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Crédito: Arnaldo Sete/MZ Conteúdo
Finalmente começou hoje (20) a retirada dos animais do mini zoológico do Parque 13 de Maio, no centro do Recife. A saída dos animais foi dividida em três etapas. Na manhã de hoje, a Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), em parceria com a Prefeitura do Recife e apoio do Ibama, retirou 48 aves que foram enviadas para uma primeira avaliação no Centro de Triagem de Animais Silvestres – Cetras Tangará, na Mumbeca, em Camaragibe.
A previsão é que todos os animais sejam transferidos até o dia 15 de novembro. Na ação desta sexta-feira, foram retiradas 12 araras-canindé, 30 rolinhas-cinza, duas rolinhas-caldo-de-feijão, duas patativas, um tiziu e uma siriema.
O presidente da CPRH, José Anchieta, informou que as aves retiradas, após a avaliação inicial no Cetras Tangará, deverão ser encaminhadas para a Obra de Maria, em São Lourenço da Mata, que tem tanto espaço de mata quanto gaiolas. Os demais animais também deverão ir para instituições parceiras, já que, pelo tempo em que passaram em cativeiro, a adaptação à natureza é difícil. “O parque não tinha condições de abrigar esses animais. Não só pela poluição sonora, mas pelo contato próximo e constante com as pessoas e a possibilidade de proliferação de doenças. Vamos tentar devolver o maior número possível de animais à natureza, mas sabemos que só alguns poucos irão ser soltos, passaram muito tempo em cativeiro”, explicou Anchieta.
O Ibama participou da articulação para que os animais saíssem dali e também da operação, com o apoio de viaturas e técnicos. De acordo com nota oficial do Ibama, a ação é um desdobramento direto do Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre o Ibama em Pernambuco e a CPRH, focado em espécies da fauna silvestre e em projetos de reabilitação e soltura de animais. Em nota, o superintendente da instituição federal em Pernambuco, Daniel Galvão, enfatizou a importância da ação, pois corrige um passivo histórico, que é a permanência de animais silvestres em ambientes inadequados, principalmente pelo fato do parque está situado em um centro urbano, com poluição ambiental e sonora.
À disponibilidade do Ibama e da CPRH se juntou uma inédita abertura da prefeitura para retirada dos animais. Isso se deve a um projeto para requalificação do Parque 13 de maio que estaria em processo de elaboração. Outro fator que contribuiu foi a recente aprovação na Câmara de Vereadores, por unanimidade, de um requerimento da vereadora Aline Mariano (PP) para que a prefeitura mudasse os animais de local. E, principalmente, à luta histórica de defensores e ativistas da causa animal.
A ativista e ex-vereadora do Recife Goretti Queiroz lembra que foram muitos anos de protestos. “Há pelo menos 12 anos estamos na batalha para tentar tirar os animais de lá. Atribuo a retirada agora à persistência das pessoas que apoiam a causa animal e também a algumas leis. Em 2011, conseguimos uma lei estadual do ex-deputado Daniel Coelho, proibindo zoológicos em parques e praças. Depois, em 2017, na gestão de Geraldo Júlio, conseguimos uma lei municipal, do ex-vereador Wanderson Florêncio”, contou.
Em ambas as leis, porém, o Parque 13 de Maio entrou como exceção. O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) também considerou, em 2017, que o minizoológico era adequado, apesar da reclamação dos ativistas. Em maio deste ano a Marco Zero fez uma reportagem sobre o espaço e a prefeitura afirmou, em nota, que “não há qualquer diretriz no sentido de retirar os animais do Parque, até mesmo porque o espaço é fiscalizado pela CPRH e Promotoria do Meio Ambiente do MPPE”.
“O pessoal da Emlurb sempre rejeitou o fim do zoológico dizendo que os animais eram bem tratados lá. Nunca negamos isso: havia veterinário, biólogo, alimentação adequada e limpeza. Mas os frequentadores davam comidas ao parque e havia barulho, com protestos e até shows de rock. Era muito estresse noturno”, diz Goretti. “Acredito também que, nós da causa animal, conseguimos sensibilizar o prefeito João Campos e a vice-prefeita Isabella de Roldão, que é vegetariana e apoia os animais”.
Para o ativista Manoel Tabosa, integrante da Associação de Defesa de Meio Ambiente de Pernambuco (Adema-PE), a comemoração pela retirada dos animais tem um gosto amargo. “É vergonhoso para os órgãos ambientais do estado e do município terem permitido por tanto tempo que animais silvestres ficassem naquelas condições. A mudança era para ter acontecido há muitos anos. A saída deles agora é uma dívida que a gente tem com esses animais silvestres que está pagando de forma muito atrasada”, diz.
Tabosa informou que vai criar com outros ativistas e defensores dos animais uma comissão para acompanhar a reabilitação dos animais retirados. “Muitos nunca irão conseguir voltar para a natureza. Outros vão precisar de pelo menos dois anos de reabilitação. Não é um processo fácil, nem barato, vão ter que ter um tratamento muito especializado. Inclusive, há espécies que não são de Pernambuco, como as araras-canindé. Para serem reabilitadas na natureza, precisam no mínimo ir para os estados de origem”, diz.
Nas redes sociais, o casal formado pelo deputado Romero Albuquerque e pela vereadora e secretária dos Direitos dos Animais do Recife Andreza Romero se colocaram como protagonistas pelo fim do zoológico. “Há muito tempo estamos na linha de frente dessa luta, que somente agora, com o trabalho de Andreza na Secretaria dos Direitos dos Animais, chegou à vitória”, afirmou o deputado, em comunicado à imprensa. Para os ativistas, porém, a história é outra.
“Cada um diz que é o pai dessa vitória. Douglas Britto [um influencer] também diz que é, mas ele nem era da causa animal em 2011, quando estávamos brigando pelos animais do parque. Nem ele, nem Romero. Cada um acha que conquistou, mas foi uma luta coletiva. É uma vitória dos animais”, disse Goretti.
Tabosa também relembra a história de luta pelo fim do zoológico. “Em 2014 quando nós fomos ao MPPE e provocamos várias reuniões, a participação de Romero Albuquerque como vereador foi zero, uma vergonha. Agora, quando finalmente vai ocorrer a retirada, vai parecer um monte de pai, dono da situação, para dizer que lutou”, reclama Tabosa. “Mas eu fico muito feliz que nossa luta não foi em vão, apesar do resultado ter vindo muito, muito tarde”.
O Parque 13 de maio foi inaugurado em 1939, mas o minizoo foi incluído nas reformas feitas entre 1973 e 1976.
Animais do Parque Treze de Maio:
Animais retirados hoje:
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Jornalista pela UFPE. Fez carreira no Diario de Pernambuco, onde foi de estagiária a editora do site, com passagem pelo caderno de cultura. Contribuiu para veículos como Correio Braziliense, O Globo e Revista Continente. Contato: carolsantos@marcozero.org