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Crédito: Géssica Amorim/MZ Conteúdo
É num terreno de apenas quatro hectares que o agricultor José Soares, de 60 anos, mais conhecido como Zé de Sofia, cultiva pelo menos 13 variedades de frutas e legumes. Na propriedade, localizada na zona rural do município de Betânia, no sertão do Moxotó, a cerca de 396 quilômetros do Recife, é possível encontrar pés de banana, de manga, mamão, coco, romã, acerola, goiaba, caju, abacaxi, graviola e até culturas ainda mais improváveis para a região, como café e uva.
E isso tudo sem financiamento do governo nem consultoria técnica de organizações não-governamentais.
Zé de Sofia começou a investir nessas culturas há quatro anos, quando voltou de Petrolina, no vale do São Francisco. Há muito tempo, a região se destaca como polo produtor de fruticultura. Por lá, Zé de Sofia morou quase duas décadas e adquiriu conhecimentos que possibilitaram diversificar e aumentar a produção no pedaço de terra que possui no Moxotó.
Na propriedade, Zé instalou um sistema de irrigação por gotejamento que aprendeu a utilizar em um curso de seis meses que fez no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), quando ainda morava em Petrolina. As mangueiras que cruzam todo o seu terreno são chamadas de fitas gotejadoras, elas abastecem o solo na medida necessária, com a água de um poço artesiano cuja vazão é de 5 mil litros por hora. Para fazer a água chegar até as raízes das plantas, o agricultor usa uma bomba submersa, que eleva a pressão da água, fazendo com que ela chegue e se espalhe pela superfície com facilidade e constância.
Ao todo, para fazer a instalação do sistema de irrigação e para iniciar a sua produção, com a compra de mudas e fertilizantes, Zé de Sofia diz ter gastado menos de R$ 10 mil. Ele fez tudo sozinho, desde a instalação da bomba, passando pela marcação dos pontos para estruturar e ligar as fitas gotejadoras, até a plantação e manutenção das mudas.
A terra de Zé dá frutos o ano inteiro. O agricultor ousou plantar e cultivar tipos de frutas e hortaliças cujas plantações são pouco comuns no lugar onde vive. Os agricultores vizinhos, por falta de conhecimentos específicos, recursos, incentivo, ou apenas por vontade, optam por culturas sazonais, como feijão, mandioca e milho, dependendo do tempo e da chuva. “No começo, o pessoal me chamava de doido, eu não tinha o apoio de quase ninguém. fui começando devagar, comprar as coisas aos poucos e fui experimentando, pra ver o que dava na terra. Tudo o que eu testei, deu”, conta seu Zé.
É importante dizer que o tipo de conhecimento e as ações que Zé de Sofia adquiriu e desenvolve facilitariam a vida e a produção de muitos outros agricultores que poderiam se alimentar e até mesmo vender o que é possível produzir em suas terras. Apesar de ter sucesso com a sua plantação, Zé, como outros produtores da região, ainda não conta com o apoio e incentivo diretos por parte de instituições que invistam em tecnologia de campo e na difusão de informações técnicas para o manejo correto e saudável da terra.
O agricultor ainda não produz alimentos orgânicos nem utiliza as técnicas da agroecologia. As uvas, por exemplo, necessitam de aplicação de fertilizantes químicos. Mas ele pretende que esse seja seu próximo passo.
Para isso, é necessário que ele se conecte a propostas que incentivem e facilitem a troca de conhecimentos entre quem domina técnicas mais saudáveis de cultivo e os pequenos produtores, a exemplo da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). Esta rede é formada por mais de três mil organizações que difundem e põem em prática políticas públicas de convivência com o semiárido em 10 estados que integram a região (do norte de Minas Gerais ao sul e leste do Maranhão), conectando pessoas que defendem os direitos e interesses de comunidades e moradores da região.
O principal foco de atuação da ASA é o estoque de água, a agroecologia e a distribuição de sementes e orientação para plantios. Seu programa de maior visibilidade é o P1MC, ou Programa 1 milhão de Cisternas, que garante o acesso a água de qualidade a moradores do semiárido, através da construção de cisternas com placas de cimento, ao lado das casas de famílias que vivem na zona rural da região, para captar e reaproveitar a água das chuvas.
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