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por Alice Martins Morais. do site Amazônia Vox*
A COP30 entra em sua segunda semana com uma mudança de ritmo. Depois de dias de negociações técnicas, os rascunhos dos textos sobre os diferentes temas da agenda foram entregues até sábado (15) e, a partir de agora, os holofotes se voltam para a arena política: é a vez dos ministros e representantes de alto nível começarem a trabalhar diretamente sobre esses documentos, que devem evoluir ao longo dos próximos dias até chegar às decisões finais.
“Passamos pelo segundo teste hoje, a transição para a segunda semana com trabalho contínuo”, disse a embaixadora Liliam Chagas, numa entrevista coletiva. Os textos que foram encaminhados para conclusão significam que estão tecnicamente maduros o suficiente para entrar na fase política de deliberação, mesmo que apresentem divergências notáveis. O tema principal é a adaptação, onde há diferentes posicionamentos dos países em torno dos chamados indicadores de adaptação. Em linhas gerais, são métricas que têm de ser definidas para acompanhar o progresso de ações para reduzir a exposição e vulnerabilidade aos impactos das mudanças climáticas.
A partir de hoje (17), a presidência da conferência designará ministros responsáveis por conduzir as negociações de alto nível. Os chefes de delegação e ministros de Clima e Meio Ambiente dos países começam a desembarcar em Belém com falas programadas para segunda e terça. Serão cinco dias intensos para tentar fechar os textos finais até sexta-feira (21). Mas, na história das conferências climáticas da ONU, o prazo só foi cumprido de fato seis vezes. Normalmente, extrapola um dia, e por vezes mais.
Na última semana, os países discutiram suas visões sobre três temas principais:
Esses três eixos serão o fio condutor das decisões políticas. Para avançar, será preciso “ter o espírito de mutirão”, disse o presidente da COP, André Corrêa do Lago, considerando que há pendências que ainda exigem forte coordenação entre grupos.
Existem dois roadmaps (mapa do caminho) sendo discutidos simultaneamente. Um deles, o “Baku-Belém to 1,3T,” pretende traçar a rota para que o mundo consiga alcançar 1,3 trilhão de dólares de financiamento aos países em desenvolvimento para o combate às mudanças climáticas. Corrêa do Lago descreveu o último debate sobre esse tema, sábado, como intensivo, construtivo e rico em intervenções. Segundo ele, o roadmap não precisa ser aprovado formalmente, mas é um documento-chave, pois apresentará uma visão consolidada do caminho até 2026.
A avaliação de Corrêa do Lago é a de que a maioria dos elementos levantados pelos negociadores foi atendida. Ainda assim, há consenso de que são necessários mais dados – e, por isso, deve ser criado um grupo de especialistas para apoiar esse processo. A ideia é realizar, já no início de 2026, três reuniões técnicas com especialistas, com a expectativa de produzir um relatório até outubro desse mesmo ano.
Ana Toni relatou que reunião sobre transição de combustíveis ocorreu no sábado
Crédito: Rafa Neddermeyer/COP30
Outro mapa do caminho em andamento visa acelerar a transição de afastamento dos combustíveis fósseis. A iniciativa foi convocada pelo presidente Lula na Cúpula dos Líderes, em 6 e 7 de novembro. É um tema espinhoso. Quando perguntado sobre o avanço desse debate, o presidente da COP30 fez uma careta e brincou: “Eu estava tão feliz em falar sobre o outro roadmap“. Ana Toni, CEO da COP, informou que houve várias reuniões, também no sábado, sobre esse tópico, conduzidas pela Aliança Além do Petróleo e Gás (BOGA) – uma iniciativa liderada por Costa Rica e Dinamarca. “Fica a cargo das partes caso queiram discutir isso nas negociações de outra maneira”, acrescentou.
Com a chegada dos ministros e a pressão do calendário, a segunda semana será decisiva. Os próximos dias definirão se os quase 200 países representados em Belém conseguirão produzir um conjunto de decisões robustas, em mitigação, adaptação, mercados, financiamento e implementação do Acordo de Paris, ou se as divergências levarão os processos a serem empurrados para o futuro.
Outro tema que deve continuar a ocupar espaço nas falas políticas é o da transição justa, que está também avançando em paralelo em eventos da sociedade civil. Para a pró-reitora de Relações Internacionais da Universidade Federal do Pará, Lise Tupiassu, ainda que o debate tenha sido ampliado, a discussão ainda não alcança a profundidade necessária para refletir os desafios concretos da Amazônia: “Esse tema vem sendo abordado e vem atraindo cada vez mais a atenção. Ouso dizer, porém, que ainda está um pouco aquém dos problemas reais do território”, avalia.
Um dos exemplos apontados por Lise Tupiassu é o da pobreza energética da região – onde um milhão de pessoas ainda não têm acesso perene à energia elétrica. “A gente tem uma das regiões que mais produz energia limpa e temos populações amazônicas que dependem de sistemas isolados movidos a combustíveis fósseis. Quando falamos de transição energética, nem sempre temos como foco dar segurança energética às populações mais vulneráveis”, critica. Por isso, a pesquisadora clama pelos negociadores terem uma “visão socioecológica da transição energética” ao tratar do assunto nesta semana.
Esta reportagem foi produzida por Amazônia Vox, por meio da cobertura colaborativa da Casa do Jornalismo Socioambiental da COP 30. Leia a reportagem original aqui.
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