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Ensino de Pernambuco fica com nota abaixo da média nacional no ranking Pisa 2015

Laércio Portela / 06/12/2016

Festejado como o “melhor ensino público do Brasil” pelo governador Paulo Câmara (PSB) e o prefeito Geraldo Julio (PSB) no período eleitoral, Pernambuco ficou abaixo da média nacional no resultado do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa 2015) – da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – divulgado nesta terça-feira (6). Entre os estados, Pernambuco aparece em 18o lugar nas avaliações de Ciências e Matemática e 17o na de Leitura. Oitocentos e quarenta alunos do estado participaram dos testes.

Em todo o país, 23.411 estudantes entre 15 e 16 anos, de 841 escolas, se submeteram às provas. O perfil típico do estudante brasileiro participante foi do sexo feminino (51,5%), matriculado no ensino médio (77,7%) de uma rede de ensino estadual (73,8%), localizada em área urbana (95,4%) e no interior (76,7%). Os testes, aplicados pelo Inep – órgão ligado ao Ministério da Educação -, são realizados a cada três anos.

Pernambuco aparece em 18o lugar no ranking da prova de Matemática do Pisa 2015

Pernambuco aparece em 18o lugar no ranking da prova de Matemática do Pisa 2015

Em Pernambuco, as notas de Matemática pioraram na série histórica. A média passou de 368,3 em 2009 para 363,4 em 2012 e, agora, atingiu o menor patamar, 360 pontos, 17 a menos do que a média nacional. Isso significou uma queda no ranking da 15a colocação para a 19a em 2012 e a recuperação de uma posição (18a) em 2015.

As notas de Leitura e Ciências oscilaram na série e tiveram pequena melhora neste último balanço. Em Leitura, a nota média de 387,7 em 2009 caiu para 376,2 em 2012 para alcançar 394 pontos em 2015, 13 a menos do que a média nacional. Entre 2009 e 2012, o estado caiu fortemente no ranking, da 18a para a 24a posição. Em 2015 ficou em 17o lugar. Em Ciências, a oscilação foi bem parecida. Da 19a posição em 2009 para a 26a em 2012 e, agora, o reposicionamento para a 18a colocação, com 383 pontos, 18 a menos do que a média nacional.

A Marco Zero Conteúdo entrou em contato com a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Educação para comentar e avaliar os dados, mas não obteve um retorno até o momento da publicação deste texto.

Diferença do Ideb

Os resultados apresentados nesta terça são bem diferentes do Ideb divulgado no início de setembro que apontou Pernambuco em primeiro lugar no ranking do ensino médio ao lado de São Paulo. A informação foi explorada à exaustão em propaganda de TV, rádio e jornal pelo Governo do Estado e no guia eleitoral do candidato à reeleição a prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB). O destaque ficou para a manchete de capa do Diario de Pernambuco que comemorava o fato de o estado possuir “o melhor ensino público do pais”.

A manchete do Diário de Pernambuco foi exibida diversas vezes no programa eleitoral de TV do candidato Geraldo Julio (PSB)

Criado em 2007, o Ideb avalia a qualidade do ensino no Brasil com base em dois indicadores: o fluxo escolar (aprovação, reprovação e abandono) e médias de desempenho em provas de português e matemática.

Quando da divulgação do Ideb 2016, a Marco Zero Conteúdo, dentro do projeto Truco Eleições 2016, de checagem das declarações dos candidatos a prefeito do Recife, alertava para o fato de que a nota do ensino médio era insuficiente para dar a Pernambuco o propalado título de “melhor ensino público” do Brasil. Até porque, no ranking do Ideb do 5o ano, o estado aparecia na 18a posição. No Ideb do 9o ano estava na 10a colocação.

A avaliação das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) também não corroborava a tese. Pesquisa realizada em outubro pela Marco Zero na listagem com as notas das mais de 14 mil escolas cujos alunos foram avaliados em todo o Brasil, indicava que só uma unidade de ensino público estadual de Pernambuco estava posicionada entre as 2 mil escolas com as melhores notas do país: a Escola de Aplicação do Recife FCAP/UPE, na 250ª posição. Segundo cálculo realizado pelo site do G1, das 100 melhores escolas de Pernambuco no Enem, apenas quatro eram escolas públicas estaduais.

Pouco a comemorar

Quarenta e quatro por cento dos estudantes brasileiros analisados no Pisa 2015 apresentaram nível de aprendizagem abaixo do que é considerado adequado nas três áreas avaliadas: Matemática, Ciências e Leitura. O que significa que eles não conseguem reconhecer a ideia principal em um texto, entender fórmulas matemáticas e identificar as questões colocadas num experimento simples.

O pior desempenho aconteceu em Matemática, onde 70,25% dos estudantes ficaram abaixo do nível básico de proficiência. Em Ciências, o percentual foi de 56,6% e em Leitura, de 50,9%.

Chama a atenção também nos resultados, a disparidade dos desempenhos entre os estados da federação. A diferença entre a melhor nota (Espírito Santo) e a pior (Alagoas) chega a 79 pontos. Segundo a OCDE, cada 30 pontos equivale a aproximadamente 1 ano letivo completo. O que dá dois anos de déficit aos estudantes alagoanos em comparação com os capixabas.

Ao todo, foram avaliados no Pisa 2015, 70 países, 35 membros da OCDE, que agrega as nações mais ricas do mundo, e 35 países parceiros, entre eles o Brasil.

De um modo geral, a avaliação da educação básica brasileira medida pelo Pisa mostrou uma certa estagnação no último período, sem avanços significativos na média nacional em nenhuma das três áreas avaliadas. Isso se refletiu na queda do pais no ranking mundial: o Brasil ficou na 63a posição geral em Ciências, na 59a em Leitura e na 66a colocação em Matemática.

Veja o relatório completo do Brasil no Pisa 2015

AUTOR
Foto Laércio Portela
Laércio Portela

Co-autor do livro e da série de TV Vulneráveis e dos documentários Bora Ocupar e Território Suape, foi editor de política do Diário de Pernambuco, assessor de comunicação do Ministério da Saúde e secretário-adjunto de imprensa da Presidência da República