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Campanha pressiona Raquel Lyra por apoio à reserva extrativista no litoral sul de Pernambuco

Raíssa Ebrahim / 04/07/2025
A foto mostra uma vista aérea de um largo rio cercado por uma vegetação densa de manguezais e morros cobertos de árvores. No centro da imagem, dois pequenos barcos navegam lado a lado, deixando rastros simétricos na água escura e espelhada. O céu está parcialmente nublado, com nuvens brancas e cinzentas refletidas na superfície do rio, criando uma atmosfera serena. À esquerda, há um morro mais alto com vegetação exuberante e uma encosta parcialmente exposta. Ao fundo, a paisagem se estende até o horizonte, com áreas verdes, planícies e céu aberto.

Crédito: Arnaldo Sete/Marco Zero

Com apoio de mais de 50 organizações, instituições e personalidades públicas, a campanha “Sem Mangue, Sem Beat”, em favor da criação da Reserva Extrativista (Resex) Rio Formoso, pressiona a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSD), a apoiar a criação da nova Unidade de Conservação (UC) localizada no litoral sul do estado. Essa é uma demanda de comunidades tradicionais pesqueiras que já dura mais de 15 anos.

Agora há uma nova chance de o projeto virar realidade. O Governo Federal anunciou este ano, por meio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), de olho na COP30, um pacotão de propostas para criação e ampliação de várias UCs no Brasil. Entre elas, está a Resex Rio Formoso, num local que abriga o último grande manguezal não urbano de Pernambuco.

A proposta da Resex, que já passou por estudos técnicos e por consulta pública, seguiu para o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima para, depois, ser encaminhada à Casa Civil, que, por sua vez, emitirá um pedido à governadora para que ela se manifeste sobre o assunto. Caso não haja manifestação ou ela seja contrária, o presidente Lula (PT) não poderá seguir com o decreto de criação da reserva. O apoio de Raquel é, portanto, a peça que falta nesse tabuleiro.

Construída por organizações da sociedade civil e lideranças tradicionais de seis comunidades e de um território quilombola, o Engenho Siqueira, a campanha “Sem Mangue, Sem Beat”, inspirada no movimento Manguebeat, uma plataforma online para compartilhar informações, cartas de apoio e ferramentas para que qualquer pessoa possa se somar à causa. Um dos principais chamados da campanha é para que a sociedade envie mensagens à Raquel, pedindo que ela manifeste apoio à criação da reserva.

A Resex, de 2.240 hectares, cuja área inclui parte dos municípios de Rio Formoso, Sirinhaém e Tamandaré, a 85 quilômetros do Recife, está localizada em um dos territórios mais ricos em biodiversidade marinha do litoral sul. A unidade busca garantir a conservação de um ecossistema fundamental para o equilíbrio climático, a produção de alimentos e a continuidade cultural das comunidades locais.

A foto, capturada de cima, mostra um rio largo e calmo que serpenteia pela paisagem natural. Em primeiro plano, à direita, há um trecho de terra coberto por vegetação verde e um grupo alinhado de coqueiros altos que margeiam uma pequena faixa de areia clara, formando uma curva suave na beira do rio. Mais adiante, do outro lado da água, há áreas extensas de manguezais e, ao fundo, morros cobertos por vegetação baixa. O céu está parcialmente nublado, com nuvens densas que projetam sombras sobre a paisagem e indicam a possibilidade de chuva ao longe, mas há também pontos de luz, onde o sol atravessa as nuvens e reflete na água.

Crédito: Arnaldo Sete/Marco Zero
A imagem é uma vista aérea ampla de um rio largo e calmo, cercado por vegetação abundante. À esquerda, em primeiro plano, há uma área coberta por árvores e uma pequena construção branca que parece ser um farol ou monumento, situada no meio da mata. O rio ocupa a maior parte da cena, refletindo o céu azul e algumas nuvens brancas esparsas. À direita e ao fundo, as margens do rio são cobertas por extensas áreas de manguezais verdes e campos abertos, com algumas elevações suaves no horizonte.

Crédito: Arnaldo Sete/Marco Zero

Atualmente, pelo menos 2.355 pescadores e pescadoras artesanais dependem diretamente do mangue, com forte presença de mulheres na linha de frente da mobilização. Entre os apoiadores da campanha, estão a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), SOS Mata Atlântica, Fundação Grupo Boticário, Instituto Baleia Jubarte, Painel Mar e Instituto Arayara, além deputado federal Túlio Gadelha (Rede) e da deputada estadual Rosa Amorim (PT).

Com a possibilidade de o estuário ser transformado em Resex, a proposta virou alvo de ataques por parte de empresários, políticos e canavieiros. Isso porque a unidade regulamentaria algumas atividades como o turismo náutico e a construção de hotéis, resorts e restaurantes.

O que é uma Reserva Extrativista (Resex)

Resex é uma categoria de Unidade de Conservação (UC) utilizada por populações tradicionais extrativistas com o objetivo básico de proteger os meios de vida e também a cultura dessas pessoas, assegurando o uso sustentável dos recursos naturais através de uma gestão participativa. Diferentemente de outros tipos de UCs, a Reserva Extrativista precisa partir de uma mobilização popular.

“A Resex já teve todos os estudos e consulta pública. Não está sendo fácil, mas a gente tem fé em Deus que vai conseguir realizar esse sonho, para garantir que a gente continue com esse mangue lindo, sem poluição, produzindo muito. Porque esse estuário é ainda muito rico de todas as diversidades de marisco e de peixe”, diz Arlene Maria da Costa, de Barra de Sirinhaém, que começou a pescar com apenas nove anos.

“A maré é importante para mim e para a minha vida também. Para o meu marido, que é pescador, também. Se não tivesse a maré aqui em Rio Formoso, muita gente passava muita necessidade. Porque aqui a gente tira de tudo”, reforça a marisqueira Marilucia Rosa dos Santos.

Os pescadores e as pescadoras artesanais são considerados guardiões do estuário. Diversos estudos já comprovaram que áreas sob cuidados de comunidades tradicionais tendem a ser melhor preservadas.

A fotografia mostra Marilúcia Santos, uma marisqueira, ajoelhada em meio ao manguezal durante a maré baixa. Ela está sorrindo e usa uma camisa de manga comprida azul e calça escura, além de um boné preto com aba que protege seu rosto do sol forte. Marilúcia segura um balde preto que já contém mariscos colhidos por ela, e suas mãos e roupas estão sujas de lama, evidenciando o trabalho manual no mangue. O ambiente ao redor é amplo e aberto, com o solo lamacento e úmido estendendo-se até o horizonte. Ao fundo, há uma vegetação densa de manguezais e um céu azul com nuvens brancas e fofas, compondo uma paisagem natural e luminosa. Algumas estacas fincadas no solo aparecem à esquerda da imagem, provavelmente usadas como referência pelos marisqueiros.

Marilúcia Santos tira seu sustento do estuário do rio Formoso

Crédito: Arnaldo Sete/Marco Zero

O mangue da região da Resex Rio Formoso é um dos poucos ainda preservados fora de áreas urbanas no estado e forma um super ecossistema marinho. O ecossistema da região é composto pelo manguezal, um ambiente marinho costeiro, plataforma continental, paleocanais, quebra da plataforma e cânions. Todos esses sistemas são dependentes e abrigam vida interdependente. O manguezal funciona como um berçário da vida marinha onde peixes, crustáceos e moluscos de reproduzem.

A preservação do manguezal afeta também o clima já que o ecossistema armazena até quatro vezes mais carbono que florestas tropicais. Eles também funcionam como barreira natural da costa contra tempestades e ondas, além de funcionar como um filtro natural de água. Culturalmente, a importância dos manguezais também merece destaque. Nele se concentram espécies como o caranguejo-uçá, o siri, o aratu e a ostra, fundamentais para a pesca artesanal e para a culinária tradicional da região.

“A criação da Resex do Rio Formoso é urgente para garantir a proteção legal de um território que já é cuidado coletivamente pelas comunidades tradicionais há décadas. Existem espécies em risco na região como peixe mero (Epinephelus marginatus), peixe-boi (Trichechus manatus) e várias espécies de cavalo-marinho que precisam da região protegida para reprodução e sobrevivência”, explica Nátali Piccolo, diretora de Conservação Marinha e Costeira da Conservação Internacional (CI-Brasil), organização que apoia a proposta.

Entre os que também assinam a campanha “Sem Mangue, Sem Beat”, estão o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), o Instituto Meros do Brasil, a Articulação Nacional das Pescadoras e o Programa Ecológico de Longa Duração Tamandaré Sustentável (Peld Tams).

AUTOR
Foto Raíssa Ebrahim
Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornais de bairro do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com