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Crédito: Marco Zero Conteúdo
A cidade do Recife passou por
isolamento social, restrições de atividades e até por um período de quarentena,
ou lockdown, porém tudo isso mal foi
percebido pelos clientes e comerciantes do Ceasa, como é mais conhecido do Centro
de Abastecimento e Logística de Pernambuco, com 580 mil m2 e 48
galpões localizados entre o Barro e o Curado.
No papel, a direção do Ceasa seguiu
as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e das medidas restritivas
decretadas pelo governador Paulo Câmara. Na prática, os usuários contaram que,
além da redução dos horários de funcionamento, pouca coisa mudou desde meados
de março, quando o distanciamento social começou a ser implantado no estado.
Um representante de vendas e consultor de empresas de comércio atacadista revelou que “sente medo” quando precisa ir ao encontro dos empresários clientes. Apesar de pedir para não ser identificado por receio de expor seus contratantes, ele se dispôs até a fazer a fotografia que abre essa reportagem.
“Nada é pior do que o galpão do
varejo. Os corredores são cheios, com gente se acotovelando nos corredores, de
qualquer lado do balcão, ninguém respeita distância. E não é só agora que está
flexibilizado não, foi assim a pandemia toda”, afirmou o consultor, de 50 anos,
que com comércio de frutas, hortaliças e verduras desde que se formou em
Agronomia em meados dos anos 1990.
O cenário descrito pelo consultor é agravado pelo fato da Ceasa ser o ponto de convergência de intermediários que trazem produtos agrícolas de vários pontos do país e também de municípios pernambucanos. De lá, também saem alimentos que abastecem quitandas, mercearias e supermercados da Região Metropolitana do Recife.
São mais de 90 mil toneladas
comercializadas a cada mês. De acordo com a assessoria de Comunicação da Ceasa,
durante a pandemia esse volume aumentou 12%, chegando perto de 101 mil
toneladas ao mês. “Isso se deu pelo fato de o Ceasa ser considerado referência
no ramo de alimentos, se tornando um centro essencial para o comercial em geral”,
explica a nota da assessoria. Apesar do aumento da quantidade de produtos, o
fluxo de compradores caiu 8%, pois a frequência diária caiu de 65 mil pessoas
para pouco menos de 60 mil.
A nota, no entanto, admite que “o órgão competente para avaliar a situação de contágio ou não por conta da covid-19 é a Secretaria de Saúde”.
O consultor conta que, todas as
vezes que foi ao Ceasa nos últimos meses, escutava relatos de comerciantes que
caíram doentes e, pelo menos, meia dúzia de mortes, porém admite que não
conhece ninguém que tenha morrido no período. “Passei a frequentar apenas os
escritórios. Até a feira semanal deixei de fazer lá, prefiro gastar mais em
outro local mais seguro”.
A nota oficial da diretoria do Ceasa
informando os procedimentos adotados para rastrear os casos suspeito também faz
menção a boatos sobre possíveis mortes de comerciantes: “Há uma equipe técnica
monitorando qualquer tipo de suspeição de vitimas do novo coronavírus, inclusive
acompanhando a evolução dos casos registrados, e desfazendo qualquer tipo de
boatos alarmantes. Quando há qualquer tipo de indícios, é recomendada de
imediato a procura pelo posicionamento médico adequado e fica sob alerta para
verificar o desfecho do caso. Se for o caso, o afastamento imediato do
permissionário (comerciante, produtor e/ou colaborador)”.
Dono de uma quitanda no bairro do
Rosarinho, José Cavalcante do Amaral tem 63 anos e, para abastecer seu estabelecimento,
precisa ir à central de distribuição todos os dias. Durante a pandemia, teve de
manter a rotina.
“Não é boato, não. De cabeça posso dizer que conheço três pessoas a quem eu comprava e que morreram em abril e maio. Eram comerciantes que tinham comércio lá há muito tempo, gente com quem fiz amizade e que, de um dia para o outro foram internados, depois soube que tinham morrido. Agora, a mulher e os filhos estão tomando conta do negócio”, garante Amaral.
Os gestores do Centro de
Distribuição afirmam que a instituição adotou quase 20 medidas preventivas,
incluindo aquelas adotadas para reduzir os engarrafamentos. O comerciante Amaral contesta, afirmando que
várias delas não aconteceram regularmente: “Essa história de medir a
temperatura foi só no primeiro dia, para fazer fotos e a televisão filmar. Só
apontaram aquele termômetro pra minha testa uma vez, depois as moças sumiram”.
A nota da assessoria informa que a
instituição identificou “25 casos que apresentaram positivo para o Covid-19.
Sabemos o local de trabalho, onde foi atendido e o telefone para uma
acompanhamento mais próximo. Porém, não temos como identificar se esse paciente
contraiu o vírus dentro ou fora do Ceasa”, porém não tem notícias sobre
supostos óbitos, pois cabe à secretaria
estadual de Saúde acompanhar o desfecho de cada caso.
Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.