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Após 15 anos de espera, a comunidade de Ilha de Mercês, em Ipojuca, vai ver o curso natural do rio Tatuoca reestabelecido. Nesta semana, moradores da ilha e a equipe do Fórum Suape fizeram uma visita de monitoramento à obra e confirmaram as informações que o Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros (Suape) vinha repassando: faltam apenas alguns dias para a desobstrução total da estrada e do dique criados para a construção do Estaleiro Atlântico Sul (EAS).
O serviço iniciado no mês de junho e com previsão para ser concluído em 17 de agosto foi dividido em duas etapas: na primeira, as pedras utilizadas para fazer o acesso estão sendo retiradas do lado de Suape. Depois, o material vai ser retirado do lado do estaleiro.
“Após retirar as pedras, estamos fazendo nessa varredura na lama para ver se não ficou nenhuma pedra. Quando a máquina estiver bem baixa, antes do operador retomar o trabalho, ele vai lá fazer uma varredura completa para se certificar”, afirmou Moacir Rego, engenheiro civil de Suape, aos moradores de Mercês que estiveram no local.
Com caminhões e uma retroescavadeira, a equipe técnica de Suape dá continuidade ao que foi iniciado em 2022, quando a justiça determinou que fossem retirados 31% do acesso para iniciar o processo de recuperação da vida marinha do local. Hoje, a retirada das pedras acontecem até dois metros de profundidade, tomando como referencial a maré “zero”.
Para garantir que o barramento seja totalmente retirado, permitindo que as jangadas e os barcos dos moradores possam passar, um grupo de pescadores irá até o local verificar a profundidade com varas e equipamentos próprios. A expectativa é que, após a conclusão do serviço, a microbacia do rio seja reestabelecida. Quando isso acontecer, pescadores e marisqueiras impactados retomarão o trabalho no manguezal.
“É uma esperança renovada, por muito tempo a gente não acreditou que ia abrir”, afirma Magno Araújo, presidente da Associação Quilombola de Mercês, que esteve presente na visita de monitoramento. Uma das lideranças envolvidas na luta para restabelecer a vida do Rio Tatuoca, Magno relembra os desafios enfrentados por mais de uma década.
“Isso implica diretamente na vida das pessoas. Cada vez que alguém vai pescar, independente se ele tá pegando peixe, aratu, qualquer tipo de crustáceo que seja, e ele volta sem nada, ele deixou de comprar o leite, ele deixou de pagar a energia, ele deixou de ter um conforto em casa. Então, durante 15 anos, a gente tá tendo prejuízos constantes”, reforça.
Apesar da satisfação de ver o barramento retirado, essa foi a primeira vez que a comunidade teve acesso ao serviço realizado por Suape. Magno acredita que, se a visitas estivessem acontecido desde o início, poderiam ter uma visão mais ampla do que está sendo executado pela estatal. “Acredito que a comunidade deve ir cada vez mais vezes naquele mesmo espaço para saber se, de fato, estão fazendo a obra como deveria ser feito”, completa.
O acesso, construído em 2009, para transportar máquinas e materiais para a construção do Estaleiro Atlântico Sul, tinha previsão de ser retirado após um ano. A promessa não foi cumprida, impactando a renda e qualidade de vida das comunidades pesqueiras do entorno do porto de Suape. O caso foi judicializado e, desde então, quase 200 famílias lutam para a retirada do acesso.
Magno reforça que “a comunidade junta foi que conseguiu ter um resultado um pouco maior, porque conseguimos outros atores. A gente teve outros parceiros que vieram para fortalecer a comunidade, porque entendemos que somos muito pequenos, mas quando a gente se junta com muita gente, a gente acaba tendo êxito na luta”.
Jornalista formada pelo Centro Universitário Aeso Barros Melo – UNIAESO. Contato: jeniffer@marcozero.org.