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Cisternas com placas de energia solar reduzem custo da agricultura familiar no Piauí

Marco Zero Conteúdo / 23/05/2025
A fotografia mostra a agricultora Raimunda Juliana Coelho em um terreno de terra avermelhada, ao ar livre, durante o dia. Ela está em pé e olha para a câmera com expressão neutra. Raimunda veste uma blusa rosa estampada com abacaxis coloridos e uma saia com estampa de folhagens. Ela segura duas frutas amarelas, aparentemente mangas, nas mãos. Ao fundo, vê-se uma cisterna de concreto de formato circular com tampa inclinada, utilizada para captação de água da chuva — possivelmente parte de um projeto de cisterna com placas solares. Há vegetação esparsa e algumas bananeiras ao fundo, além de canos no chão à direita da imagem.

Crédito: Almir Orsano/Obra Kolping PI

Há um ano, a agricultora Raimunda Juliana Coelho, de 38 anos, recebeu a notícia de que teria direito a uma cisterna com capacidade para armazenar 52 mil litros, o suficiente para garantir a produção de sua lavoura. Com a alegria, porém, também veio a preocupação em relação à conta de energia elétrica, que “aumentaria e muito por causa da bomba” necessária para retirar a água da tecnologia e irrigar o roçado.

“Para quem só tem R$ 600 do Bolsa Família, mesmo com a tarifa de baixa renda a conta de energia é cara. A gente precisa da bomba para molhar as plantas e ter nossa produção, mas gastaria muito no fim do mês”, explica Raimunda, que mora com o esposo e o filho, na comunidade Trás da Serra, em São Francisco de Assis do Piauí (PI).

A preocupação da agriculora levou a Obra Kolping – organização social internacional sediada na Alemanha, cuja representação no Brasil faz parte da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) – construiu a cisterna-calçadão na propriedade de Raimunda junto com um kit com bomba, placa fotovoltaica de 100 Watts e disjuntor. O sistema transforma a luz do sol em energia elétrica e permite acionar o equipamento para puxar a água da cisterna sem custo adicional para a família.

“Essa ideia da bomba solar foi uma bênção para nós. Hoje tenho goiaba, manga, limão, mamão, moringa, pimentão, pimentinha, alface, cenoura, tomate, cheiro verde, feijão e milho para consumo da família, fora a criação de galinhas, porcos, perus e cabras. Tudo graças à cisterna e sem pagar mais caro pela energia, só aproveitando o sol para puxar a água para a caixa, levar para o irrigador e molhar as plantas”, comemora Raimunda.

A fotografia mostra uma cisterna de captação de água da chuva em um ambiente rural, sob um céu azul com algumas nuvens esparsas. A cisterna, feita de concreto, tem formato circular e tampa cônica clara, levemente inclinada. Ao lado dela, sobre uma pequena base elevada de concreto, há uma caixa d’água azul da marca “Fortlev”. Um pequeno painel solar está instalado próximo à tampa da cisterna, indicando o uso de energia solar no sistema. A vegetação ao fundo é densa, com árvores típicas da caatinga. O solo ao redor é de terra avermelhada, característica de regiões semiáridas.

Kit de energia solar custa R$ 1,3 mil e é bancado com recursos próprios da Kolping

Crédito: Almir Orsano/Obra Kolping PI

O kit de bomba solar está sendo instalado junto com as cisternas do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), que faz parte do Programa Cisternas do Governo Federal e tem financiamento da Fundação Banco do Brasil e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), na propriedade de 150 famílias. Além de moradores de São Francisco de Assis do Piauí como Raimunda, agricultores da zona rural do município de Betânia do Piauí (PI) também estão sendo beneficiados com a novidade.

“A gente ficou muito ansioso quando soube da chegada da cisterna de segunda água, porque água para produzir é muito importante para melhorar a nossa renda. Mas a minha cisterna, por exemplo, ficaria distante da casa, aí teria gasto com energia e com fio. Mas a novidade dessa placa solar qpermite utilizar o produto que a gente mais tem que é o sol”, diz o agricultor Vicente Severino de Sousa, 39, que vive na comunidade do Sítio Vereda, em São Francisco de Assis, com a esposa e três filhos.

Autonomia no semiárido

De acordo com o coordenador estadual da Obra Kolping, Raimundo João, os kits foram adquiridos com recursos próprios da organização ao custo de R$ 1,3 mil cada. Esse modelo simplificado não dispõe de bateria, ou seja, não permite armazenar a energia elétrica.

O sistema, portanto, só pode ser usado durante o dia. O que não é um problema, já que o estado piauiense está localizado no chamado “cinturão solar brasileiro” e tem uma irradiação média de 5,9 kWh/m² e cerca de 12 horas diárias de luz solar, superando a média do próprio Brasil.

Além de oferecer a infraestrutura para energia solar, a instituição vai promover, no segundo semestre deste ano, um curso gratuito para as famílias aprenderem a fazer a manutenção, sobretudo, do painel fotovoltaico que tem garantia de 25 anos.

Pelo menos 400 famílias agricultoras no Piauí utilizam placas fotovoltaicas em suas propriedades, algumas delas há pelo menos dez anos. Essa, no entanto, é a primeira vez que a inovação é aplicada em um lote do Programa Cisternas. renovável.

Para o coordenador do programa, Antônio Barbosa, a estratégia reforça a alternativa defendida pela ASA frente ao avanço dos grandes empreendimentos de energias renováveis no Semiárido. “Essa junção da cisterna de produção com a energia solar ainda contribui com a nossa proposta do Programa Um Milhão de Tetos Solares, que tem em uma de suas linhas, justamente, apoiar as famílias agricultoras a terem acesso à energia fotovoltaica para a produção de alimentos”, afirma.

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