou sem deficiência, têm o direito de acessar, participar e contribuir plenamente com a sociedade.

Nesse contexto, eventos como o Inova.aê tornam-se não apenas relevantes, mas essenciais para a construção de uma sociedade verdadeiramente inclusiva.

Hackaton de acessibilidade comunicacional e tecnologia assistiva

Um dos momentos mais potentes do congresso foi a realização da maratona Hackathon, uma espécie de laboratório vivo de inovação acessível. Ao longo de quatro dias, 16 jovens de diferentes áreas foram divididos em equipes com a missão de criar soluções tecnológicas e comunicacionais voltadas à acessibilidade.

Mais do que um exercício criativo, a maratona foi uma experiência intensa de empatia, escuta ativa e construção colaborativa. A metodologia incluiu etapas de identificação de problemas reais, brainstorming, prototipagem e apresentação de pitches a um painel de mentores. O mais relevante foi ver que, nesse processo, necessidades frequentemente invisíveis foram colocadas no centro da discussão.

A equipe vencedora, formada por Alex Souza, Jéssica Marinho, Ísis Marieli e Estevão Enoque, se destacou pela criatividade, sensibilidade e viabilidade da proposta apresentada, reforçando que quando se escuta quem vive os desafios, as soluções se tornam verdadeiramente transformadoras.

Essa dinâmica mostrou que acessibilidade não é um entrave técnico, mas uma decisão ética e criativa. Quando desenvolvedores, comunicadores, pessoas com deficiência e especialistas se sentam à mesma mesa, é possível construir soluções que de fato dialogam com a vida cotidiana das pessoas.

*Pâmela Melo dos Santos é jornalista, estudante de Direito e pessoa com deficiência. Idealizadora do site sexualidade sem barreiras, o qual visa apresentar o empoderamento sexual da mulher com deficiência, Pâmela já foi finalista dos prêmios Cristina Tavares e Intercom Nordeste. Primeira jornalista com deficiência a cobrir o carnaval de Recife através do Eficientes. Atua no setor de comunicação do Congresso Inova.aê

AUTOR
Foto Marco Zero Conteúdo
Marco Zero Conteúdo

É um coletivo de jornalismo investigativo que aposta em matérias aprofundadas, independentes e de interesse público.