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Empresa que afundou Maceió causa indignação ao lançar edital “Projetos que Transformam”

No site do edital, Braskem parece esquecer do problema que causou

Marco Zero Conteúdo / 08/05/2024
A imagem mostra uma rua asfaltada vazia durante o dia, com um céu parcialmente nublado acima. À esquerda, há um prédio antigo e desgastado com fios elétricos visíveis. À direita, uma cerca de metal cinza se estende ao longo da calçada, com árvores visíveis por trás dela. No meio da rua, há uma poça d’água refletindo o céu. Além disso, um grande outdoor verde está montado na cerca, contendo texto em branco. O texto no outdoor não é legível na imagem, mas parece estar relacionado ao “Programa de Aceleração do Crescimento - PAC”

Crédito: Inês Campelo/MZ Conteúdo

por Géssika Costa, do portal Olhos Jornalismo

A Braskem, empresa responsável pelo crime ambiental que afundou cinco bairros da capital alagoana e afetou diretamente a vida de 60 mil pessoas que tiveram de deixar suas casas, lançou esta semana a terceira edição do seu edital “social”.

A ação foi apresentada paralelamente ao retorno dos trabalhos da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Braskem, que retornou nesta terça-feira (07), ao plenário do Senado Federal. Vale lembrar que, na agenda dos senadores, estão previstas amanhã (08), visitas às minas de sal-gema e à Central de Monitoramento, em Maceió, além de uma reunião com as procuradoras da República, responsáveis pelas ações relacionadas ao afundamento do solo.

No site oficial do edital, a petroquímica parece esquecer do problema que causou. Nele, a empresa alega que têm o propósito de melhorar a vida das pessoas, criando soluções sustentáveis e defende, ainda, que, atua em linha com os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU para 2030 e que assume novos compromissos com as pessoas e com o planeta.

Esta imagem é um anúncio ou informação visual, predominantemente em tons de azul. No topo, há um texto que diz “3º Edital Braskem PROJETOS QUE TRANSFORMAM”. À esquerda, há mais texto descrevendo os objetivos e compromissos da Braskem com a sustentabilidade e os direitos humanos. Uma imagem de duas pessoas conversando está no centro; seus rostos estão obscurecidos para privacidade. Outras duas imagens menores estão à direita. O título “3º Edital Braskem PROJETOS QUE TRANSFORMAM” está na parte superior em letras brancas. Há um grande bloco de texto à esquerda descrevendo os compromissos da Braskem com a sustentabilidade e os direitos humanos. Uma foto grande no meio mostra duas pessoas conversando; seus rostos são pixelizados para manter a privacidade. Duas imagens circulares menores à direita mostram indivíduos não identificáveis. O fundo é azul com alguns elementos gráficos abstratos. Texto do Bloco à Esquerda: “A Braskem tem como propósito melhorar a vida das pessoas criando soluções sustentáveis por meio da química e do plástico. Em linha com os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU para 2030, assumimos novos compromissos com as pessoas e o planeta. Um desses compromissos está ligado à responsabilidade social e aos direitos humanos, no qual queremos ser reconhecidos como uma empresa que promove os direitos humanos e a equidade em nossa cadeia de valor e contribui para o desenvolvimento local das comunidades com a qual nos relacionamos.”

Site do edital lançado pela Braskem

Crédito: captura de imagem do site da Braskem

“Um desses compromissos está ligado à responsabilidade social e aos direitos humanos, no qual queremos ser reconhecidos pela promoção aos direitos humanos e a equidade em nossa cadeia de valor e contribui para o desenvolvimento local das comunidades com a qual nos relacionamos”, diz o texto.

Moradores e membros da sociedade civil ouvidos pela reportagem doOlhos Jornalismodisseram queo lançamento do edital representa uma afronta a dor e ao trauma vivido pelas famílias e empreendedores dos bairros Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e parte do Farol que tiveram de deixar seus imóveis para trás devido ao crime.

Para a ativista, hacker e fundadora do Observatório do Caso Braskem, Evelyn Gomes, o que a bilionária do setor de plástico lançou pode ser definido como greenwashing – um termo em inglês que pode ser traduzido como “lavagem verde” e é praticado por indústrias públicas ou privadas, organizações não governamentais e até governos. Na prática, uma tática de marketing, para promover discursos, ações e propagandas sustentáveis que, ironicamente, só se sustentam na teoria. 

“É uma óbvia ação de greenwashing. Quando você pensa no nome ‘Projetos que transformam’ – que tem com o propósito de melhorar a vida das pessoas, a gente já cria um paradigma. Porque a gente está falando da empresa responsável e que se assumiu como responsável por tudo que aconteceu”, relembra a hacker, em alusão ao depoimento de Marcelo Arantes, vice-presidente Global de Pessoas, Comunicação, Marketing e Relações com a Imprensa da mineradora que admitiu, em 10 de abril, que a empresa era a culpada pelos problemas relacionados ao processo de instabilidade do solo.

Além dos contrastes, para a ativista, o valor do edital a ser distribuído entre as iniciativas contempladas – que pode chegar até R$50 mil – não é capaz de contribuir significativamente com nenhuma solução de maneira prática, tampouco representar todos os danos causados à cidade.

“Tem outros pontos bem problemáticos: um valor muito baixo, de R$50mil, que a gente sabe que é impossível pagar bons projetos. Esses projetos não vão ter capacidade de solução efetiva. Eles vão ter capacidade de uma solução criativa. Quando a gente vai olhar os ganhos de uma petroquímica, como essa, é um absurdo oferecer esse valor. É só mais uma ação degreenwashing, para tentar limpar o seu nome como uma solucionadora, sendo que, na verdade, ela é uma causadora do problema e não tem como ela seguir os objetivos da ONU, né? Sendo o que é: uma petroquímica que destrói cidades, que danifica o meio ambiente, que não tem segurança efetiva”, pontuou Gomes.

Uma das 60 mil vítimas da Braskem, Luciana Ciríaco, ex-moradora do bairro do Pinheiro, também chama a atenção para a construção da narrativa contraditória da empresa, a partir da apresentação do “Projetos que transformam”.

“É como se houvesse uma preocupação com desenvolvimento sustentável, com o meio ambiente, com problemas socioambientais, enquanto é tudo contraditório, porque ela nunca foi exemplo para questões de cuidados ambientais. São cinco bairros totalmente devastados. Hoje, várias famílias, como a minha, tiveram que deixar suas residências e receber uma indenização que não está de acordo, se contentar com aquilo, na verdade, se conformar”, ressalta a ex-moradora.

A imagem mostra a fachada da Braskem, em Maceió, com um grande pilar azul com um logotipo amarelo e branco, localizado na frente de um prédio baixo. O céu está parcialmente nublado e há algumas árvores visíveis. Um carro branco está estacionado próximo ao pilar, e uma pessoa pode ser vista sentada perto dele.

Atingidos pela tragédia ambiental dizem que empresa faz greenwashing

Crédito: Inês Campelo/MZ Conteúdo

Isadora Padilha, do Instituto Ideal de Desenvolvimento Sustentável em Alagoas, comenta que o edital em questão coloca outros municípios de Alagoas, como Coqueiro Seco e Marechal Deodoro e outros dois estados do país, no mesmo patamar que Maceió, que sofre com as consequências da exploração de sal-gema. “Em nenhum outro lugar, ela causou o que ela causou aqui. E não é qualquer coisa o que ela causou aqui. É o que é considerado hoje o maior desastre socioambiental em curso numa área urbana no mundo. Então, se for olhar os municípios, inclusive, que ela coloca no edital, os alagoanos, são justamente o que fazem parte do Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba (CELMM), que foi afetado pela questão da subsidência e ao afetar, embora a localização precisa diretamente afetada seja em Maceió, afeta a lagoa e o Complexo”, afirma.

Ao lembrar das ações mitigadoras daFundação Renova, entidade responsável pela mobilização para a reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), Padilha destaca a inércia da Braskem para promover atividades que possam amenizar os efeitos dos problemas na capital.

“Em Minas, as ações ambientais, sociais, culturais foram feitas com base na mitigação, com editais específicos para ações em relação aos danos causados. E até agora, aqui em Alagoas, isso não aconteceu. Os valores, inclusive, não são condizentes, e as tendências de mitigação poderiam ser extremamente variadas e amplas, a fim de englobar patrimônio cultural, meio ambiente, mobilidade etc”, argumenta a representante do Instituto Ideal.

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Marco Zero Conteúdo

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