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Crédito: Matheus Almeida/Wikimedia Commons
No primeiro semestre de 2022, o município de Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife, apresentou altos índices de violência e morte causados por disparos de arma de fogo, de acordo com levantamento da plataforma Fogo Cruzado. Ocorreram, em média, 127 tiroteios e sete operações policiais que resultaram em 108 mortes e 48 feridos. Em comparação aos primeiros seis meses de 2021 (quando foram registrados 66 homicídios), houve um aumento de 64% no número de mortes e 345% na ocorrência de operações policiais na cidade.
Esses dados fazem parte do relatório semestral do Fogo Cruzado que será publicado nesta quinta-feira, 21 de julho, pela plataforma.
Em comparação com os demais municípios da Região Metropolitana do Recife, também monitorados pelo levantamento, o Cabo foi o município que apresentou a maior variação em todos os índices analisados: ocorrência de disparos/tiroteios; mortos e feridos por disparo de armas de fogo e execução de operações policiais. Além disso, esse foi o semestre com maior número de mortos no município desde 2018, com média de 18 mortes por mês.
Porém, o Grande Recife continua sendo o local com o maior número de homicídios e operações de segurança. Desde o início do monitoramento do Fogo Cruzado em Pernambuco, em abril de 2018, este foi o semestre mais violento na região, com 896 disparos/tiroteios e 708 mortes. Ou seja, uma média de cinco tiroteios e quatro mortes por dia.
O monitoramento registrou também uma diminuição no número de operações policiais em Ipojuca, município vizinho ao Cabo, em comparação com o primeiro semestre de 2021. No entanto, os disparos/ tiroteios registraram uma alta de 58% e passaram de 15 para 24. Assim como o número de mortos que passou de 14 para 22.
Em 2015, o Cabo de Santo Agostinho ficou em primeiro lugar no Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade Racial 2014, divulgado pela Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República. A violência é uma consequência marcante e constante dessa vulnerabilidade, que coloca a vida dos jovens do município em risco.Para o cientista social e membro do Fórum de Juventudes do Cabo (Fojuca), Matheus Mariano, o contexto social da cidade está relacionado com a expansão das atividades do Complexo Industrial Portuário de Suape, que não se desenvolveu em comunhão com um planejamento da gestão municipal.
“Essa vulnerabilidade é construída a partir de diversos aspectos, desde a falta de educação e emprego, até questões de trânsito. Isso é causado pelo grande aumento populacional que não vem acompanhado de urbanização, tudo aconteceu de forma desorganizada, sem planejamento. As pessoas começaram a ser empurradas para as margens da cidade em estado de vulnerabilidade e o resultado dessa conta, de falta de planejamento e assistência, não podia ser outro, além do aumento da violência, do tráfico de drogas e consequentemente dos homicídios”, destacou Mariano.
Matheus frisou ainda a demarcação dos territórios de acordo com a situação financeira de seus moradores, que, segundo ele, escancara ainda mais as desigualdades e marginaliza a juventude. Segundo o cientista, a cidade está dividida em três partes: “o Complexo Industrial Portuário, a Praia do Paiva e o resto do Cabo de Santo Agostinho”.
“No Cabo, nós temos uma juventude sem perspectiva de futuro e, devido à falta de políticas de educação, essa juventude é pouco qualificada e não consegue adentrar no mercado de trabalho. O aumento do tráfico e das mortes que ele causa é também reflexo de uma cidade desagregada, abandonada, que deixa a juventude à mercê de outras forças”, finalizou Mariano.
De acordo com os dados do Fogo Cruzado, do segundo semestre de 2018 até o primeiro semestre deste ano, o Cabo de Santo Agostinho registrou o total de 569 mortes e 213 feridos por disparo de armas de fogo. O levantamento aponta o aumento constante e progressivo da violência, que coloca em situação de vulnerabilidade não apenas as vítimas, como ressalta a coordenadora geral do Centro das Mulheres do Cabo, Nivete Azevedo: “Essa violência armada também traz consequências para a vida das mulheres. A gente sabe que a violência do Cabo tem vitimado muito mais a juventude, os jovens negros, mas isso também rebate sobre a as mulheres porque as famílias têm um adoecimento muito grave, principalmente as mães. Há um adoecimento emocional e mental por conta do medo da violência que atinge os seus filhos”.
Segundo a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, o perfil das vítimas de mortes no Cabo de Santo Agostinho é de homens entre 15 e 29 anos. Também de acordo com a SDS, de 2018 a 2021, 1.987 jovens entre 18 e 24 anos foram mortos por disparos de arma de fogo na Região Metropolitana do Recife, a maioria eram homens negros.
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Jornalista e mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco.