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A vereadora do Recife missionária Michele Collins (PP) quer desafiar as leis da física e ocupar dois lugares no espaço ao mesmo tempo. Mas a tendência é que o próprio partido não compre a manobra negacionista. Ela assumiu o cargo de deputada federal, na última quarta-feira (3), com a licença de Clarissa Tércio (PP), pré-candidata a prefeita de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana. À Casa José Mariano, Michele solicitou 120 dias de licença, deixando o assento vago — o regimento interno e a Constituição Federal estabelecem que o suplente só ocupa o cargo em afastamentos superiores a esse prazo.
Acontece que parte do PP entrou na briga para que o suplente Amaro Cipriano, conhecido como Maguari, assuma a cadeira. Para isso, está usando um atestado médico de Michele para turbinar essa conta. Ela deu entrada num hospital em Brasília no domingo (30) e recebeu três dias de licença, ultrapassando, portanto, os 120 dias — a Marco Zero teve acesso ao atestado. Com base nessa alegação, o diretório estadual do PP requereu a nomeação de Maguari.
A manobra dela, segundo os bastidores, seria para impedir que ele venha a usar a estrutura do gabinete durante a campanha. Vereador da cidade por duas vezes, Maguari — que, até 2020, estava no PSB — quer voltar à Câmara Municipal e já está com a pré-candidatura na rua.
Um dos focos da missionária este ano, que ainda pode ser lançada pelo partido como pré-candidata à prefeita, é eleger o filho mais novo, fruto do casamento com o deputado estadual pastor Cleiton Collins (PP), o jovem Alef Collins. Ela desistiu de disputar a reeleição para apoiá-lo. Alef é estudante de Direito e presidente da juventude do partido em Pernambuco. Tem passe livre em todas as agendas dos pais e acompanha o casal circulando quase que diariamente na Câmara do Recife ou na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).
Suas pautas também são herdadas: é “defensor da família, da vida e contra as drogas”. Entre a igreja, a comunidade terapêutica da família, chamada Saravida (uma das mais estruturadas de Pernambuco), as casas legislativas e as ruas, a campanha de Alef quer conquistar o eleitorado evangélico para que ele assuma o papel político desempenhado pela mãe. A reportagem procurou Michele, mas não obteve retorno da equipe dela.
Em conversa com a MZ, Maguari tentou não colocar lenha na fogueira. Disse que a questão, que chamou de “imbróglio”, está sendo resolvida pelo partido e que aguarda a posicionamento oficial do presidente da Casa, Romerinho Jatobá (PSB). “Estou aqui na minha retaguarda. Estou em campanha, fazendo o porta a porta, explicando a importância do meu retorno à Câmara”, afirmou.
Romerinho explicou à reportagem que “uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou que estados e municípios também precisam seguir essa regra da Constituição, o que significa que eles não podem chamar suplentes para substituir um político por um período de licença igual ou inferior a 120 dias”. Sobre o requerimento do PP para que Maguari assuma, ele falou que “está seguindo os trâmites internos que resultarão em sua apreciação e resposta em tempo hábil”. A MZ também perguntou como fica o uso da estrutura de gabinete caso Maguari assuma a cadeira e caso ele não assuma. O presidente disse que esse tema “está sendo objeto de análise”.
Na tarde de sábado (6), a assessoria de Michele Collins enviou o posicionamento da vereadora e deputada federal em exercício: “Não é verdade quando dizem que tentei impedir que Amaro Cipriano, Maguari, assuma a suplência na Câmara do Recife. Fiz a minha parte, tirei licença sem remuneração, sem custo nenhum para a Câmara, como tantos outros vereadores de todo o país que estiveram e estão em Brasília como deputados federais temporários. É de direito o suplente requerer esse espaço. Maguari é uma pessoa que considero muito e temos muito respeito um pelo outro. Já estivemos juntos em outras legislaturas, somos colegas de partido e nossa bancada sempre foi unida, todos os passos são feitos em consonância com a unidade. Tentam nos perseguir politicamente, mas espero que ele assuma o mais rápido possível”.
Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com