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Crédito: André Corte Real/Fragoso Resiste
O Movimento Fragoso Resiste, com apoio de parlamentares, pesquisadores e acadêmicos, quer aprovar um novo projeto para o rio, o Parque Linear do Fragoso. O chamado “rio de Olinda” é alvo, há anos, de obras com baixo potencial de transformação. E pior: que não irão resolver os problemas históricos de inundações e alagamentos, como já mostraram especialistas. Enquanto isso, a lentidão e ineficiência do poder público tira, literalmente, o sono da população quando chove.
Ano após ano, o noticiário se repete, mostrando famílias que perderam móveis e eletrodomésticos, tiveram casas danificadas e imóveis desvalorizados por conta da água. Quando o nível sobe, é preciso sair às pressas. Muitas casas e apartamentos são financiados pela Caixa Econômica e os proprietários viram, nos últimos anos, o sonho do imóvel próprio se transformar em pesadelo enquanto as parcelas chegam todo mês.
A Companhia Estadual de Habitação e Obras (Cehab) e a Prefeitura de Olinda iniciaram a execução das obras de intervenção e requalificação do Fragoso em 2013. A promessa era entregá-las em 2016. Porém, até agora, os trabalhos não foram concluídos. Com uma lógica da década de 1970, que já é condenada em muitos locais do Brasil e no exterior, o projeto público existente prioriza as estruturas de concreto e não dialoga com a realidade socioambiental da área.
O Fragoso Resiste, formado em 2020, então, está lutando para aprovar um novo projeto que prevê a criação de um parque linear às margens do rio. Nesta sexta-feira, 20 de agosto, houve uma apresentação com dabate em audiência pública virtual da Comissão de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), puxada pela deputada Teresa Leitão (PT) e pelo deputado João Paulo (PCdoB).
Em 2016, parte do grupo socialmente articulado já havia apresentado o projeto de um parque na Alepe, o Parque Jardim Atlântico. Mas agora, com base em estudos acadêmicos, a proposta cresceu e quer abarcar as duas margens do rio, ao longo de dois quilômetros, com equipamentos urbanos, a exemplo de quadras, campos, píer, mirante, bancos, pista de cooper, pistas de patinação e de bike, além de arborização.
Entre as principais propostas, estão elevação das cotas das vias automotivas à margem do rio; estabelecimento das áreas da margem do Fragoso como margem expandida; desapropriação das construções existentes à margem do rio (como antes prevista); implantação do Parque Linear do Fragoso nas margens expandidas, funcionando como corredor ecológico e servindo para macrodrenagem da bacia hidrográfica.
“Queremos a reformulação da proposta de intervenção urbana para o rio considerando aspectos socioambientais”, explicou o ambientalista e morador Alexandre Moura na audiência, pressionando pela criação de um grupo de trabalho voltado para discutir a proposta com os órgãos públicos e os poderes legislativos estadual e municipal.
Ele frisa que é preciso tratar o Fragoso como um rio, e não como um canal – e que isso, inclusive, tem rebatimentos jurídicos, como, por exemplo, a inserção no Código Florestal. “Há uma tendência, na Região Metropolitana, de transformar rios em canais, como acontece também com o Jordão”, exemplifica, tecendo a crítica. A proposta do movimento é de mais baixo custo do que a tradicional obra de intervenção, que prevê revestimento do fundo do rio com concreto.
Alexandre destaca ainda que, apesar da urbanização avançada, o rio tem aspectos bastante relevantes de conservação que precisam fazer parte do ecossistema, com diversas espécies de peixes, aves, répteis, insetos e mamíferos, além da vegetação, com espécies nativas.
O professor de engenharia e coordenador do Grupo de Recursos Hídricos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Jaime Cabral, destacou, durante o encontro, que, por ser muito baixa, a região vai continuar com dificuldades em alguns pontos quando ocorrerem chuvas mais intensas. Mas é possível mitigar a situação. Como exemplo, ele cita a criação de bacias de retenção com a lagoa do Fragoso. Jaime lembrou ainda o projeto de drenagem das ruas laterais, em desenvolvimento na Cehab.
Os alunos de arquitetura e urbanismo da Faculdade de Olinda (Focca), com supervisão e orientação do professor Alexandre Ramos, da Associação Águas do Nordeste (ANE), construíram um esboço de um projeto de parque linear para a área. “É preciso pensar ações maiores do que somente a canalização”, pontuou. O professor mostrou o exemplo de Madri, na Espanha, que está retirando faixa de veículos e substituindo o concreto pela renaturalização das margens. O especialista também cita o exemplo da vitória pela mudança do projeto para o rio Capibaribe, na zona norte do Recife, após mobilização popular.
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Vencedora do Prêmio Cristina Tavares com a cobertura do vazamento do petróleo, é jornalista profissional há 12 anos, com foco nos temas de economia, direitos humanos e questões socioambientais. Formada pela UFPE, foi trainee no Estadão, repórter no Jornal do Commercio e editora do PorAqui (startup de jornalismo hiperlocal do Porto Digital). Também foi fellowship da Thomson Reuters Foundation e bolsista do Instituto ClimaInfo. Já colaborou com Agência Pública, Le Monde Diplomatique Brasil, Gênero e Número e Trovão Mídia (podcast). Vamos conversar? raissa.ebrahim@gmail.com