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Crédito: Rafael de Abreu/Cimi
O povo indígena Guarani Kaiowá da aldeia Guapo’y, em Amambai, no Mato Grosso do Sul, denunciou nesta quarta-feira, 27 de julho, mais uma situação de terror. Após um massacre recente, desta vez as ameaças de morte são contra crianças e estudantes que, segundo trocas de mensagens no Facebook, seriam mortos em sala de aula na escola localizada dentro da Reserva de Amambai. A população da aldeia, onde vivem 12 mil pessoas, pede proteção e investigação federal imediata.
Segundo informações publicadas numa carta da Aty Guasu (a Grande Assembleia Guarani Kaiowá, principal entidade representativa do povo), uma troca de conversas na rede social deixou evidente um planejamento de ataque. Uma das mensagens diz: “Então vc já conseguiu as armas. Eu andei pesquisando ontem e os alunos entram as 12hrs. Então uma 2hors por ae a agente começa tbm. Vai eu e mais 3indios já da aldeia mesmo”. Outra pessoa responde: “Tabom vó avizar. Alguns homem que está com agente. Se não der hj tem amanhã e sexta pra gente entrar naquela escola e metralhas os filhos dos vagabundos. Antes da eleisao tem q sair 10 morto lá na escola”.
Em conversa por telefone com a Marco Zero, uma liderança Guarani Kaiowá informou que, até o momento, a aldeia não recebeu segurança federal. Os indígenas seguem à espera. As aulas de quase dois mil estudantes foram suspensas, tanto em escolas municipais quanto estaduais. A fonte disse ainda que o Ministério Público Federal (MPF) já foi acionado e a Polícia Civil abriu um inquérito para investigar o caso. “A situação é de medo para toda a comunidade”, relatou.
A Aty Guasu Guarani Kaiowá publicou uma carta sobre o ocorrido e já vem denunciando a conduta do capitão da aldeia Amambai, chamado João Gauto. Segundo as lideranças, ele deveria promover proteção, mas tem ameaçado as pessoas. O capitão da aldeia é uma função exercida por não indígenas, herança tanto da época da ditadura militar quanto dos tempos do colonialismo português, mas que ainda está presente em algumas comunidades. Apesar de ser eleito pelo povo, recebe apoios políticos e de fazendeiros do agronegócio.
Por causa da insatisfação interna com a atuação do capitão, houve protestos e pedidos para que ele deixasse o cargo, numa espécie de “impeachment”. Gauto é acusado de envolvimento no chamado Massacre de Guapo’y (entenda mais abaixo). O MPF fez uma mediação e, no próximo domingo (31), será realizada uma nova eleição para o cargo. O pleito tem aumentado ainda mais a situação de disputa e de terror dentro da aldeia Guapo’y.
A reportagem teve acesso a áudios de WhatsApp em que Gauto diz estar esperando policiais para uma ação na comunidade da retomada Guapo’y Mirim. Ele conta com apoio do prefeito de Amambai, Edinaldo Bandeira (PSDB), que, num outro áudio, compartilhado em grupos da comunidade, comenta que a eleição de Gauto é legítima e democrática, que não reconhece outro capitão e não aceitará nenhuma outra “imposição”.
Os Guarani Kaiowá de Amambai têm sido alvo de ataques e ameaças gravíssimas, com episódios de repressão e morte por causa da retomada do território Guapo’y. No dia 25 de junho deste ano, uma ação policial resultou na morte do Guarani Kaiowá Vitor Fernandes, com três tiros, além de pelo menos 10 indígenas feridos. Também há relatos de indígenas desaparecidos. Esse episódio ficou conhecido como Massacre de Guapo’y.
Três semanas depois, uma emboscada resultou na morte, também a tiros, de Márcio Moreira, liderança do Tekoha Gwapo’y Mi Tujury, território onde aconteceu a retomada. Nesta semana, com as ameaças a crianças e estudantes, o terrorismo continuou.
“Novamente estamos aqui, clamando por justiça, que o Poder Público nos proteja de abusos, que instâncias de segurança sejam aplicadas a toda a população indígena. Solicitamos a intervenção da Polícia Federal em vigília constante a população Guarani Kaiowá em Amambai, pois os abusos não cessam e nosso povo continua sendo massacrado de todas as formas”, pede a carta pública Aty Guasu publicada nesta quarta-feira, 27 de julho.
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Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com