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Para marcar o aniversário de 208 anos de Maceió, celebrado nesta terça-feira (5), a prefeitura da capital alagoana lançou um vídeo institucional falando da importância da data, mas destacando que as comemorações ficarão para depois “porque esse talvez seja um dos aniversários mais difíceis da nossa história”. O vídeo, esteticamente bem-feito, mostra o prefeito João Henrique Caldas (que aparece em cerca de um terço da peça publicitária) arregaçando as mangas e trabalhando para “construir um futuro melhor para todos nós”. Mas, por volta dos 30 segundos do material, a locutora usa o termo “acidente causado pela Braskem” para se referir ao afundamento de parte da cidade, o que causou desconforto e indignação em muita gente, sentimento expressado, principalmente, nas redes sociais.
O uso ou omissão de palavras, bem como a escolha de eufemismos e expressões mais amenas para classificar situações de extrema gravidade é uma decisão editorial quando se trata de meios de comunicação, mas, no caso em questão, é uma decisão política. A sensação que muitas pessoas expressaram nas redes é de que o poder público está aliado à Braskem. Sensação semelhante ao que a equipe da Redação Nordeste ouviu nas ruas, das pessoas diretamente afetadas pela tragédia, que preferem usar “crime” em vez de “acidente”.
Mas será que a comunicação oficial está “escondendo” a Braskem? A Redação Nordeste analisou as reportagens, notas e comunicados publicados no site da prefeitura desde as 21h40 do dia 28 de novembro, quando a Defesa Civil do município publicou nota afirmando que “em decorrência dos últimos sismos no Mutange, ocorridos em áreas já desocupadas, a Defesa Civil de Maceió informa que intensificou o monitoramento em todo local”. Para selecionar os textos analisados, foi aplicado um filtro com o termo “Secretaria Adjunta Especial de Defesa Civil (Defesa Civil)”, que já consta no próprio sistema de busca do site da prefeitura. O filtro foi usado para que apenas matérias relacionadas diretamente com o tema fossem verificadas.
Do dia 28 até a noite da segunda-feira (4), foram postados 26 textos com esse recorte. Tudo isso resultou em 5.215 palavras, incluindo os títulos das reportagens. Só 24 delas eram “Braskem”. Quase a mesma quantidade do que “CSA” (20 vezes) ou “JHC” (20 vezes também). Defesa Civil (70 vezes), Maceió (67) e mina (55) lideram o ranking das mais citadas. Para fazer a contagem foi usada a ferramenta WordArt, que gerou a nuvem de palavras que ilustra esta reportagem.
Dos 26 conteúdos analisados, 11 deles são as “Notas da Defesa Civil de Maceió”, textos informando a população, de maneira geral, sobre a extensão do afundamento, locais de riscos e instruções de segurança. Nestes textos, o nome Braskem não é citado uma única vez. É como se ela não tivesse nada com a história e tudo não passasse de um “acidente”.
Na rede social X, o antigo twitter, os informes oficiais do prefeito de Maceió, JHC (PL) não são diferentes. Desde o dia 28 de novembro até esta terça-feira, dia 5 de dezembro, foram 18 tuítes publicados. Destes, oito são versos bíblicos postados pelo gestor. Outros 10 se referem ao crime da mineradora, mas só 3 trazem a palavra Braskem. Confira alguns dos tuítes:
Devido ao risco de colapso de uma mina no Mutange, decretei estado de emergência por 180 dias em Maceió.
As equipes de todas as secretarias estão unidas e prontas para agir com ações emergenciais.Estamos em alerta para preservar vidas e garantir a segurança de todos.
— JHC (@jhcdopovo) November 29, 2023
Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo. ⁰
Bom dia! 🙏
Salmos 23:4— JHC (@jhcdopovo) November 29, 2023
Com o agravamento dos tremores de terra e risco iminente de afundamento de uma mina no Mutange, determinei a criação de um Gabinete de Crise, que vou comandar com profissionais de diferentes áreas, para coordenar a situação, preservar vidas e garantir a segurança de todos.
— JHC (@jhcdopovo) November 29, 2023
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