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Com recorde de casos de covid-19, Pernambuco tem 230 pacientes na fila da UTI

Raíssa Ebrahim / 19/05/2021
UTI covid

Crédito: Tatiana Fortes/Governo do Ceará

Enquanto o Governo de Pernambuco fala em “estabilidade” e “sazonalidade”, apesar do patamar elevadíssimo de casos, a fila de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) continua crescendo no estado. Nesta quarta-feira, dia 19, em média 230 pacientes com covid-19 aguardavam por um leito no Sistema Único de Saúde (SUS). O tempo de espera depende também do quadro e do perfil do doente, mas tem sido em média de cinco dias. Porém, há casos de espera de quase dez dias.

Os números foram repassados à Marco Zero Conteúdo por uma fonte da Central de Regulação de Leitos. Desde o dia 5 deste mês – portanto, há duas semanas – o portal estadual de dados, da Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag), alimentado com os repasses de dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), não atualiza as informações sobre as solicitações de leitos.

“Alguns problemas técnicos causaram a interrupção de rotinas automáticas necessárias à atualização dos números referentes à regulação de leitos. Logo que os processos forem ajustados, voltaremos a atualizar os dados. Informações diárias podem ser acessadas pelo boletim divulgado pela SES, no link: pecontraocoronavirus.pe.gov.br”, diz o recado no site da Seplag.

A reportagem procurou a Secretaria de Saúde para saber o que está acontecendo e a previsão de retorno das atualizações, assim como os dados sobre a fila, mas não obteve nenhum retorno até o fechamento desta matéria.

O recorde de pacientes em fila de UTI, desde o início da pandemia, aconteceu em 11 de maio do ano passado, com 275 doentes aguardando uma vaga.

Gráfico do histórico de fila de UTI elaborado pelo médico infectologista Bruno Ishigami

Só abrir leitos de UTI não basta

A abertura de mais vagas de UTI, junto com a mobilização de insumos, equipamentos e recursos humanos, não está sendo suficiente. Desde o início do ano, o governo inaugurou 757 leitos. Eram 923, com uma taxa de ocupação de 83%, no dia 1º de janeiro. Nesta terça-feira (18), a soma contabilizava 1.680 leitos, com uma taxa de ocupação de 97%.

O percentual de ocupação das UTIs públicas está acima de 90% desde o final de fevereiro, a despeito da gestão Paulo Câmara (PSB) enaltecer que “Pernambuco possui hoje o sexto maior quantitativo de leitos de UTI para covid-19 entre os Estados brasileiros”.

O Conselho Estadual de Saúde (CES) e profissionais da linha de frente, que estão exaustos, reivindicam mais restrições para tentar barrar a circulação do vírus. Mas por ora, o governo ampliou as restrições somente no Agreste, com regras que entraram em vigor na terça-feira, 18 de maio.

Nesta quarta, dia 19, Pernambuco bateu um novo recorde de casos de covid-19: foram 3.440 em apenas 24 horas. Entre os confirmados, 187 (5,5%) são casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) e 3.253 (95,5%) são casos leves. Também foram confirmados mais 79 óbitos. Assim, Pernambuco ultrapassou a marca de 15 mil vidas perdidas para a covid-19: são exatos 15.127 óbitos.

“Nós tivemos um aumento grande no volume de pedidos de leitos de UTI por volta de março. O governo foi criando muitos leitos, a fila ficava estável. Há duas ou três semanas, tivemos uma leve diminuição, que não durou nem uma semana. Desde então, só vêm subindo os números”, comentou a fonte que atua na Central de Regulação, que também falou da carga de estresse de quem atua nos encaminhamentos e no atendimento direto aos doentes.

Critérios que fazem a fila andar

O tempo de espera na fila é um processo bastante dinâmico e que utiliza uma escala de pontos (Escore Unificado para Priorização / EUP-UTI) para definir quem tem prioridade a partir do quadro e do perfil do paciente. Em geral, um paciente jovem e sem comorbidades consegue uma vaga mais rápido que uma pessoa idosa, acamada e com comorbidades, por exemplo.

“Tem pacientes que conseguem o leito de UTI no mesmo dia, tem pacientes que demoram vários dias. Num caso recente que atendi, o paciente esperou seis dias por leito de UTI”, relata uma médica que atua em Unidade de Pronto Atendimento (UPA). “Como é porta de aberta (a UPA, assim como outras emergências), está chegando sempre pacientes. Tem horas que você está sempre recebendo, não tem como dar o suporte e, claro, quanto mais tempo ele passa na emergência, piora o quadro, porque ele poderia estar tendo um suporte melhor numa UTI”, acrescenta.

UTI covid

Idade e comorbidades são critérios para definir quem terá direito ao leito na UTI. Crédito: Geovana Albuquerque/Agência Saúde

“Aumentou bastante o número de vagas de UTI, mas não aumentou o tamanho das emergências de porta de entrada. Continuo com uma quantidade de leitos bem parecida com a de antes da pandemia. Então manejar essa quantidade de pacientes é difícil. Houve plantão em que eu não tinha mais ventilador para colocar em paciente que tinha indicação de ser intubado”, descreve.

A mesma profissional da linha de frente também comenta sobre a alta demanda para as equipes de remoção, igualmente sobrecarregadas: “Hoje já existe uma melhor assistência nas emergências, pois os profissionais estão melhor treinados. Há fisioterapeutas (por exemplo). Nem todas possuem, falo mais das emergências do Recife, o interior e outras cidades próximas ainda estão muito defasadas. Mas nunca vai se comparar à assistência de um leito de UTI, pois, na emergência, a princípio, a gente não tem um número restrito de pacientes. Pacientes graves chegam a todo momento”, detalha outra médica que trabalha em UPA e também pediu para não ser identificada.

Sobre o momento desta “segunda onda”, a médica confirma: “é o pior momento”. “Como nas emergências não há uma estrutura de UTI, muitos pacientes acabam tendo o quadro agravado pela espera desse leito”, explica. “Infelizmente, os plantões da emergência estão um caos. Está bem difícil mesmo”, lamenta.

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AUTOR
Foto Raíssa Ebrahim
Raíssa Ebrahim

Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com