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Com 2º turno incerto, deputados do PSB e aliados aparecem ao lado de Marília

Maria Carolina Santos / 23/09/2022

Crédito: Léo Caldas/Ascom Marília Arraes

Faltando pouco mais de uma semana para as eleições, a vaga de quem vai disputar o segundo turno contra Marília Arraes (SD) pelo governo de Pernambuco segue embolada. As duas pesquisas que saíram nesta semana colocam os quatro candidatos empatados no segundo lugar. A do Ipec, encomendada pela Globo e divulgada na quarta-feira (21), mostra os quatro com 11%. Mas é Danilo Cabral (PSB) quem está apresentando mais tendência positiva, saindo de 8% para 11%, mas ainda na margem de erro, que é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos.

Nesta pesquisa do Ipec/Globo, Marília Arraes é a única que sai da margem de erro: perdeu cinco pontos percentuais, saindo de 38% para 33%. Também teve aumento na rejeição, aqueles eleitores que disseram que jamais votariam nela: subiu de 16% para 19%. Fica atrás apenas do pastor Wellington (PTB) e de Anderson Ferreira (PL) e Danilo Cabral, ambos os mais rejeitados pelos eleitores ouvidos pela pesquisa, empatados com 23%.

Em outra pesquisa divulgada ontem (22) e proibida hoje de continuar sendo divulgada pelo TRE, os quatro aparecem empatados na margem de erro, que é de 2,5%, com Danilo Cabral e Anderson Ferreira ligeiramente à frente.

Se, apesar das perdas, a passagem de Marília parece garantida para o segundo turno, a disputa pela outra vaga movimenta não só as candidaturas, mas os aliados, que ainda podem mudar de lado. As movimentações têm se intensificado, principalmente dos aliados de Danilo Cabral, que são mais numerosos.

Uma das mais vistosas nesta semana foi o encontro promovido por Marco Antônio Dourado, ex-deputado estadual pelo PSB, em favor de Marília Arraes com a presença dos deputados estaduais do PSB Aglailson Victor, que busca a reeleição, e Lucas Ramos, que está na disputa para federal. As fotos de ambos figuram em cards tanto nas redes sociais de aliados de Marília quanto de Danilo. A campanha dela, porém, diz que os dois não a apoiam. A de Danilo afirma que os dois ainda seguem com ele. A MZ perguntou às assessorias dos candidatos quem eles estão apoiando para o governo, mas não recebeu resposta alguma.

Oficialmente, Danilo Cabral é disparado o que mais conta com apoio de prefeitos. São 120 prefeitos dos 185 municípios do estado, de acordo com levantamento da campanha de Cabral. E 30% dos candidatos proporcionais apoiam o candidato do PSB, também segundo a assessoria de comunicação dele. Marília teria, oficialmente, menos apoio nos municípios, com apenas 26 prefeitos, também segundo dados da campanha da própria candidata.

Nesta reta final, esses apoios nem sempre se concretizam. O prefeito de Feira Nova, que é do PSD, está na lista de apoio tanto de Danilo Cabral quanto de Marília Arraes. Ele é do mesmo partido de André de Paula, candidato ao Senado na coligação de Marília. E, na prática, faz campanha só para Marília. Na terça-feira organizou uma carreata em Feira Nova para ela. Aglailson Victor, ele de novo, e até Fernando Filho (UB), candidato à reeleição como deputado federal e irmão de Miguel Coelho (UB), aparecem nas redes sociais do prefeito em “santinhos” virtuais ao lado de Marília.

Outros aliados, se não tornam públicos os encontros com Marília, tampouco divulgam a candidatura de Danilo. Os Maniçoba, família importante na política sertaneja, declararam apoio a Danilo no começo do ano, mas o candidato só aparece nas redes sociais de Rosângela Maniçoba Novaes Ferraz, a Rorró (prefeita de Floresta, eleita pelo PSB), e de Bernardo Maniçoba (prefeito de Itacuruba, do MDB) nas postagens referentes ao encontro com Lula em Serra Talhada, no já longínquo 20 de julho. Danilo praticamente inexiste no material do ex-deputado federal e ex-presidente do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Kaio Maniçoba. O mesmo acontece com o material de deputados bem votados do PSB, como Felipe Carreras (PSB).

Para o cientista político da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Túlio Velho Barreto, essa movimentação é esperada. “Ela reflete a dificuldade da candidatura de Danilo Cabral em decolar. Independentemente de ele ter o apoio formal do ex-presidente Lula, ele enfrenta muita dificuldade para se tornar um candidato competitivo, desde fatores internos do partido e externos, como o fato do PSB estar há tanto tempo no governo e ter se afastado de um posicionamento de centro esquerda, e que não é de agora, mas desde que Eduardo Campos lançou a candidatura contra Dilma Rousseff (PT) e o PSB depois escolheu apoiar Aécio Neves (PSDB) no segundo turno. Neste tempo em que o PSB se afasta, Marília se aproximava. Então ela também tem um recall muito forte ao lado de Lula, para o eleitorado”, avalia.

Como Danilo Cabral não conseguiu se deslocar de Raquel Lyra (PSDB), Anderson Ferreira (PL) e Miguel Coelho (UB) nas pesquisas, estar com uma candidatura legislativa atrelada à imagem dele não traz grandes vantagens. “Uma favorita em intenção de voto tende a atrair quem, de certa forma, tenta se acomodar a quem está no poder. No plano nacional, o PDT está vivendo esse processo, o Centrão também. Aqueles atores políticos do PSB ou aliados que já vislumbram a possibilidade de Marília ir para o segundo turno e Danilo não ir, podem e vão fazer um movimento em relação a ela. Mas se constitui uma surpresa que Danilo ainda não tenha conseguido se colocar como competitivo para o segundo turno”, avalia o cientista político.

PSB pode fechar um ciclo nesta eleição

Quem tem mais é também quem mais tem a perder. No comando de Pernambuco há quase 16 anos, o PSB se vê hoje em uma posição em que pode nem chegar ao segundo turno. Se, de um lado Danilo Cabral conta com o apoio formal de Lula – que em julho afirmou que voltaria ao estado “várias vezes”, mas ainda não voltou – do outro carrega o desgaste acumulado em quatro mandatos do PSB na administração do estado.

Para Velho Barreto, Danilo Cabral tem um perfil próximo ao de Paulo Câmara. “É um candidato tão pesado quanto ele, não é um político carismático”, afirma. Como o atual governador e o ex-prefeito Geraldo Júlio não concorrem a nenhum cargo nestas eleições, um ciclo pode se encerrar no PSB. “Se eles saem de cena, como parecem estar saindo, e Danilo Cabral não consegue ir para o segundo turno, é o fim de um ciclo de políticos que eram do quadro criado por Eduardo Campos, escolhas diretas dele”, analisa. “Paulo Câmara não aparece na campanha de Danilo Cabral porque ele está desgastado. Geraldo Júlio deixou a prefeitura com muitas denúncias e desgastes, principalmente na pandemia. Venhamos e convenhamos, foram gestões que não tiveram muito apoio popular. Eduardo Campos morreu já há algum tempo (na campanha de 2014) e o legado dele já foi muito bem aproveitado pelos candidatos. No máximo, hoje contribui eleitoralmente para os descendentes diretos”, diz.

Esse fim de ciclo, se realmente ocorrer, pode prejudicar a linha sucessória do PSB em Pernambuco, mas nem de longe significa uma ameaça ao poder da família Campos/Arraes no estado. “O que podemos ver é um novo ciclo ligado mais aos descendentes de Miguel Arraes e de Eduardo Campos. Marília carrega o sobrenome. João Campos está na prefeitura da capital. E nesta eleição vem Pedro Campos e Maria Arraes. São todos políticos jovens e que podem participar de muitas e muitas eleições”, analisa o cientista político.

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AUTOR
Foto Maria Carolina Santos
Maria Carolina Santos

Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Ávida leitora de romances, gosta de escrever sobre tecnologia, política e cultura. Contato: carolsantos@gmail.com