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Emissões de metano continuam subindo no mundo, mostra estudo

Marco Zero Conteúdo / 18/11/2025

Crédito: Erico Junior Morais/Pixabay

por Cristiane Prizibisczki, do site ((o))eco

As emissões de metano continuam a crescer no nível global, a despeito do compromisso firmado em 2021 por nações de todo o mundo, se comprometendo a reduzir em 30% a poluição pelo gás até o final da década. Isso é o que mostra um estudo divulgado na tarde desta segunda-feira (17) pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a Coalizão para o Clima e o Ar Limpo (CCAC).

O Relatório Global sobre o Status do Metano alerta para a necessidade de implementação de medidas de controle das emissões do gás. Somente isso poderá fechar a lacuna para atingir o Compromisso Global do Metano, acordo internacional lançado durante a Conferência do Clima de Glasgow e assinado por 159 países, diz o documento.

O metano é um gás de efeito estufa de vida curta na atmosfera (entre 10 e 20 anos), mas com potencial de aquecimento global 28 vezes superior ao do CO2 em um período de cem anos. No nível global, os países do G20 respondem por 63% das emissões de metano por ações provocadas pelo homem, segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA). 

Mas é também nas nações mais poderosas do planeta que está a maior fatia do potencial global de mitigação deste potente gás de efeito estufa: 72%, mostra o relatório divulgado nesta segunda-feira pela UNEP. “Medições mais robustas, melhor reporte e mais financiamento são essenciais para acompanhar o progresso, direcionar as principais fontes e fechar a lacuna de investimentos”, diz a agência da ONU para o Meio Ambiente.

O controle das emissões de metano pode evitar mais de 180 mil mortes prematuras e 19 milhões de toneladas de perdas de safras por ano até 2030, mostra o estudo da UNEP.

Metano no Brasil

O Brasil é o quinto maior emissor de CH4 do mundo, atrás da China, Estados Unidos, Índia e Rússia. Segundo o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, em 2023 – dado mais recente – o Brasil emitiu 21,1 milhões de toneladas de metano, sendo que 75% delas são provenientes das atividades do agro, majoritariamente a pecuária.

A fermentação entérica do rebanho brasileiro, chamado “arroto do boi”, emitiu em 2023 mais do que todos os gases de efeito estufa emitidos pela Itália no mesmo ano, mostrou o SEEG. O sistema revelou também que desde 2005 as emissões do gás vêm subindo. Entre 2005 e 2024, o aumento foi de 7,2% (de 19,6 MtCH4 para 21,1 MtCH4).

O Brasil possui o segundo maior rebanho bovino do mundo e lidera as exportações de carne. Apenas entre 2020 e 2023 o número de cabeças de gado aumentou de 218, 2 milhões para 238,6 milhões, de acordo com dados do IBGE.

Segundo Renata Potenza, especialistas em Políticas Climáticas e Metodologias de Carbono Agropecuário no Imaflora, o Brasil não tem leis brasileiras específicas para o metano, mas algumas políticas públicas já existentes, como o Plano Clima (ainda em construção) e o Plano de Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC+), tentam endereçar a agenda da redução das emissões deste gás.

O problema, explica ela, é a forma como o assunto aparece nesses documentos. “Eu acho que essa questão do metano está muito tímida ainda no Plano Clima e nessas políticas climáticas que a gente tem no Brasil. Nós não precisamos reinventar a roda, mas pegar essas políticas e aumentar a ambição, para que realmente tenham um endereçamento focado na redução das emissões de metano”, diz.

De acordo com Potenza, já existem tecnologias disponíveis para reduzir a emissão de metano. Redução da idade do abate e recuperação de pastagens degradadas são exemplos de ações que auxiliam na redução da emissão do gás, direta ou indiretamente.

O problema, diz ela, é tirar os compromissos e tecnologias do papel e levá-las até o produtor rural. “A gente tem visto que o tema é ainda desconhecido, que precisa ser trabalhado. A agenda do metano, por si só, não convence o produtor a mudar. Então temos que levar esse conhecimento, precisamos criar uma narrativa de que a redução das emissões de metano também vai levar a uma maior produtividade. Esta é uma agenda ainda inicial, que ainda não chegou no campo de uma forma efetiva”, explica.

Esta reportagem foi produzida por ((o))eco, por meio da cobertura colaborativa da Casa do Jornalismo Socioambiental da COP 30. Leia a reportagem original aqui.

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