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Com votos do PSB e PT, Câmara Municipal aprova intervalos bíblicos nas escolas do Recife

Parte da bancada governista se aliou à extrema-direita em favor de proposta fundamentalista

Inácio França / 01/09/2025
A foto mostra o plenário da câmara de vereadores em funcionamento. O espaço é amplo, moderno e bem iluminado, com várias mesas individuais organizadas em fileiras, cada uma equipada com microfones e telas. Alguns vereadores estão sentados em suas cadeiras, enquanto outros circulam pelo ambiente. Na parte da frente, em um nível mais elevado, há uma mesa maior onde ficam os membros da mesa diretora, homens e mulheres, acompanhando e conduzindo a sessão. Acima deles, há telas eletrônicas grandes que exibem informações da votação ou da pauta do dia. Ao fundo, no mezanino, estão alguns cidadãos assistindo à sessão.

Crédito: Carlos Lima/Câmara Municipal

A Câmara Municipal do Recife aprovou, em primeira votação nesta segunda-feira, 1.º de setembro, o chamado “intervalo bíblico” nas escolas da rede municipal de ensino. Foram 22 votos a favor e 3 contrários. O projeto do vereador Luiz Eustáquio, filiado ao PSB e integrante da base governista, diz que “os alunos poderão se reunir e professar sua fé no horário de intervalo escolar, sem prejuízo na grade curricular”.

Como o texto é idêntico ao do Projeto de Lei 61/2025, apresentado pelo bolsonarista Thiago Medina (PL), rejeitado por 13 votos a 12 no final do mês de maio, a vereadora Cida Pedrosa (PCdoB) argumentou que a proposta de Eustáquio não poderia ser colocada em votação. Segundo ela, o regimento interno considera como “prejudicada a discussão ou votação de projeto idêntico a outro já aprovado ou rejeitado na mesma sessão legislativa”.

O vice-presidente da Câmara, José Neto, também do PSB, que estava conduzindo a sessão, não acatou a tese de Pedrosa. Apenas ela, Kari Santos (PT) e Jô Cavalcanti (PSOL) votaram contra a proposta. Além dos socialistas, o petista Osmar Ricardo também se posicionou ao lado dos fundamentalistas.

Originalmente, o projeto incluía um artigo, o 2.º, cujo texto determinava que escolas públicas e privadas teriam de desenvolver “atividades extracurriculares ou complementares sobre o respeito à liberdade individual de crença e de culto”. Luiz Eustáquio, no entanto, citou apenas que tais atividades deveriam contemplar “referências dos povos indígenas” e “a tradição judaico-cristã”, ignorando as religiões de matriz africana.

Cida Pedrosa criticou o projeto aprovado: “nós defendemos que o Estado é laico e que a gente não pode estar discutindo isso nas escolas. Mais do que isso, temos receio de que isso sirva apenas para uma religião e não para todas as religiões, tanto que, em plenário, todos os vereadores que defenderam o projeto mencionaram apenas o intervalo bíblico”.

Antes de ser enviado para veto ou sanção do prefeito João Campos (PSB), o projeto de lei deve passar por uma segunda votação na terça-feira, 2 de setembro. Na mesma sessão plenária, os vereadores aprovaram o Dia Municipal de Combate à Cristofobia.

A foto mostra a vereadora Cida Pedrosa falando ao microfone em um ambiente fechado, provavelmente durante uma sessão ou evento oficial. Ela está em pé, com expressão séria, como se estivesse discursando. Usa óculos de aro fino, brincos arredondados claros, um vestido amarelo com bordados florais brancos sob um lenço palestino estampado em preto e branco sobre os ombros. O fundo é liso, de madeira clara, destacando ainda mais a figura dela em primeiro plano.

Cida Pedrosa (PCdoB) teme que intervalos sejam usados por apenas uma religião

Crédito: Divulgação

AUTOR
Foto Inácio França
Inácio França

Jornalista e escritor. É o diretor de conteúdo da MZ.