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Centro de formação do MST é pichado com suástica e casa de coordenadora é incendiada em Caruaru

Raíssa Ebrahim / 14/11/2022

crédito: MST

O Centro de Formação Paulo Freire, do Movimento Sem Terra (MST), localizado no assentamento Normandia, em Caruaru, no agreste de Pernambuco, foi invadido por bolsonaristas e pichado com suásticas, símbolo nazista, e com a palavra “mito”. A casa onde mora a coordenadora do espaço foi arrombada e incendiada. O caso aconteceu na madrugada do último sábado (12), por volta das 3h.

Segundo a nota publicada pelo MST nas redes sociais, inicialmente foram vistas quatro pessoas, com camisas amarelas, que aproveitaram para invadir o espaço enquanto acontecia uma festa de vaquejada no Parque de Vaquejada Milanny, em frente ao assentamento. Ainda de acordo com a nota, a militância que mantém o centro foi alertada e conseguiu apagar o incêndio. A casa, entretanto, foi parcialmente queimada, principalmente as camas, os telhados e os pertences.

Pichação de suástica, símbolo nazista, no Centro Paulo Freire, no assentamento Normandia, em Caruaru. crédito: MST

A deputada estadual eleita Rosa Amorim (PT), da direção do MST, lembra que essa região do agreste tem muitos grupos bolsonaristas organizados, principalmente em Santa Cruz do Capibaribe, distante apenas 40 quilômetros. Pela segunda eleição consecutiva, o município foi o único de Pernambuco que deu vitória ao presidente Jair Bolsonaro (PL). “Temos nessa região um histórico de ataques”, frisa Rosa. “Há indícios de que existem grupos fascistas organizados nessa parte do agreste”, alerta.

Em setembro, a duas semanas do primeiro turno, Bolsonaro esteve em Santa Cruz do Capibaribe para uma motociata ao lado dos candidatos derrotados ao governo de Pernambuco, Anderson Ferreira (PL), e ao Senado, Gilson Machado (PL). Ambos foram derrotados nas urnas.

Em junho do ano passado, um jovem de 17 anos foi expulso de um shopping em Caruaru por usar suástica no braço. Uso de símbolos nazistas é crime no Brasil e tem pena de reclusão de um a três anos, além de multa.

Em nota, a Polícia Civil de Pernambuco, sem citar o nome do(a) delegado(a) responsável pelo caso, informou que “registrou, no dia 12.11, através da 14ª Delegacia Seccional de Caruaru, uma ocorrência de incêndio doloso na zona rural do município”. Disse também que “um inquérito policial foi instaurado e outras informações poderão ser repassadas após a completa elucidação dos fatos”. A resposta da polícia, porém, não menciona a questão das pichações. A reportagem questionou e aguarda retorno.

Em entrevista à reportagem, Rosa Amorim também disse que os cursos no centro continuam normalmente. E lembrou que o MST “é conhecido historicamente por um movimento que cuida da segurança, tem mecanismo próprios de segurança e que estão sendo reforçados”.

“Lamentamos muito ter que fazer este informe, já que saímos de uma jornada eleitoral polarizada e acirrada. O Brasil e o povo brasileiro clamavam por atitudes e empenho para resgatar a democracia, os preceitos constitucionais do estado democrático de direito e uma postura enérgica contra a fome, contra a violência, contra o ódio e contra todo tipo de preconceito. Os bolsonaristas foram derrotados nas eleições, mas uma minoria, movida pela intolerância, pelo preconceito e pelo ódio de classe, de raça e de gênero, não aceitou os resultados da democracia e está querendo nos impor um terceiro turno”, diz a nota do movimento.

“Felizmente, desta vez ninguém se feriu, os danos materiais a gente resolve, mas fica mais uma vez a lição de que não podemos ‘baixar a guarda’. Temos que manter o alerta para proteger nossas estruturas e garantir a posse de Lula no primeiro de janeiro. Até lá, alerta máximo. Cuidar e proteger nossas estruturas e nossas lideranças contra a ira do ódio, do preconceito e da intolerância dos grupos fascistas. Contra todo o tipo de ódio e intolerância, venceremos!”, finaliza o texto.

Centro foi alvo de ação de despejo em 2019

Em 2019, no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PL), o Centro Paulo Freire foi alvo de uma ação de reintegração de posse solicitada pelo próprio Incra e determinada pela 24ª Vara Federal, no agreste, pelo juiz federal Thiago Antunes. A reintegração de posse terminou sendo barrada na época após uma forte mobilização, mas o caso segue tramitando na Justiça.

O centro foi criado em 1998, é um dos principais do Nordeste e funciona para fins coletivos de capacitação. Desde então, trabalhou para consolidar-se como um referência, por meio de parcerias com universidades públicas, institutos federais, governo do estado e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Mais de 100 mil pessoas já passaram pelos cursos práticos e teóricos no local, onde há salas de aulas, alojamentos, auditório, creche, quadra esportiva e outros aparatos.

O assentamento Normandia, onde fica o centro, se dedica ao desenvolvimento da agricultura familiar. No local, além do Centro Paulo Freire, funcionam cooperativa agrícola, associação, agroindústria e escola multisseriada até o quinto ano.

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AUTOR
Foto Raíssa Ebrahim
Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com