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A mexicana Susana Ochoa concorreu ao cargo de deputada no México, durante as eleições de 2018. Ela integra o movimento Wikipolítica, que reúne jovens de esquerda e, em 2015, elegeu o ativista Pedro Kumamoto para o Congresso de Jalisco, um dos estados mexicanos. Pedro foi o primeiro candidato independente a se eleger para o legislativo local.
O movimento ao qual Susana e Pedro pertencem é considerado uma experiência inovadora no México, tanto pelas estratégias de financiamento, quanto pelas abordagens de engajamento do eleitorado. A campanha de Susana, por exemplo, contou com doações simbólicas de apoiadores. A experiência dela aponta caminhos para viabilizar candidaturas sem muitos recursos.
“Tinha gente que doava US$ 1”, lembrou durante sua participação no Ocupa Política 2019, no Recife. Entre micro e macro doações, a candidata conseguiu mobilizar US$ 9 milhões para a campanha, mesmo existindo um limite de US$ 7 mil por doador, no México. A campanha também mobilizou o trabalho voluntário de seis mil pessoas.
As candidaturas independentes, como no caso mexicano, não fazem parte da realidade do Brasil porque a legislação eleitoral daqui exige a filiação partidária. Mas alguns exemplos locais guardam semelhanças com os modelos inovadores experimentados nesse e em outros países da América Latina. Depois da proibição de doações de pessoas jurídicas e das mudanças de regras para a distribuição de recursos no Brasil, outras alternativas de arrecadação como o financiamento coletivo de campanhas (crowdfunding) passaram a ser exploradas.
Um exemplo de uso desses recursos é a Bancada Ativista de São Paulo, um movimento pluripartidário que busca colocar ativistas na política institucional. No ano passado, a Bancada Ativista elegeu uma candidatura coletiva com nove ativistas de diferentes territórios e áreas de atuação para a Assembleia Legislativa de São Paulo, um modelo parecido com o das codeputadas Juntas (Psol), eleitas deputadas estaduais em Pernambuco em 2018.
A antiga fórmula de ouro da política, uma soma de dinheiro mais apoio partidário, está ultrapassada, na opinião de Caio Tendolini, um dos fundadores do movimento. Para ele, é possível eleger com poucos recursos e sem o apoio majoritário da legenda, porque “os partidos têm suas filas de candidatos”.
Ele listou alguns elementos essenciais para uma campanha de “baixo custo e alta intensidade”. “O primeiro é a construção de uma narrativa forte. Por exemplo, no nosso caso optamos pela linha da esperança em oposição ao medo”, explicou.
Campanhas nos moldes das realizadas por esses novos grupos políticos quase sempre se tornaram possíveis por um fator em comum: a força da internet e das redes sociais. Mas a inovação não surge ou pode se restringir apenas ao ambiente on-line.
“É importante ter uma base de suporte estabelecido no off-line para que a campanha cresça no ambiente digital”, considerou Caio Tendolini, destacando que a capilaridade da internet precisa andar junto da estratégia de rua.
Durante sua participação no Ocupa Política 2019, Rodrigo Echecopan, do movimento Frente Amplio, do Chile, lembrou que é importante conquistar o apoio de indivíduos, “mas também dos movimentos que estão trabalhando pelo interesse coletivo”.
Sim, a internet amplia as oportunidades de conquista do eleitorado, concordam os ativistas e candidatos. Porém, esses canais trazem novos desafios. “Na primeira campanha que realizamos, em 2012, fizemos uso massivo do WhatsApp e do Facebook. Já em 2018 essas ferramentas foram amplamente utilizadas por candidaturas de direita. Inclusive o uso de dados dos usuários dessas redes para fins eleitorais estão sendo questionados atualmente”, lembrou Alejandra Parra, ativista mexicana que atuou no gabinete de campanha de Pedro Kumamoto, do Wikipolitica.
A mobilização de recursos é um dos grandes desafios enfrentados pelos novos atores políticos. Não o único. Outros fatores como a burocracia e o engessamento de leis eleitorais atravancam, por exemplo, a criação de novos partidos.
Atenas Vargas, do movimento Soberanía y Libertad, foi a candidata mais jovem da Bolívia nas eleições de 2009. Em cinco anos de existência o Soberania já elegeu 25 pessoas, mas para se estabelecer enquanto partido precisava colher 120 mil assinaturas. “É exigido o preenchimento de formulários que depois são analisados. Conseguimos mais do que o necessário, contudo nem todos os formulários foram aceitos porque somos oposição.”
Para ser registrado, o Futuro, um partido regional formado a partir do Wikipolitica, no México, precisa colher 20 mil assinaturas. “ Até agora conseguimos a metade. Também temos que cumprir a exigência de realizar assembleias em dois terços dos municípios do estado em um ano, o que é grande um desafio logístico. Estamos correndo para completar metade das assembleias até dezembro”, conta Alejandra Parra.
Jornalista formada pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e pós-graduada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi repórter de Economia do jornal Folha de Pernambuco e assinou matérias no The Intercept Brasil, na Agência Pública, em publicações da Editora Abril e em outros veículos. Contribuiu com o projeto de Fact-Checking "Truco nos Estados" durante as eleições de 2018. É pesquisadora Nordeste do Atlas da Notícia, uma iniciativa de mapeamento do jornalismo no Brasil. Tem curso de Jornalismo de Dados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e de Mídias Digitais, na Kings (UK).