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Como Lula irá se relacionar com Congresso tão direitista caso seja eleito?

Inácio França / 03/10/2022
Imagem da fachada do Congresso Nacional com reflexo da água e o céu em tons de azul e degradê de laranja, ao amanhecer.

Crédito: Pedro França/Agência Senado

Mestra e doutoranda em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e, atualmente, na condição de estudante-visitante na Universidade Vanderbilt, no Tennessee, Lilian Carvalho se dedica a estudar as relações entre os poderes Legislativo e Executivo, a composição e comportamento dos legisladores federais e como se dá a influência de grupos de interesse no Congresso Nacional. Dos Estados Unidos, ela avaliou como o enfraquecimento dos partidos considerados de “centro” e o crescimento da direita e da extrema-direita na Câmara e do Senado poderão afetar um possível governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Para a pesquisadora, “a população não deixou muito fácil para Lula governar, caso ele seja eleito, pois o que se percebe é um resultado muito conservador que saiu das eleições, tanto na câmara alta quanto a baixa, de forma geral”. As forças políticas mais à esquerda da aliança de apoio a Lula precisariam entender que, mesmo em caso de uma nova eleição de Lula, “ele não vai ter carta branca da população brasileira, pois o eleitor está sinalizando que as pautas relacionadas à família, segurança pública e aos costumes também são importantes e precisam ser levadas em consideração”.

Lilian Carvalho. Crédito: Acervo pessoal

Carvalho enxerga, porém, saídas possíveis em caso de um novo governo petista: “se for uma agenda mais objetiva, que trate, talvez, de questões de saúde ou de orçamento, a depender da das trocas que forem feitas, pode ser que o presidente Lula não encontre tantas dificuldades. O jogo está aberto para a gente observar o que é que vai acontecer”.

Ironicamente, isso seria possível graças às características do centrão, grupo que, segundo ela, poderia ser considerado numa categoria que os norte-americanos chamam de swing voters, ou seja, aquele eleitor ou legislador “que tem um voto flutuante e não tem associação particular a ideologia ou partido político específico”.

Uma coisa é certa, segundo ela: “não vai ser fácil negociar, se Lula for eleito vai precisar de muito jogo de cintura”. Mais uma vez, ela faz uma ressalva em relação a essas possíveis dificuldades. “Ao mesmo tempo ,a gente sabe que esse grupo se comporta eh fisiologicamente. Então, a depender da decisão em jogo, pode ser, sim, que o Lula consiga alcançar maiorias e aprovar suas agendas”, afirmou.

Lilian Carvalho explica que “apesar de, quando a gente fala em extrema-direita do ponto de vista ideológico, associa ao centrão, mas não quer dizer necessariamente que eles estão eh no centro ideológico entre esquerda e direita. Eles estão no centro da decisão. Ou seja, se eles concordam, a decisão tem maior chance de aprovação e o contrário também se aplica”.

Os maiores confrontos e obstáculos estariam reservados nas discussões de eventuais agendas relacionadas à segurança pública, pois os grupos eleitos são “interessados na questão da repressão penal maior sobre os crimes, mas não estão muito preocupados com questões ambientais. A questão dos costumes, dos direitos de minorias, mulheres e homossexuais, seria outro ponto fundamental. Então, assim se o Lula tentar uma agenda progressista no sentido dos costumes vai ter maior dificuldade pra passar”.

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AUTOR
Foto Inácio França
Inácio França

Jornalista e escritor. É o diretor de Conteúdo da MZ.