Edilson erra ao dizer que alunos da rede municipal não têm educação física
“Por que as crianças do Recife hoje, do ensino fundamental, não têm direito a ter educação física? […] Não têm porque o prefeito fez a opção de dizer o seguinte: ‘as nossas crianças não precisam praticar educação física’. É um absurdo que estamos denunciando aqui.”– Edilson Silva (PSOL), em entrevista ao telejornal TV Jornal Meio-Dia, em 22 de agosto
A denúncia feita por Edilson Silva, por si só polêmica, acabou ganhando ainda mais repercussão porque o Ministério da Educação divulgou, logo depois da declaração do candidato do PSOL, a Medida Provisória que retirava a obrigatoriedade no currículo do ensino médio de disciplinas como artes, filosofia, sociologia e a própria educação física.
Procurada pela equipe do Truco Eleições 2016, – projeto de fact-checking da Agência Pública, feito em parceria com a Marco Zero Conteúdono Recife –, a assessoria do candidato disse que a informação usada por Edilson foi levantada junto ao Conselho Regional de Educação Física e ao Sindicato dos Professores do Recife (Simpere). Depois de checar a afirmação com as fontes citadas pela assessoria e com os dados do Portal da Educação da Prefeitura do Recife, o Truco chegou à conclusão de que a declaração está errada. Portanto, recebe a carta “Blefe”.
Tanto o Conselho de Educação Física quanto o Simpere fazem duras críticas à maneira como a atual gestão vem tratando a prática da educação física nas escolas da rede municipal. O primeiro ponto questionado pelas duas entidades diz respeito ao Ofício Circular nº 122/2015, da Secretaria de Educação do Recife, que informa que os professores do 1º ao 5º ano (não formados em educação física) serão os responsáveis por ministrar e avaliar as aulas da disciplina.
Para as duas entidades, a decisão da Prefeitura do Recife desrespeita os professores ao exigir que cumpram com uma atribuição para qual não estão preparados. O assunto acabou, inclusive, sendo tema de uma audiência pública na Câmara dos Vereadores do Recife. Durante o evento, a representante do Conselho Regional de Educação Física da 12ª Região, Nadja Regueira Harrop, chegou a afirmar que a educação física é uma obrigação do currículo fundamental e essencial ao ensinamento e que a entidade queria a revogação da determinação. Para ela, a Prefeitura do Recife está usurpando o direito de uma classe regulamentada.
O outro ponto questionado pelas entidades diz respeito às condições de trabalho dos professores de Educação Física. Segundo dados apresentados pelo Conselho Regional de Educação Física, menos de 10% das escolas municipais têm espaço físico para as crianças se movimentarem e apenas 5% têm quadras para atividades físicas.
Apesar das críticas, nem o Simpere nem o Conselho informaram que as aulas de educação física estão suspensas e reconhecem que elas acontecem mesmo que em condições “precárias”. No documento “Política de Ensino da Rede Municipal”, disponível no Portal da Educação do Recife, também consta que as aulas de educação física continuam fazendo parte do currículo dos alunos do ensino fundamental da rede municipal.
Sérgio Miguel Buarque é Coordenador Executivo da Marco Zero Conteúdo. Formado em jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco, trabalhou no Diario de Pernambuco entre 1998 e 2014. Começou a carreira como repórter da editoria de Esportes onde, em 2002, passou a ser editor-assistente. Ocupou ainda os cargos de editor-executivo (2007 a 2014) e de editor de Política (2004 a 2007). Em 2011, concluiu o curso Master em Jornalismo Digital pelo Instituto Internacional de Ciências Sociais.
